Sustento
Pescadores da região protestam na BR-392
Manifestação trancou a BR-392 na beira da ponte sobre o canal São Gonçalo; trabalhadores querem poder voltar a pescar o bagre, atividade proibida por decreto estadual em 2014
Jô Folha -
Na tarde desta sexta-feira (22), pescadores realizaram um protesto na BR-392, às margens da ponte sobre o canal São Gonçalo, em Pelotas.
A manifestação foi contra a proibição da pesca do bagre no Rio Grande do Sul, decretada em 2014 para garantir o repovoamento de espécies ameaçadas de extinção no Estado. O decreto foi homologado após estudo da Fundação Zoobotânica, entre 2012 e 2013, que colocou o bagre-branco na lista das espécies de peixes que sofrem algum tipo de ameaça de desaparecimento. Uma liminar, expedida em 2015, permitiu que o retorno da atividade, mas em 2016 a captura do animal voltou a ser vetada.
De acordo com dados da Zoobotânica, houve um declínio de 98% na produção nas últimas quatro décadas na Laguna dos Patos em função da intensidade da pesca na região, que - ainda da acordo com a Fundação - abriga mais da metade da população brasileira de bagres.
No entanto, a pesquisa é questionada pelos profissionais da pesca. O presidente da Colônia de Pescadores Z-8, em São Lourenço do Sul, Ivan Kuhn, acredita que a espécie tenha se reforçado ao longo dos anos. "Nós, que estamos pescando, não vemos o bagre como um peixe em extinção. Tem muito na lagoa. O estudo foi feito, mas nenhum pescador foi procurado. A realidade não é mais essa", garante.
A mesma ideia é defendida pelo secretário da Pesca de Rio Grande, Enedi Pouzada. Ele acredita que os dados estejam desatualizados em relação à realidade da região. "Nós passamos um tempo sem ter bagre na lagoa e esse período talvez tenha coincidido com a análise da Zoobotânica. Mas isso já faz alguns anos e as coisas se modificaram. O manancial de pesca da nossa lagoa agora já é outro. Hoje a maior incidência é do bagre. Ele é um peixe migratório e as condições climáticas ajudaram na formação de novos cardumes", afirma.
A proibição da pesca do peixe afetou as colônias de pescadores gaúchas. Depois de pelo menos três safras frustradas, com muitas chuvas e excesso de água na lagoa, as comunidades estão passando dificuldade para se manter. "Estamos no vermelho. Acima do Rio Grande do Sul está tudo liberado. Enquanto isso, nós aqui não temos dinheiro nem mesmo para pagar as dívidas", diz o pescador Luis Fernando Ferreira.
Solução
Caso a captura do peixe seja liberada, as famílias acreditam que vão poder ter uma base de sustento pelo menos até o período de início do seguro-defeso, eu junho.
Para que isso aconteça, os pescadores pedem que um novo estudo seja feito, já que o decreto em vigor não estipula o intervalo de tempo em que as reavaliações devem ser feitas. "É preciso que eles façam a análise outra vez. Não tem camarão, tem pouca tainha, mas bagre temos bastante. É um peixe que pode nos ajudar. As autoridades precisam olhar pra nós e ver que estamos passando trabalho", defende Kuhn.
Pouzada pensa que a solução possa estar, literalmente, ainda mais perto. "Nós temos a Furg aqui na região, uma universidade gabaritada para fazer qualquer estudo. Os prefeitos devem montar um consórcio para custear uma nova análise. E essa análise tem que ser feita pela Furg, que tem capacidade de fazer um trabalho rigoroso sobre o manancial de pesca que temos na nossa lagoa e em toda a costa oceânica. Temos que defender o que é nosso", aponta.
Contudo, o secretário alerta que há a necessidade de uma resolução imediata para que a situação das comunidades não se agrave. "Quem sabe se um dia a pesca for liberada não tenhamos mais bagre justamente porque ele é migratório. Mas hoje, neste momento de reivindicação, o peixe pode salvar estas famílias e ajudá-las a conseguir o sustento."
O manifesto
Os pescadores trancaram a rodovia nos dois sentidos no início da ponte. Com faixas e cartazes, eles entregaram panfletos aos motoristas para relatar a luta pela liberação da pesca de algumas espécies no Estado. O tráfego era paralisado por 15 minutos e liberado por mais 15 de forma alternada, com acompanhamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Cerca de 200 pessoas participaram da movimentação, que contou com representantes das colônias Z-1 (Rio Grande), Z-2 (São José do Norte), Z-3 (Pelotas), Z-8 (São Lourenço do Sul) e Z-11 (Tavares). A atividade na BR durou cerca de três horas. Confira como foi:
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