Ponto de vista

Pelotas sob uma ótica diferente

Professora Cecília Herzog, da PUC-RJ palestrou na semana dos 25 anos da arquitetura e urbanismo da UCPel e ofereceu sua visão sobre a cidade

Jô Folha -

Com a oferta de uma visão de fora para a arquitetura e mobilidade de Pelotas, Cecília Herzog, que, além de professora da PUC-RJ, é autora do livro Cidade Para Todos e pesquisadora em Infraestrutura Verde e Ecologia Urbana, participou da abertura da semana dos 25 anos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), na noite desta segunda-feira (20).

Pela primeira vez na cidade, a professora diz que já nas primeiras horas de sua visita conseguiu ter uma rápida ideia do contexto que envolve toda a mobilidade e qualidade de vida pelotense. Seu trabalho possui foco nas relações da natureza com as pessoas e busca entender o sistema urbano como algo vulnerável, que precisa de cuidados.

A forma como a natureza funciona no ambiente urbano é algo que Cecília Herzog foca seus estudos. Ela lembra que diariamente ocorrem desastres naturais, muito pela opressão da natureza em função do avanço das áreas urbanas. A visão, a curto prazo, por parte de quem organiza isso é o que, para a professora, causa essa dificuldade de harmonização. Ainda assim, vê uma mudança surgindo na mentalidade de alguns administradores e empresários, levando a novas formas positivas de se pensar o urbanismo em algumas cidades. "É preciso se adaptar para continuar funcionando", salienta a professora.

Pelotas em foco
Em uma caminhada pelas ruas do centro de Pelotas, na companhia das também professoras de Arquitetura Laura Gomes Zambrano e Joseane da Silva Almeida, ambas da UCPel, Cecília afirma que a primeira cena que lhe chamou a atenção foi a ocupação de parques e praças. Ela lembra que esse lazer é algo que o ser humano procura instintivamente, e que os shoppings não são considerados, na prática, como ambientes de lazer.

Logo na primeira esquina da caminhada, no cruzamento das ruas 15 de Novembro com Voluntários da Pátria, Cecília Herzog observou a ausência de árvores em todas as direções para onde olhou. "Tem muito estacionamento, mas nenhuma árvore. Se põe uma árvore a cada três vagas, vira outra qualidade. Os automóveis dominam".

As bocas de lobo também chamaram sua atenção. Esse formato faz com que toda a poluição da via se integre à água das chuvas, que acabam não sendo reaproveitadas e tornam-se, segundo ela, piores que águas de esgoto. Cecília faz questão de ressaltar a importância do manejo dos recursos hídricos para a melhora da qualidade urbana. Água não é problema, mas sim solução, que bem trabalhada pode transformar-se em um potencial de biodiversidade, com a criação de canteiros que acumulem e reaproveitem a água das chuvas.

Observando a primeira quadra das obras de requalificação do Calçadão de Pelotas, entre as ruas general Neto e Voluntários da Pátria, a especialista é categórica: "Foi construído um deserto aqui". A falta de arborização e bancos, que gerem sombras, fez a carioca se surpreender, no calor de 25ºC, vendo falta de criatividade no projeto entregue em junho deste ano. Ela aponta as árvores que restaram, mas analisa que os canteiros ficaram altos, impedindo o desenvolvimento correto para elas, assim como o cimento colocado em volta do tronco. "Elas são heroínas. Se te derem algo desse nível para comer, você morre. E se a árvore cair, a culpa é dela. Mas a culpa na verdade nunca é da árvore."

O novo corredor de ônibus da rua General Osório também foi visitado pela professora. Novamente, a falta de arborização chamou sua atenção, assim como a falta de uma forma de captação e reaproveitamento das águas da chuva. O desnível entre a via e a calçada, separados por uma canaleta, podem causar acidentes para pedestres. Embora tenha melhorado a mobilidade, avalia que a natureza foi completamente suprimida pela reforma.

Formas para evoluir
Questionada sobre a mensagem que gostaria de deixar, ela lembra uma iniciativa feita na cidade de Seattle (EUA), no início dos anos 2000, onde foram feitas oficinas para pensar na cidade que a população queria para o futuro. Estudantes, empresários, poder público e experts foram consultados. "Dá para fazer algo elaborado com o suporte da sociedade para refletir que Pelotas os pelotenses querem". Cecília Herzog lembra que qualidade ambiental é algo a ser considerado.

Arquitetura UCPel
A programação do aniversário de 25 anos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UCPel vai até a próxima sexta-feira. Palestras, oficinas, intervenções e o jantar comemorativo são algumas das atividades programadas. A coordenadora do curso, Laura Gomes Zambrano lembra que a atividade é aberta para toda a comunidade, e não apenas pessoas do meio acadêmico. Mais informações sobre a programação podem ser encontradas na página da semana acadêmica.

 

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