Segurança

Por um banho sem riscos

Enquanto os salva-vidas da Operação Golfinho comemoram a redução das ocorrências nas áreas de banho, dezenas de jovens arriscam a vida em locais impróprios do município

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            Na região do Quadrado a cena é comum. O local não é indicado à prática (Foto: Rafael Takaki/DP)

As altas temperaturas dos últimos dias em Pelotas têm causado desconforto à população, especialmente para aqueles que não podem passar as horas mais quentes do dia em um ambiente com ar-condicionado. Para aliviar o calor, muitos procuram uma sombra, bebidas geladas ou sorvete. Outros, no entanto, adotam medidas que podem ser perigosas, caso alguns cuidados não sejam levados em conta. Um exemplo é hábito de banhar-se em canais, arroios e até em alguns pontos da Lagoa dos Patos. Uma opção de lazer que pode acabar em tragédia.

De acordo com o coordenador da Operação Golfinho para águas internas do Litoral Sul, tenente Marcelo da Silva, a principal orientação para quem pretende refrescar-se nas águas pelotenses é procurar um local que tenha serviço de salvamento. Ainda assim, dezenas de pessoas - especialmente crianças e adolescentes - continuam arriscando a vida, diariamente, em pontos conhecidos por serem perigosos. Em uma visita da reportagem a três destes locais, em plena tarde de um dia útil, foi possível flagrar vários jovens nadando sem segurança alguma.

O tenente lembra que as únicas duas mortes por afogamento registradas na região este ano ocorreram fora da área de atuação da Operação. “Temos uma área de banho no Laranjal de aproximadamente 300 metros, bem maior do que a maioria das outras praias de água doce, e não é preciso usar outras áreas”, justifica Silva, que é responsável também pelos municípios de São Lourenço do Sul, Arroio Grande e Santa Vitória do Palmar. Em Pelotas, as guaritas estão localizadas nos balneários Santo Antônio, Prazeres e no Camping Municipal.

Os locais utilizados, e que não deveriam...
Na coordenação da Operação na Região Sul há cinco anos, Silva explica que só são consideradas competência da Golfinho as áreas em que há guaritas. “Caso ocorra algum acidente em outro ponto, atuamos com mergulhadores nas buscas, mas não entram nos números da operação.” Como não é natural de Pelotas, o tenente diz não conhecer todos os pontos inadequados utilizados pela população para os banhos, mas cita o Quadrado, o arroio Pelotas e a barragem Santa Bárbara como exemplos, além da própria praia do Laranjal.

Embora pareça inofensiva, a Lagoa dos Patos pode guardar surpresas negativas. Fora da área de banho, demarcada pelo Corpo de Bombeiros no início da temporada, a recomendação é de não entrar na água. Em alguns pontos, simplesmente pela falta das guaritas, em outros pelo risco de acidentes com embarcações ou com estacas que podem ficar submersas. É o caso da faixa entre a demarcação do fim da área de banho da praia do Laranjal e o trapiche, reservada aos esportes náuticos. Ali, o risco é de o banhista ser atingido por uma prancha ou um jet-ski.

Mesmo localizado a algumas centenas de metros da área segura, o local é a opção de muitos banhistas, inclusive crianças, acompanhadas dos pais. Do trapiche, que está interditado desde a enchente que comprometeu sua estrutura, grupos de adolescentes saltam para a lagoa, indiferentes ao risco de que ainda existam partes da estrutura antiga no fundo da lagoa. Um casal que observava o filho de cinco anos na beira da água conta que escolhe o lugar por ser mais tranquilo e ficar mais fácil cuidar da segurança do menino.

Não muito distante dali, há exato uma semana, no Recanto de Portugal, já nas águas do Arroio Pelotas, um grupo de cerca de dez jovens nadava tranquilamente em um ponto com profundidade suficiente para a passagem de lanchas. Na margem, apenas as bicicletas e os veículos utilizados para chegar ao lugar, mas nenhum sinal de salva-vidas, em caso de algum problema.

Já no Quadrado, a faixa etária dos imprudentes parece ser menor. Chama a atenção a quantidade de crianças que pulam sem medo das docas em direção ao canal São Gonçalo. O local já registrou mortes por afogamento, mas é conhecido por receber banhistas durante o verão, tanto na parte externa, quanto interna, onde ficam atracadas as pequenas embarcações dos pescadores. Alheios aos riscos, adolescentes treinam acrobacias dos degraus para a água.

O trabalho no Laranjal
Por ser uma praia tranquila, o Laranjal não costuma ter muitos salvamentos durante a temporada. Este ano, segundo Silva, foi apenas um. Uma menina que sofria um ataque epilético teve de ser retirada da água para não se afogar. “Foi a única ocorrência na área de banho, mas infelizmente tivemos duas mortes na região, uma de um rapaz que praticava stand up e uma jovem que se afogou em um rio, no interior.” O trabalho da equipe, então, é mais de prevenção.

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            O trapiche é destinado à prática de esportes náuticos (Foto: Rafael Takaki/DP)

Além de estar atento a quem está na água em local próximo à guarita, o bombeiro conta que circula bastante pela praia para orientar as pessoas sobre a forma mais segura de aproveitar a Lagoa. Em alguns casos, chama a atenção de algumas pessoas que vão entrar na água logo depois de ingerirem bebida alcoólica. “Não tem por que eu permitir que esse sujeito entre na água e tenha que ser salvo em seguida.” O trabalho parece vir dando resultados. A redução dos salvamentos no Estado foi de 44%, atribuída principalmente a uma crescente mudança cultural da população.

Silva pede que os banhistas, ao chegarem na praia, conversem com os salva-vidas, solicitem informações e sigam o que é dito. Se estiverem com crianças, a atenção deve ser redobrada. Confira a seguir quais são as principais dicas para curtir a praia sem riscos.

AS VÍTIMAS DAS ÁGUAS

Marco Vinícius Paradeda, 31, desapareceu no dia 31 de dezembro enquanto praticava stand up na Lagoa dos Patos, no Laranjal. O corpo do psicólogo foi encontrado pelos Bombeiros no dia 2, próximo ao Trapiche. Naquela região não há fiscalização da Operação Golfinho por ser área de prática de esportes.

Vítor Marin Guterres, 37, estava comemorando o Ano-novo no Camping Municipal de Pedro Osório com a família quando, segundo os Bombeiros, teria tentado atravessar a nado o rio Piratini. O corpo foi encontrado no último dia 5. O local onde Vítor foi visto pela última vez tem muita correnteza, é bastante profundo e muito amplo.

Aléxia Ferreira Silveira, 9, desapareceu no último domingo, 24, no Arroio Grande, zona rural de São Lourenço do Sul. A menina brincava na água quando foi vista pela última vez.

Tatiane Ferreira Silveira, 33, também morreu afogada no Arroio Grande, no último domingo, quando tentava salvar a filha Aléxia Ferreira Silveira.

SEM SALVAMENTO

# Se possível, evitar
# Não ultrapassar o ponto em que a água esteja no umbigo
# Evitar se jogar de pontes, trapiches e pedras
# Não fazer travessias de rios e canais
# Evitar brincadeiras que possam provocar algum acidente
# Fazer reconhecimento do local, demarcando a área segura

CUIDADOS NECESSÁRIOS COM AS CRIANÇAS

# Ficar perto da guarita e atentos aos filhos
# Colocar boias nos braços dos pequenos, dependendo da idade
# Entrar na água junto com as crianças
# Não perder o contato visual
# Se possível, colocar uma pulseira com nome e telefone para contato

CUIDADOS EM GERAL

# Usar protetor solar
# Evitar o consumo de bebidas alcoólicas antes de entrar na água
# Reduzir a ingestão de alimentos, optando por pratos mais leves

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