Saúde
Os perigos do vírus da raiva
Iniciativa global da OMS quer erradicar a doença até o ano de 2030
Divulgação -
Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que a cada dez minutos uma pessoa morre pelo vírus da raiva no mundo - 95% delas estão concentradas na África e na Ásia. A doença, transmitida principalmente por morcegos a animais domésticos e posteriormente aos seres humanos, é letal. Em Pelotas a propagação do vírus é controlada e desde 2001 não há incidência em cães ou gatos. No Rio Grande do Sul, onde a criação de gado é uma tradição, o maior problema é na área rural. Na Zona Sul, a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (3ª CRS) indica que 1.866 pessoas procuraram algum posto médico para tratamento antirrábico em 2017, após ataques sofridos principalmente por cachorros. Ainda neste ano, três pessoas morreram vítimas da doença no Brasil, nas regiões Norte e Nordeste. Com uma iniciativa global da OMS para tentar erradicar a doença até 2030, alguns cuidados e prevenções são essenciais, mesmo em regiões onde não exista perigo iminente.
No Rio Grande do Sul desde 1981 não há registro de raiva em humanos. A 3ª CRS indica que, em Pelotas, o último caso foi identificado no mesmo ano. O Estado se encontra em situação controlada para a doença na zona urbana, ficando na área rural os maiores problemas. Nos últimos três anos, 75 casos foram registrados em gados e cavalos. O Ministério da Agricultura presta auxílio aos produtores. No campo, o principal transmissor é o morcego não hematófago, que não se alimenta de sangue. Em animais domésticos, o último caso foi em um gato em 2015, na cidade de Rio Grande. O coordenador da 3ª CRS, Gabriel Andina, explica que neste caso o procedimento padrão foi adotado e todos os animais, de rua e domésticos, em um raio de 300 metros, foram vacinados.
Mesmo com a baixa incidência da doença em território gaúcho, a 3ª CRS e a Secretaria Municipal de Saúde, através do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), alertam para os cuidados. Neste ano, 1.866 pessoas procuraram atendimento antirrábico. O “vilão” número um é o cachorro, responsável pelo ataque a 1.633 pessoas que procuraram auxílio médico. Em seguida está o gato, com 158 casos. O morcego, principal agente a espalhar a raiva entre os animais domésticos, fez dez alvos humanos na cidade em 2017. Segundo Gabriel Andina, a raiva está muito associada ao cão, o que pode fazer com que pessoas atacadas por gatos não procurem o médico. “Fazemos campanhas de conscientização familiar aos perigos também no arranhão de felinos. Como os incidentes com gatos geralmente são domésticos, há menos vacina e mais acompanhamento (dos animais) nos casos”, explica.
No Brasil, a raiva vitimou 595 pessoas nos últimos 27 anos, segundo dados do Ministério da Saúde. De 1990, quando 73 casos foram computados, até 2002 - dez registros -, o país teve crescimento no combate à doença. O último surto aconteceu em 2005, quando 44 pessoas foram vítimas, sendo 24 no estado do Maranhão. De 2005 para cá os números voltaram a cair e nos últimos três anos, apenas sete pessoas foram afetadas - três por ataques de morcego, três por gatos e apenas uma vítima de mordida de cachorro.
Dos 1.866 casos atendidos na região de Pelotas, 396 foram tratados com vacina. Elas são aplicadas apenas quando é impossível fazer o acompanhamento do animal agressor ou quando ele apresenta algum dos sintomas da doença. Ainda que seja uma doença rara no país, a porcentagem de morte nos casos de raiva é de 99,9%. Por isso, a orientação é sempre procurar o atendimento médico quando há mordida ou arranhões de mamíferos. À 3ª CRS, a meta é manter a raiva urbana erradicada na região. “Nosso trabalho é apenas continuar com a rotina bem estabelecida de prevenção.”
Profissão de risco
O carteiro costuma ser um dos profissionais que mais convive com o risco de mordidas de animais. No habitual traje amarelo, é o alvo preferido dos ataques de cães, os “protetores” das residências. O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos aconselha os funcionários a não entrarem nas residências, especialmente aquelas com animais soltos. Entregas a esses domicílios podem, inclusive, ser suspensas. Em casos de mordidas, a recomendação é comunicar o CCZ e receber o tratamento antirrábico adequado. Em algumas profissões, especialmente biólogos e veterinários, a vacinação é obrigatória.
Cuidados preventivos
Professor de Doenças Infecciosas da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Luiz Filipe Schuch, explica que os sinais da doença nos animais domésticos são, essencialmente, a mudança comportamental. Os cães e os gatos sofrem paralisia flácida e passam a ter medo. Assim, a tendência é de isolamento e há a possibilidade de mordida como mecanismo de defesa. “O vírus da raiva é bastante peculiar. Ele tem um tempo de encubação longo e demora em média 30 dias para se manifestar em cães ou gatos. Depois de chegar ao sistema nervoso do animal, o tempo de vida é de no máximo dez dias”, salienta.
Para o professor, o principal perigo de raiva no meio urbano é o morcego não hematófago - que não se alimenta de sangue. Um exemplar portador de raiva perde a orientação e pode ser visto voando com comportamento estranho à luz do dia. Quando morto, em residências ou nas ruas, pode ser ingerido por cães ou até mesmo objeto de caça de gatos. “Morcego caído ou voando desorientadamente, a recomendação é ligar para a CCZ. Caso haja animais domésticos, isolar a área para não haver o contágio”, orienta Schuch.
Nos humanos, os sintomas são semelhantes e a encubação do vírus pode durar dias ou até mesmo anos. Entre os sintomas estão dor de cabeça, febre, confusão mental, desorientação, alucinação e agressividade, segundo informações do Ministério da Saúde.
Pelotas
Desde 2001 não há registro em cães e gatos.
Zona Sul
1.866 pessoas buscaram tratamento antirrábico.
RS
Não há registros de raiva humana nos últimos três anos. 75 casos foram registrados em gado e cavalo.
País
De 1990 até hoje 595 pessoas morreram vítimas da doença. Em 2005 ocorreu o último surto de raiva, vitimando 44 pessoas. Nos últimos três anos a raiva fez sete vítimas - três por ataque de morcego, três por gato e uma por mordida de cachorro.
Mundo
A cada 10 minutos ocorre uma morte no mundo 95% delas estão concentradas na África e na Ásia.
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