A falta de professores na Escola Estadual Hermes Pintos Affonso, de Jaguarão, irá se transformar em denúncia ao Ministério Público (MP). Sem perspectiva de solução e com o número de transferências de alunos em alta, a comunidade escolar decidiu agir. Uma assembleia, na segunda-feira, foi apenas o primeiro passo. Com uma moção de apoio aprovada por unanimidade na Câmara de Vereadores, estudantes, pais, professores, funcionários e parlamentares decidiram intensificar a cobrança por respostas.

E não é pra menos. Sem a reposição de três profissionais que se aposentaram, seis disciplinas - Português, Literatura, Geografia, História, Ensino Religioso e Arte - deixaram de ser ministradas e espalham prejuízos nos três turnos da instituição. Pela manhã, adolescentes do 7º Ano, do 8º Ano e do 9º Ano do Ensino Fundamental, além de turmas de Ensino Médio, têm precisado ajustar horários, para evitar que se desloquem à escola para ter aula de apenas uma disciplina, por exemplo. À tarde, o desfalque de pessoal atinge a gurizada do 5º Ano e do 6º Ano e, à noite, os rastros chegam aos jovens do 2º Ano e do 3º Ano do Médio.

"Os maiores prejuízos são didático-pedagógicos", preocupa-se a diretora Verônica Rodrigues de Lima. "No início do ano estávamos sem professor de Filosofia e a solução demorou um semestre. Agora, passamos a esperar a substituição desses três profissionais, mas o governo só nos diz que não tem fonte de custeio para contratações nem para ampliar a carga de outro professores", reforça, ao ver o ano letivo avançar. E enquanto não dispõe de quadro completo, a direção não consegue definir nem estratégias para recuperação dos conteúdos. Não será pouca matéria. Já são mais de 30 dias sem as seis disciplinas. E o pior: sem uma definição imediata.

O tema virou pauta de reunião nesta semana, na 5ª Coordenadoria Regional de Educação (5ª CRE), em Pelotas. O grupo de jaguarenses veio acompanhado de três vereadores: Fred Nunes (PSB), Míriam Coelho Martinez (PT) e o presidente em exercício, Jorge Tormes (PDT). "Estamos formando várias frentes e buscaremos uma audiência também com o Ministério Público, na segunda-feira, caso se precise do provimento judicial", afirma Nunes, presidente da Comissão de Educação da Câmara. O encontro estendeu-se por cerca de duas horas.

Orgulho por um lado, problemas de outro
A Hermes Pintos Affonso foi escolhida pelo Ministério da Educação (MEC) para implantar o Ensino Médio integral, a partir de 2019. É, portanto, o que ocorre com duas turmas de 1º Ano que permanecem na escola - popularmente conhecida como Polivalente - das 8h às 17h. A medida virou motivo de orgulho. Afinal, é a única instituição de Jaguarão com horário prolongado ao Ensino Médio.

De outro lado, a escola enfrenta sérios problemas com falta de pessoal, que não se esgotam com os três professores que encerraram a carreira. O déficit inclui um professor supervisor e chega também à equipe de funcionários, com a carência de um merendeiro, um secretário e um auxiliar financeiro. É uma precariedade que vai além dos transtornos ao processo de ensino. Tem provocado, inclusive, a perda de alunos. No começo do ano, o número era de 670 estudantes. Hoje são 607.

O que diz a 5ª CRE
A titular da 5ª CRE, Alice Szezepanski, afirma que a demanda já foi repassada ao setor de Recursos Humanos em busca de duas hipóteses: remanejos junto a outras escolas da rede e ampliação da carga horária de profissionais para suprir a necessidade. "Depois deste primeiro mês de trabalho tenho um rol de demandas e vou apresentá-las na Seduc, em Porto Alegre, na próxima semana", assegurou. O levantamento para atender à reivindicação de Jaguarão, entretanto, já teria iniciado na tarde de quinta-feira (3).