Milagre da vida
Policial Militar faz parto de emergência no Quartel do 4º BPM
Tales Nobre, que em 2017 ficou entre a vida e a morte após levar um tiro na cabeça durante assalto, trouxe à vida a pequena Maria
Carlos Queiroz -
*Atualizada às 19h42min para acréscimo de informações.
Tales reencontrou a pequena Maria na maternidade da Santa Casa (Foto: Carlos Queiroz)
Estar entre a vida e a morte por duas vezes, porém em lados opostos. Assim a vida do 2º sargento do 4º Batalhão da Polícia Militar (BPM), Tales Nobre, 30 anos, vai desenhando seu caminho. O mesmo policial que levou um tiro na cabeça em março de 2017, durante assalto a uma joalheira no Shopping Pelotas, trouxe à vida a pequena Maria Esmeralda Ivone. Na madrugada de domingo (8), sem nenhum aparato médico, ele fez um parto emergencial, no pátio do Quartel do 4º BPM. Já no quarto 323 da Santa Casa de Misericórdia, nesta segunda-feira, o reencontro entre o policial, a bebê e a mãe, Silvana Pereira, 31, que se emociona com a pequena, que veio ao mundo com 37 semanas, 46 centímetros e 2,715 quilos.
A visita foi acompanhada pela esposa do sargento, que fez questão de conhecer Maria. Alessandra Alves diz que tem muito orgulho do marido. "Quando ele me relatou, eu não acreditei", disse ela, ao lembrar que Tales não conseguiu participar do parto do filho do casal, hoje com cinco anos. Com a pequena no colo, Alessandra recebeu um forte abraço de Silvana, em sinal de gratidão. O início da tarde de segunda-feira, no quarto da Santa Casa, seguiu com trocas de carinhos e abraços.
Inesperado
Sargento Tales conta que trabalhava no quartel na madrugada de domingo, uma noite incomum, pois estava abalado com a notícia de que um colega havia sido baleado em ação, quando ouviu por volta das 4h uma buzina em frente à corporação. Ao tomar conhecimento de que se tratava de uma gestante em trabalho de parto, abriu os portões e o motorista de Uber ingressou na unidade. "Minha primeira iniciativa foi acalmar a mãe, que estava muito nervosa. Achei que não seria o momento." Foi quando o policial avistou a cabeça do bebê e não pensou duas vezes, pediu que Silvana ficasse na posição e fizesse força. A tia-avó, Cátia Pereira, que acompanhou o drama, segurou uma perna e iluminava o local com a lanterna do celular.
Silvana conta que em certo momento ficou cansada e pensou em desistir, mas olhou para o sargento e criou coragem. "O olhar firme dele me passou segurança. Sabia que poderia entregar a vida de minha filha em suas mão", relatou. Pela anormalidade da situação, a bebê estava roxa e não respirava. "Encostei ela no meu peito, dei um tapinha nas costas e quando ouvi o choro, fiquei tranquilo", detalhou Tales, que até então só teve treinamento de primeiros socorros.
Mesmo sem suporte algum, Tales Nobre fez os procedimentos e colocou Maria no peito da mãe, que imediatamente começou a mamar. Neste meio tempo, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado. "Não poderia imaginar que o fato de um dia quase ter perdido a vida pudesse me colocar numa situação divina e totalmente contrária: ajudar uma gestante em frente ao quartel da Brigada Militar, onde eu não provinha de equipamento ou conhecimento específico. Foi o conhecimento tácito nessa década de policial militar que fez com que desse tudo certo naquela madrugada chuvosa", contou, emocionado. "Ajudar no nascimento de um ser é algo único."
Em momento de grande emoção, Maria recebeu carinho de Silvana e Tales (Foto: Carlos Queiroz)
Anjos da guarda
No caminho de Maria à vida também estiveram presentes a tia-avó Cátia Pereira e o motorista de aplicativo Gregory Machado. Conforme Cátia, em situações normais, dificilmente um Uber aceitaria uma corrida até o Carmelo, no Laranjal, com chuva torrencial, para depois entrar no balneário Santo Antônio, pegar a gestante, e assim fazer a corrida até o PSP. "Ele não só aceitou, como teve a inteligência de parar diante do quartel para pedir ajuda", contou Cátia, com os olhos marejados pela ação do jovem motorista.
Ao Diário Popular, Machado, que é motorista de aplicativo desde novembro de 2017, falou de forma profissional. Disse que, apesar do nervosismo, no momento só conseguia pensar em chegar logo ao hospital e, principalmente, dirigir bem e rápido pela segurança de todos. "Uma corrida que saiu da rotina. Quando tudo deu certo foi um sentimento de gratidão."
Confira o vídeo:
Relembre
No dia 20 de março de 2017, Tales Nobre tentou intervir a uma ação criminal a uma joalheira no Shopping Pelotas e acabou baleado na cabeça, ficando entre a vida e a morte. Ele havia chegado ao estabelecimento quando se deparou com a dupla em fuga pelo estacionamento do centro comercial. Segundo a polícia, na tentativa de conter os criminosos, o PM abordou os suspeitos, que reagiram à abordagem e efetuaram disparos contra o policial, que revidou e acabou baleado. A dupla fugiu em um Renault Logan. O veículo aguardava na avenida Ferreira Viana e os assaltantes levaram duas peças do mostruário da loja.
Foram 20 dias de internação e uma cicatriz que não deixará o policial esquecer dos momentos tensos de sua vida. Na época, o PM passou por uma cirurgia para a retirada do projétil alojado na cabeça. Segundo laudo médico, a bala não atingiu nenhuma região do cérebro que pudesse comprometer raciocínio e memória.
Na entrevista concedida ao Diário Popular, em abril de 2017, Tales disse que não desistiria da profissão e que, quando decidiu ser PM, estava sujeito a tudo em favor da comunidade. O desejo do sargento se concretizou ao salvar a vida da gestante Silvana e da pequena Maria.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário