Nascimento
Outra família denuncia problema na maternidade da Santa Casa de Pelotas
Parto com o uso de fórceps lesionou o bebê que está internado na UTI Neonatal em Bagé; uma comissão interna do hospital investiga os procedimentos adotados e o Ministério Público está averiguando os fatos
Jô Folha -
Uma outra família enfrentou problemas e momentos de pânico no setor de maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas neste final de semana. Rodrigo Candia e a esposa Vanessa Candia, que aguardavam a chegada de Luan Guilherme, precisaram realizar um parto de urgência com o uso de fórceps, equipamento utilizado para forçar a retirada do bebê, o que acabou lesionando a criança.
O pior: um laudo assinado por um neurocirurgião apontou traumatismo craniano e sugeriu a internação em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal. Durante o final de semana, Débora Duarte, de 22 anos, faleceu na Maternidade da Santa Casa após complicações do seu procedimento de cesariana. Os dois casos aconteceram em um intervalo de quatro dias.
Sem leitos disponíveis em Pelotas e em todo o Estado, a Secretaria Municipal da Saúde passou a noite da última segunda-feira em busca de uma vaga em algum hospital gaúcho. Sem a disponibilidade, os pais registraram um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA) da Polícia Civil e buscaram ajuda no Ministério Público (MP).
Na manhã da terça-feira (15), como ainda não havia leitos para internar o bebê, o MP buscou judicialmente esta vaga. A vaga era na Santa Casa de Misericórdia de Bagé, onde a família permanece e Luan é observado de perto.
A ação do MP foi para obter a vaga, explica o promotor Décio Silveira da Mota, plantonista da noite desta segunda-feira (14). Ambos os casos estão sendo averiguados pela promotoria responsável pelo setor da saúde, da promotora Rosely Lopes. Segundo informações, um inquérito pode ser instaurado para analisar os dois casos.
A Secretaria Municipal de Saúde também solicitou informações sobre os dois casos, porém ainda não obteve retorno da instituição. Os familiares de Luan Guilherme também já estão em contato com advogadas para buscar providências jurídicas. O nome é uma homenagem ao jogador gremista Luan. "To gastando o que tenho e o que não tenho pra ver meu filho bem", contou Rodrigo.
A dificuldade de nascer
No registro feito na Polícia Civil, é relatado que o Luan "nasceu com lesões na face e orelha ao lado esquerdo e com TCE (traumatismo cranioencefálico) do lado esquerdo, com hematoma subdural do lado esquerdo e hemorragia subaracnóide traumática" (sic). No documento, é também citada a necessidade de atendimento em uma UTI Neonatal.
Conforme o pai do bebê, Rodrigo Candia, e confirmado pelo vice-provedor, o pediatra João Francisco Neves da Silva, anestesistas não fazem plantão na Santa Casa para realizar uma cesariana, procedimento indicado no caso pela dificuldade de exclusão do bebê. "Meu filho foi tirado na marra e pode ter sequelas pelo resto da vida porque não tinha estrutura adequada no hospital. É um horror o que estão fazendo lá", critica Rodrigo, ainda enfurecido com a situação.
Laudo neurológico
Segundo Neves, a Santa Casa não possui neurocirurgião para fazer uma avaliação profunda da situação. Ainda segundo o vice-provedor, tal exame seria possível realizar-se apenas numa UTI. Conforme Rodrigo, pai de Luan, um laudo foi realizado por um médico de fora da Santa Casa, que atestou o traumatismo cranioencefálico e outras lesões, além de solicitar que a criança fosse internada numa UTI Neonatal. Conforme o laudo, uma tomografia computadorizada chegou a ser realizada no bebê, ainda com 18 horas de vida. No final do documento assinado pelo médico, é orientado o acompanhamento neurológico e um novo exame de imagem em até 24h. No final da tarde desta quarta-feira, Luan permanecia em observação em Bagé. Segundo familiares, o caso é estável mas ainda apresenta riscos.
"Tecnicamente correto"
Conforme o vice-provedor, conhecido como Dr. Neves, o uso do fórceps seria raro e no procedimento foi adotada a técnica correta. "Fizemos o que tecnicamente deveria ser feito. A criança saiu bem da sala", garante. Sobre os dois casos em menos de quatro dias, Neves alega que é preciso ter tranquilidade para trabalhar e que nenhum julgamento prévio pode ser feito em relação ao trabalho das equipes da maternidade do hospital. O vice-provedor garantiu que equipes investigam os prontuários do caso Débora e do caso Luan.
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