Saúde
Por uma comunidade cuidativa
Proposta apresentada por Zacarias Rodríguez cria uma rede para cuidados paliativos
Jô Folha -
Uma comunidade cuidativa. Esta é a proposta apresentada pelo pesquisador espanhol Zacarias Rodríguez no Centro Regional de Referência em Cuidados Paliativos (Hospice) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Diretor de programas da Fundação New Health, o pesquisador é um dos idealizadores do método New Palex, que propõe uma rede de cuidados paliativos integrada entre profissionais, sistema de saúde, pacientes e a comunidade. Também são números que mostram a importância do tema: até 2050, a população idosa deve triplicar no Brasil, como aponta o IBGE.
Nesta terça-feira (4), Rodríguez palestrou no Hospice sobre o assunto. O método que ajudou a criar é um trabalho de mais de dez anos e que envolveu mais de 50 mil pacientes. "É um método baseado em números que focam na qualidade de vida dos pacientes e seu bem estar", resume. Além de humanizar o tratamento e elevar a satisfação do paciente e seus familiares, a proposta de integrar uma rede de cuidados também reduz custos para o sistema de saúde pública, uma vez que evita internações em hospitais e outros procedimentos.
A rede de cuidados paliativos envolveria os profissionais da área da saúde como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas para, junto com o poder público, sensibilizar a comunidade a se integrar nos cuidados paliativos. Para formar, desta forma, cuidadores para auxiliar pessoas com doenças crônicas.
O objetivo é criar uma cidade compassiva, isto é, que tenha compaixão entre as pessoas. Para construir esta rede, explica, os profissionais da saúde devem sensibilizar a população sobre a importância dos cuidados paliativos, o poder público fornecer os meios e instalações e a comunidade com formação para atuar como cuidadores, envolvendo escolas e a universidade.
"Projeto semelhante foi implementado no sul da Espanha. Uma cidade com 300 mil habitantes, uma região com cerca de um milhão de pessoas. Lá começou com 15 voluntários e hoje são mais de mil. Aqui hoje já possui mais de 50 voluntários e a universidade tem profissionais de todas as áreas. É um projeto absolutamente implantável em Pelotas e para a região", destaca. Em Pelotas, indica, todos os anos morrem entre 1,8 mil a 2 mil pessoas que precisam de cuidados paliativos.
Menos custo, mais qualidade de vida
O exemplo citado por Zacarias sobre a redução de custo envolve um idoso com 94 diagnosticado com câncer nos ossos. Precisaria de uma prótese, que pode custar R$ 400 mil para um paciente que pode falecer seis meses ou um ano depois. "Não era uma prótese que ele precisava, mas sim de cuidados paliativos. No processo final de sua vida, acaba falecendo mal, com sofrimento e custo maior. Se gasta muito para fazer mal", compara.
Na sua pesquisa, números indicaram que a satisfação do paciente e familiares alcança índices superiores a 95%. A redução de custos dentro do sistema tradicional chega a 30%. "Evita a hospitalização e custos. Há pessoas que estão internadas por não ter alguém que lhe dê de comer, que leia um livro, que compre roupas, não tem sentido", comenta.
O que são cuidados paliativos
Em resumo, trata-se de uma forma de cuidado com a intenção de diminuir o sofrimento do paciente com alguma doença crônica grave e seus familiares. Para isso, os cuidados paliativos envolvem uma equipe multidisciplinar para tratar de questões físicas, psicológicas, sociais e até espirituais de forma humanizada e acolhedora, com o intuito de dar qualidade de vida e de morte para os pacientes.
O Hospice
Com a previsão de reiniciar as obras entre agosto e setembro, faltam apenas 20% para a conclusão do Centro Regional. Dentro da filosofia de cuidados paliativos, serão 16 leitos de internação, com espaços de convivência e permanente contato com familiares e pessoas próximas.
No local também são desenvolvidas práticas integrativas e complementares, regulamentadas pelo Ministério da Saúde, que inclui reiki, acupuntura, arteterapia, plantas medicinais, horas e outras terapias, além de atividades como teatro, música, dança e cinema. A previsão é de que as obras durem um semestre. Hoje o centro realiza 1,2 mil atendimentos por mês, além de 140 pacientes atendidos através do Programa de Internação Domiciliar (PID).
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário