Artesanato

Processo centenário dos ladrilhos hidráulicos continua vivo em Pelotas

Peças são consideradas patrimônio cultural da cidade; duas empresas pelotenses ainda fabricam o produto

Foto: Carlos Queiroz - DP - Os ladrilhos são resistentes e duram entre 50 e 60 anos

Nas calçadas, nos principais prédios históricos pelotenses, dentro das casas e na memória afetiva. Em diferentes lugares é possível encontrar os ladrilhos hidráulicos que, desde o século 19, integram o patrimônio arquitetônico de Pelotas. Atualmente, duas fábricas pelotenses continuam dando vida ao processo artesanal e centenário das peças, que também contam um pouco da memória cultural e econômica da cidade.

Surgidos de uma junção das técnicas artesanais de mosaicos e azulejos, mas com materiais da Revolução Industrial, os ladrilhos hidráulicos foram apresentados à sociedade em 1862, na Exposição Universal de Londres. "Em Pelotas, os ladrilhos chegaram através da imigração, principalmente de arquitetos e engenheiros que já conheciam a técnica", explica a mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural, Andréa Dominguez. As importações vinham de diversos países europeus, como Bélgica, Espanha e Portugal.

O crescimento econômico pelotense chamou a atenção de investidores, que trouxeram as fábricas de ladrilhos dos grandes centros para a cidade. Há registros de, pelo menos, 17 empresas desse tipo em Pelotas na época. "A quantidade de fábricas que existiu aqui foi o que possibilitou essa grande popularização e disseminação das peças pela cidade", afirma Andréa. Segundo ela, os principais e mais tradicionais desenhos dos ladrilhos trazem influências de escolas artísticas como o Art Nouveau e Arts and Crafts.

Com o passar dos anos, os ladrilhos se estabeleceram no imaginário pelotense. Para Andréa, esse processo se consolidou ainda mais por volta de 2005, com o projeto Monumenta, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). "Esse projeto fez com que a Prefeitura modificasse o plano diretor em função de áreas de valorização patrimonial. Na sequência se instituiu o Dia do Patrimônio e aí todos esses exemplares e obras passaram a fazer mais parte de projetos educacionais", avalia.

Processo centenário

Na Fábrica de Mosaicos, uma das empresas que ainda produz os ladrilhos na cidade, a gerente Natália Roloff explica que o processo de produção é o mesmo desde que a empresa foi fundada, há mais de cem anos. "A única diferença de hoje para 1914, quando a fábrica foi fundada, é a prensa, que antes era movida pela força do homem, e agora é hidráulica. O restante, como material, processo e tempo de cura, segue igual", comenta.

Cada peça é feita individualmente em uma superfície lisa, com o molde do desenho. Em seguida, as cavidades da forma são preenchidas com tinta e o ladrilho vai para a prensa. Depois de prensada, a peça fica descansando antes do processo de cura, que se dá durante cerca de seis horas embaixo d'água. Por fim, os ladrilhos ficam secando antes de serem embalados. Quem conhece o processo, como os irmãos César e Celso Tatsch, que trabalham juntos na Fábrica de Mosaicos, reconhece o trabalho envolvido. "Isso aqui leva tempo para aprender e pegar o jeito. As pessoas não fazem ideia que é um processo tão artesanal", avalia Celso, que trabalha com os ladrilhos há 30 anos.

Sobrevivência no mercado

Coloridos ou em preto e branco, tradicionais ou minimalistas, exclusivos ou populares. Para Natália, uma das características que mantém os ladrilhos relevantes até hoje, principalmente os usados internamente, são as possibilidades oferecidas. "Muitos clientes vêm aqui hoje porque não aguentam mais ir nas lojas e olhar as mesmas coisas. Nos ladrilhos, dá para compor cores e desenhos da forma que a pessoa quiser". A memória afetiva também tem um papel na escolha do público. "Às vezes chegam pessoas aqui que lembram dos ladrilhos da casa dos avós, que lembram a família, e querem ter na sua casa também", comenta Natália.

Um dos sócios da empresa Portal das Pedras, Clóvis Scholl, que produz as peças há mais de 25 anos na cidade, conta que a segurança e a qualidade também são diferenciais do produto, especialmente nos ladrilhos externos, que possuem texturas. "Os ladrilhos duram 50 ou 60 anos, pelo menos. Ele não deixa escorregar, é 100% antiderrapante e muito seguro", explica Scholl. O empresário avalia que, hoje em dia, os ladrilhos estão sendo utilizados não apenas em revitalizações de espaços históricos, mas também em novos empreendimentos. "As construtoras estão vendo que precisa ter qualidade e segurança nas obras e os ladrilhos oferecem isso, então eles voltaram a ser utilizados. É um produto que continua muito vivo", finaliza.


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