Saúde
Por uma gestação livre das dores
Estudo de Pós-graduação em Educação Física da UFPel aponta a relação entre a prática de atividades físicas e a dor lombar durante a gravidez
Paulo Rossi -
A dor lombar é uma das disfunções mais comuns no mundo, problema que leva muitas pessoas a parar com as atividades do cotidiano. Em gestantes, as chances dessas dores fazerem parte do dia a dia são ainda maiores entre aquelas que não praticam atividades físicas. Uma tese de doutorado do Programa de Pós-graduação em Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) investigou a relação dessas duas condições: se a mulher diminuir o tempo de exercícios com o passar dos meses, mais dor vai sentir. A carga de trabalho também está diretamente relacionada. Aquelas que passam oito horas ao dia no serviço apresentam chances maiores de ter mais dores.
Por vezes, a dor é tanta que é preciso se afastar do trabalho, por exemplo, por conta da incapacidade de realizar as tarefas. "A dor na lombar é a campeã em afastamentos", explica o pesquisador responsável pelo estudo, Eduardo Caputo. A pesquisa reuniu mais de três mil mulheres que realizaram o parto e participaram da Coorte de 2015, estudo do Centro de Pesquisas em Saúde Dr. Amílcar Gigante, do curso de Epidemiologia da UFPel. Após os 12 meses da data do parto, cada mulher respondeu a um questionário com foco nas atividades físicas de lazer e de trabalho. Muitas já conheciam os estudos epidemiológicos desenvolvidos pela Universidade.
O sexo feminino possui mais chances de ter dor na lombar ao longo da vida e um dos fatores é a produção de determinados hormônios. Esse problema pode ser agravado durante a gestação, quando as mulheres não praticam exercícios. Entre os resultados, Caputo destaca que ao longo dos meses da gestação, a tendência é de as dores se intensificarem. Assim, a pessoa para com as atividades. Nos casos em que é ativa e, aos poucos, a mulher vai parando os exercícios durante a gravidez, a dor tende a marcar presença. "Conforme ela vai parando as atividades, mais dores vai sentindo", explica o pesquisador.
São menores as chances da mulher que pratica exercícios desenvolver incapacidade física quanto às atividades de rotina por conta da dor lombar. Aquelas que já realizavam exercícios de lazer antes da gestação - como caminhadas - e mantêm a prática enquanto aguardam a chegada do bebê, conforme recomendações médicas, possuem menos chances de apresentar o problema.
O estudo também aponta que as mulheres que trabalham oito horas por dia e as que carregam peso durante o horário de trabalho podem ter mais chances de ter dores na lombar. Esses fatores influenciam para que a pessoa fique fisicamente incapaz de manter as atividades de rotina.
Com exercícios, sem dor
Benício, filho de Ana Paula Terakado, 35, nasceu há duas semanas. Desde o início do segundo trimestre de gestação ela passou a praticar pilates. "A minha gravidez foi muito tranquila." Sem dores na rotina, ela conta que quando descobriu a gravidez passou a buscar muita informação, tanto sobre os exercícios que poderia fazer como sobre parto normal. "Hoje com a internet a gente tem acesso a muita informação", ressaltou.
Ela é doutora na área de Zootecnia e veio de Jaboticabal, interior de São Paulo, para Pelotas há cerca de um ano e meio. Com a mudança, passou um tempo sem praticar exercícios funcionais em academia, o que fazia na cidade natal. "Antes fazia muito exercício de mais impacto", lembra. Quando descobriu a gravidez, resolveu trocar, ficou com o pilates.
A primeira gestação da Laura Bastos, 21, foi diferente. Ela é mãe de dois, o Henrique, de dois anos, e a Ana, de cinco meses. "Na primeira vez eu caí no mito de que 'grávida não pode fazer nada'. Foram duas experiências opostas", recorda. Mãe de primeira viagem, ela passou os nove meses sem praticar exercícios e conforme as semanas passavam, as atividades do dia a dia ficavam mais difíceis. "Se eu ficava muito tempo de pé sentia dor, era difícil até lavar louça", exemplifica.
Já na segunda vez, a experiência foi outra. "Como eu tinha o Henrique pra cuidar, era como se fosse uma academia 24 horas por dia", lembra. Diferentemente do comum, a pequena nasceu de 41 semanas e os últimos dias, no entanto, foram tranquilos, avaliou Laura. Até o último dia de gestação, sentiu-se disposta. As atividades físicas de lazer auxiliaram nisso, além de ajudarem quando estava em trabalho de parto, que se estendeu por 19 horas. Em comparação à hora do nascimento do Henrique, Laura sentiu-se muito melhor.
Depois das duas gestações, ela passou a estudar para ser doula e aconselha: "A grávida é um ser humano como qualquer outro. Não pode se excluir das atividades comuns de cada dia".
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