Atitude

Otimismo do brasileiro está abaixo da média mundial

Conforme pesquisa, no Brasil, 32% da população acha que 2016 será pior do que 2015, enquanto no mundo esse valor cai pela metade: 16% esperam piora

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         Em função da crise, 2016 deve ser o ano em que o casal encerra as atividades do próprio negócio (Foto: Flávio Neves - DP)

A pesquisa Barômetro Global de Otimismo, realizada pelo Ibope Inteligência, aponta que os brasileiros não estão otimistas. O levantamento mostra que 50% da população brasileira acredita que 2016 será melhor do que 2015. O resultado, entretanto, coloca o otimismo do brasileiro abaixo da média global. Conforme a pesquisa, no Brasil, 32% da população acha que 2016 será pior do que 2015, enquanto no mundo esse valor cai pela metade: 16% esperam piora.

Entre as nações mais pessimistas estão Iraque, Itália e Grécia. O estudo indica que os três países mais otimistas para este ano são Bangladesh, Nigéria e China. O levantamento ouviu 66.040 pessoas em 68 países, entre setembro e dezembro de 2015. No Brasil, foram feitas 2.002 entrevistas.

O empresário Everton Xavier, 42, pensa que o resultado do Ibope é coerente. “Eu acho que vai continuar o mesmo. Sem muita perspectiva de mudança.” Proprietário de restaurante na zona central de Rio Grande, paga um aluguel alto pelo imóvel, e já precisou demitir seis de seus dez funcionários. Há quatro anos, quando abriu o estabelecimento, o cenário era outro - mais clientela, mais demanda, mais lucro.

O aumento de impostos prejudica o negócio. Xavier está em busca de outro tipo de investimento; quer sair do ramo de alimentação. “Não vejo melhora. Não sou pessimista, mas a gente acompanha como as coisas vêm acontecendo”, alega. A companheira, Josiane Nessy, 33, concorda. “A gente trabalha pra pagar conta”, lamenta. Este será, provavelmente, o ano em que o casal fechará o estabelecimento e investirá em novo empreendimento, mais tímido.

O barman Júnior Cruz, 33, também está no time dos pessimistas. Morador do Laranjal, vivenciou os alagamentos de outubro e perdeu algumas noites de sono na incerteza se a água entraria em sua casa. “Esse ano vai ser igual ou pior a 2015”, resume. Descontente com os cenários político e econômico, mostra-se descrente em mudanças. “Mudam só as figuras, mas segue tudo igual”, opina.

Já para a estudante de Administração, da Faculdade Anhanguera, Franciele Nunes, 23, o ano deve ser positivo. “Foi difícil 2015, mas acredito que a crise financeira de alguma forma ajudou a população a organizar melhor as economias”, opina a jovem. Em relação à política, ela afirma ter sido um ano importante para valorizar o próprio voto. “Vou pensar muito antes de votar, em todas as eleições. Pretendo pesquisar os candidatos antes de eleger alguém. Política está muito ‘terra de ninguém’”, analisa.

O coordenador de Pós-Graduação em Controladoria e Finanças, da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Ezequiel Megiato, avalia a questão: “A economia é movida pelas expectativas. Se as expectativas quanto ao futuro são ruins, a indústria não aumenta sua planta, sua produção. A expectativa é subjetiva? Não, de maneira nenhuma. A expectativa é construída, gerada, a partir de fatos concretos, reais.” Para ele, o que vem acontecendo no setor financeiro, por exemplo, responde o motivo de a expectativa ser negativa para o futuro.

De acordo com o especialista, a situação desfavorável da economia combinada com a postura do governo de preocupar-se com a própria estabilidade - ele descreve - não demonstra capacidade de enfrentar a crise de frente, levando, portanto, a população a crer que o futuro pode ser um pouco pior.

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      "Vou pensar muito antes de votar, em todas as eleições" diz Franciele Nunes

Como sair da crise?
“A saída da crise, na minha opinião, passa pela redução de impostos e pela redução do tamanho da máquina governamental, inchada e ineficiente”, conclui o economista.

Na política
De acordo com o cientista político Renato Della Vecchia, é difícil afirmar que 2016 será pior. Por outro lado, “os ingredientes que geraram as crises se mantêm”, sustenta. “Existem dimensões dessa crise que estão no plano internacional, não são possíveis de serem resolvidas apenas na perspectiva interna. Desses fatores, os principais são a crise econômica (que é mundial), e um aumento significativo da intolerância em todas as dimensões (religiosas, étnicas, ideológicas etc). A crise política que vivemos no Brasil também tem ingredientes locais, sendo que considero o principal deles a falta de legitimidade do sistema político, com alto grau de corrupção das instituições e partidos”, argumenta.

Dois lados da moeda. Della Vecchia alega existir um aumento da pressão da sociedade por mais e melhores políticas públicas por um lado, e uma incapacidade do sistema político de dar respostas estruturais (reforma política e tributária; desconcentração de renda; controle social da mídia etc). “Isso leva a um tipo de disputa que tem um forte conteúdo ideológico (papel do Estado; conceito de cidadania etc), mas que não chega a ser percebido pela maioria da sociedade enquanto tal.”

Os problemas mais visíveis até são percebidos, mas não são identificadas as causas e as conexões existentes. “Mais políticas públicas exigem mais investimento, o que remete a quem paga a conta. Ainda: a diminuição da corrupção exige reformas estruturais no sistema político, algo que não foi aprovado no Congresso”, exemplifica o cientista.

“Para que essas questões de fundo não apareçam claramente, busca-se “culpados” dentro de uma visão de intolerância ou os governos passam cada vez mais a usar a repressão como mecanismo de controle social. No entanto, essa demanda da sociedade por mais políticas públicas tende a se manter, o que pressiona por reformas mais profundas que necessariamente teriam de passar por um processo de redistribuição de renda, o que não é aceito pelo capital. Enfim, acho que essa tensão ainda deve aumentar no próximo período”, complementa.

Haja saúde mental
O psicólogo Luciano Souza, professor da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) destaca três formas de classificar eventos e, também, as perguntas que podem ser feitas à situação, antes de pessimismo ou otimismo tomarem as reações.

“A pessoa otimista tende a ver os eventos ruins como temporários, específicos e externos - para ela, nada tem relação direta consigo”, explica. É importante avaliar as modificações ambientais. “É até saudável classificar as coisas ruins e assimilá-las, para poder, então, mudar como pessoa diante do mundo. Lidar com adversidades pode tornar a pessoa mais adaptável.”

É importante cuidar os excessos: “Qualquer exagero é negativo. O pessimismo em excesso pode estar relacionado a patologias, como depressão ou ansiedade, por exemplo, assim como o otimismo em demasia pode ser negação de fatos e também pode estar associado a doenças”, atenta.

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