Saúde pública
Os reflexos da crise no sistema hospitalar da região
Só nesta sexta-feira, três grávidas de baixo risco acabaram procurando atendimento em Pelotas
Paulo Rossi -
A crise nos hospitais da região repercute em Pelotas e leva insegurança à comunidade. Só nesta sexta-feira (4), três gestantes de baixo risco, moradoras de Canguçu e de Herval, procuraram a rede hospitalar de Pelotas, que não seria referência para darem à luz seus bebês. Apenas um dos casos acabou absorvido. E, enquanto os repasses de verba do Estado não são normalizados nem os salários dos funcionários colocados em dia, cresce a tensão em duas instituições: na Santa Casa de Rio Grande e no Hospital de Caridade de Canguçu.
Em solo rio-grandino, eleva-se a chance de greve, principalmente, entre os enfermeiros. Um ato de protesto na quarta-feira irá reunir trabalhadores em frente ao pronto atendimento da Santa Casa, das 11h às 15h. A expectativa é de que a mobilização unificada ajude a indicar os próximos passos às diferentes categorias.
Até o final da tarde de sexta, a orientação da direção era exatamente a mesma: os atendimentos devem ficar restritos aos quadros de emergência. Entre os pequenos avanços dos últimos dias, destaque à quitação do salário de fevereiro e o pagamento de 34% da folha de março. Seguem em aberto 48% do 13º salário de 2017 e das férias dos últimos dois meses. Sem falar nos salários de abril, prestes a vencer.
"É um cenário complexo, visto que o salário-base é um dos mais baixos da Metade Sul. É uma região que remunera muito mal os profissionais da saúde", afirma o presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul, Estevão Finger. E critica o que enquadra como falta de transparência e de diálogo da administração da Santa Casa.
O secretário de Saúde de Rio Grande, Maicon Lemos, ganhou inclusive a tarefa de intermediar as negociações entre a gestão do hospital e os funcionários. Na terça-feira, às 19h, Lemos cumpre agenda no Ministério da Saúde, em Brasília. Na pauta: a situação da Santa Casa, referência não apenas à população da Zona Sul. Em Cardiologia, por exemplo, a instituição acolhe pacientes até da região de Uruguaiana. Em Oncologia, absorve casos de Bagé.
"A Santa Casa tem uma importância regional nata. Precisamos buscar alternativas", reitera o secretário.
Tratativas para liberar refinanciamento de dívidas e linha de crédito, através do Pró-SUS, estão entre os principais objetivos. Para ajudar a amenizar as dificuldades financeiras, a prefeitura antecipou as parcelas de maio e de junho ao hospital, em um repasse total de R$ 900 mil.
Prioridade máxima
O administrador da Santa Casa de Rio Grande, Régis Pinto e Silva, assegurou que todas as liberações de recursos do Governo do Estado que, eventualmente, ocorram nos próximos dias serão canalizadas ao pagamento dos trabalhadores. Silva também garantiu estar aberto ao diálogo com os diferentes sindicatos, como já teria feito com lideranças de entidades que o procuraram. "Estamos sempre à disposição para poder recebê-los".
Em Canguçu, greve ganhou novas adesões
A semana encerrou com novas adesões na greve de funcionários do Hospital de Caridade de Canguçu, iniciada no dia 26 de abril. Como já estava programado, os enfermeiros juntaram-se ao movimento que busca duas respostas centrais: o pagamento de salários, 13º e férias, além de informações sobre o futuro da instituição. Definições que precisarão ocorrer na próxima semana, quando se encerra o prazo para inscrição de chapas interessadas em assumir o comando do hospital.
Com receio, o caminho foi Pelotas
A jovem de 17 anos admite: com 41 semanas e três dias de gestação, não pensou duas vezes. Veio para Pelotas na manhã desta sexta-feira. Nos últimos dias, a estudante Andriele Ferreira Silva teria procurado o Hospital de Caridade várias vezes, mas recebeu sempre a mesma orientação: deveria voltar para casa. Não estava na hora de ter a primogênita Sofia nos braços.
Com receio de ouvir a mesma afirmação, a moradora do 1º distrito de Canguçu deslocou-se a Pelotas. "Pelo o que as pessoas que estavam de plantão nos disseram, entendemos que podíamos vir para Pelotas, mesmo sendo uma gravidez de baixo risco", explicou a sogra Mariza Fernanda Silveira, 56, ao acompanhá-la, em uma das enfermarias da Maternidade da Santa Casa de Pelotas, onde aguardava pela evolução de contrações e dilatação.
Preocupação
A médica do Sistema de Regulação de Leitos Materno-Infantil da Secretaria de Saúde de Pelotas, Rosângela Soares, vê com preocupação o sentimento de insegurança que se alastra entre gestantes da Zona Sul e provoca peregrinações espontâneas. "É um drama que elas acabam vivendo, em um momento que deveria ser só de alegria. Sequer sabem o lugar certo para ganhar seus bebês", lamenta. Para reduzir o cenário de desinformação, a equipe da Regulação tem procurado estreitar contato com representantes das prefeituras e de médicos das cidades vizinhas.
As outras duas grávidas de baixo risco que procuraram Pelotas nesta sexta, não foram acolhidas. A gestante de Canguçu foi orientada a retornar ao município de origem. A moradora de Herval - que teria o hospital de Jaguarão como referência - acabou dirigida a São Lourenço do Sul. Nenhuma delas estaria em trabalho de parto.
O problema? Além do estresse às grávidas em um momento que deveria ser de tranquilidade, o perigo é a sobrecarga do sistema hospitalar de Pelotas com casos de baixo risco, enquanto os Hospitais Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) e Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) são referências aos quadros de alto risco a toda a Zona Sul; sem contar Rio Grande, que absorve as cidades de Santa Vitória do Palmar, Chuí e São José do Norte.
Pela contratualização, Pelotas só deveria acolher grávidas de baixo risco do próprio município, de Capão do Leão e de Arroio do Padre.
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