No lombo da magrela

Pedal Curticeira ganha adeptos e amplia horizontes

Movimento de ciclistas une turismo e agroecologia na região da Serra dos Tapes

Consolidar a experiência da bicicleta como ferramenta de cidadania e desenvolvimento regional sustentável. O projeto do Movimento Pedal Curticeira quer expandir a bicicleta para além do esporte. Através da parceria com a Embrapa Clima Temperado, foi iniciado um programa de desenvolvimento territorial que envolve diversas ações estratégicas de formação, capacitação e promoção do Cicloturismo de Experiência Agroecológica, em propriedades de agricultura familiar na região da Serra dos Tapes.

De acordo com o idealizador do Pedal Curticeira, que também lidera o projeto de Cicloturismo Rural, Leandro Karam, o programa vem sendo desenvolvido desde 2014. “Estamos dialogando com as prefeituras e com os produtores sobre o tema. Todo mundo sai ganhando com a proposta”, avalia. Integram as ações iniciais do trabalho as zonas rurais de Pelotas, Morro Redondo, Canguçu, Arroio do Padre, Turuçu e São Lourenço do Sul.

O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Rui Madruga, explica que para isso famílias de agricultores ecológicos e de outros empreendedores rurais estão sendo sensibilizadas e capacitadas para integrar o conjunto de experiências do circuito de cicloturismo. No momento em que o turismo ganhar força na zona rural, as famílias terão oportunidade de comercializar os produtos que cultivam e já comercializam em feiras. “O mais difícil é profissionalizar o agricultor, por isso a importância dessas visitas”, pontua Madruga.

As trocas entre o movimento de ciclismo e as famílias da colônia são mútuas. Enquanto os ciclistas respiram ar mais próximo da natureza, as famílias dos produtores convivem com a cultura da bicicleta, que não é tão utilizada no meio rural. De acordo com Karam, principalmente as crianças adotaram a bicicleta como meio de transporte. “Na colônia é usado muito carro ou moto, a gente não vê muita bicicleta. Aí eles nos enxergam pedalando e ficam curiosos sobre aquilo, querem saber”, conta.

Além das instituições realizadoras, o programa de Cicloturismo Rural recebe apoio da Associação Regional de Produtores Agroecológicos (Arpasul), de comércios locais de bicicletas e de uma rede de estabelecimentos que comercializam produtos da agricultura familiar da região. O horizonte deste trabalho é a formatação e implantação do Circuito de Cicloturismo de Experiência Agroecológica da Serra dos Tapes, de maneira que o produtor rural também ganhe com a experiência na zona rural.

O nome Curticeira é uma mistura do nome da árvore Corticeira-do-banhado, típica dos banhados de Pelotas, com a sugestão de uma atmosfera de “curtição”; de lazer. O termo também configura homenagem à estrutura de sustentação das embarcações de couro usadas pelos índios Charrua e Minuano, as Pelotas, a fim de cruzar arroios e rios da região.

O idealizador, Leandro Karam comemora o crescimento do Pedal. A colocação de ciclofaixas na zona urbana está entre os encorajadores da adesão à iniciativa. Quanto mais gente, mais confiança. A ida para a zona rural começou como lazer e teste dos próprios limites, até a vontade de atuar. “Queremos ajudar a estruturar a região pra receber pessoas que queiram explorar a zona rural como nós, de bicicleta. Queremos participar disso”, explica. Segundo ele, será uma evolução importante para o município que, até pouco tempo, possuía estrutura precária na cidade para ciclistas.

Com uma rotina de trabalho entre 9h e 22h, Daniel Pereira, atualmente com 31 anos, abriu mão do cotidiano sedentário. “Fechei a empresa que trabalhava e comprei uma bicicleta”, conta, bem-humorado. O objetivo inicial com a bicicleta se restringia à estética - queria emagrecer. Ao participar do projeto, porém, passou a testar seus limites e descobriu que pode mais - inclusive, expandir horizontes. “Moro em Pelotas há 30 anos e descobri que não conhecia metade da cidade”, revela. Hoje, a bicicleta é uma atividade diária. “Eu sou um incentivador de quem quer começar na bicicleta. Não sei se minha saúde mudou, mas uma coisa que não sou mais é estressado”.

Para a bancária Lúcia Badia, 30, a bicicleta é sinônimo de autonomia e independência. “A gente vivencia as coisas de modo diferente”, sorri. Com uma perna quebrada, admite estar quase angustiada sem o ciclismo. “Noto que alguns problemas de saúde voltaram com esse tempo longe da bicicleta. Porque é isso, é um esporte bom pra saúde física e mental”, afirma.

A paixão pelo pedal também chegou à estudante do Instituto Federal Sul-Rio-grandense, Caroline Antunes, 23. Porém, ela fez o caminho inverso da maioria de seus companheiros de ciclismo: o interesse pelo meio ambiente e por programas de sustentabilidade fez com que tivesse contato com a bicicleta. “Desde que comecei a pedalar não parei mais”.

Hoje o perfil do Pedal Curticeira é outro, não mais focado na iniciação de ciclistas, contudo, as pedaladas noturnas continuam. Todas as quintas-feiras são realizadas em grupo e ciclistas profissionais ou iniciantes são convidados a participar. A concentração é no Mercado Central, até as 19h15min. A partida é pontualmente às 19h30min. As distâncias percorridas podem variar entre 30 e 40 quilômetros, em velocidades de até 20 quilômetros por hora, sobre asfalto e estradas de chão batido, conforme o percurso escolhido.

Ações
O programa é composto por ações estratégicas que envolvem:
# a promoção de eventos de Cicloturismo em propriedades rurais agroecológicas
# serviço de Cicloturismo em propriedades agroecológicas de agricultura familiar 
# mutirões nas propriedades de agroecológicas parceiras do projeto
# desenvolvimento de políticas públicas que beneficiem a produção e consumo de alimentos agroecológicos
# palestras e consultorias em educação ambiental e desenvolvimento sustentável
# formações e capacitações em agroecologia e cicloturismo rural
# produção técnica e científica e publicação de artigos e trabalhos acadêmicos
# eventos, palestras e consultorias educacionais e outras iniciativas complementares à proposta do programa

 

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