Tese de doutorado

Qual a Pelotas você guarda na memória?

Projeto Cidade como tela busca relatos de histórias que marcaram; não há temas específicos nem um período definido

Um cabo de aço é esticado nas alturas para apresentação do grupo acrobático alemão Zugspitz Artisten, no Centro Histórico de Pelotas, em 1957. O redondo da praça Coronel Pedro Osório transforma-se em ponto de encontro aos antigos carnavais. Incêndio, livros queimados e perseguição ao povo de origem alemã, também em solo pelotense, durante a 2ª Guerra Mundial, nos anos 1940. A tristeza que se espalha pelas ruas durante a enchente que atingiu cerca de 50 mil pessoas, em maio de 2004.

Os relatos integram o projeto Cidade como tela, da tese de doutorado do professor do curso de Hotelaria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Mascarenhas de Souza Pinheiro. Um site já está no ar e conta com a participação da comunidade. Não há restrições de temas nem recortes específicos no tempo. Basta que as recordações tenham sido vivenciadas nas ruas de Pelotas ou em espaços públicos, para que tenham a chance de ganhar diferentes versões.

“Trabalho com a ideia de que não existe apenas uma verdade em memória. Por isso, podem existir múltiplas versões de uma mesma história”, destaca Pedro. E lembra que a fase de coleta irá se estender por até três anos.

Trabalho deve culminar com a instalação de tótens
Os vídeos mais assistidos e os episódios que mais aparecerem entre as memórias devem compor material a ser produzido e exibido em tótens instalados, possivelmente, nos locais que estejam relacionados com as histórias; seja através de realidade virtual ou de realidade aumentada. Um conteúdo que deverá despertar a curiosidade tanto de moradores quanto de turistas.

O projeto, entretanto, não prevê recursos para concretização desta última etapa. Parcerias com o Poder Público, com o setor privado ou através de financiamento coletivo deverão assegurar a ideia, que tiraria a tese de doutorado do ambiente acadêmico e a estenderia como ferramenta direta de interação com a sociedade por prazo prolongado.

“Foi um marco na minha infância”
O guri piratiniense já morava em Pelotas. Era maio de 1957. Uma multidão aglomerava-se para assistir às três sessões do espetáculo do grupo acrobático alemão Zugspitz Artisten. “Não sei de onde eles tiravam a coragem. Era no peito e na raça”, relembra o médico Paulo Rosa, um dos primeiros a contribuir com depoimento ao projeto.

Um cabo de aço foi esticado do alto do Rex Hotel (foto abaixo) em direção ao edifício Del Grande, ao lado do Theatro Sete de Abril. Ali, os artistas esbanjavam perícia e equilíbrio. Um feito de encantar o público, de todas as idades. “Realmente, foi um marco na minha infância. Era algo muito emocionante”, reitera. Era dia de vento. E no alto-falante reverberavam as palavras Cuidado, Alex, em referência a Alex Schack.

A frase repetida por várias vezes ao longo das apresentações, inclusive, passou a ser adotada pela criançada - em tom de brincadeira - sempre que algum amigo ia atravessar a rua, resvalava ou “atropelava” um colega, na escola - conta o psiquiatra e diverte-se. De novo.

As acrobacias geraram notícia. Foram parar nas páginas do Diário Popular, na época. Em 2015, o espetáculo também foi registrado no Almanaque do Bicentenário - Volume 3. Ainda assim, o olhar de cada um dos espectadores sobre, eventualmente, uma mesma história dará, justamente, a riqueza a que a tese se propõe.

Compartilhe suas memórias!
É simples participar do projeto Cidade como tela. Basta relembrar de acontecimentos que marcaram o dia a dia da cidade e que até hoje permanecem como algo relevante também para você. Não há assuntos pré-definidos. Podem passar por cultura, arte e patrimônio. Esporte, política, religião, saúde, educação... De tragédias à exaltação e alegria. De mobilizações sociais a eventos pré-agendados, que fazem o cotidiano de Pelotas.

Os relatos devem ser contados em vídeo, com tempo de duração livre. Não é obrigatório aparecer na gravação. Caso possua fotos ou documentação para ilustrar a memória, utilize o material. Do contrário, fique à vontade para escolher o cenário, aponte a câmera e solte o verbo. Há apenas duas regras para participar: ter a idade mínima de 18 anos e não citar nomes, caso vá disparar críticas durante o vídeo.

Para enviar material, é necessário fazer login e preencher termo de consentimento para uso da imagem. O site é o www.cidadecomotela.com e o endereço eletrônico para fazer contato com o professor Pedro Mascarenhas de Souza Pinheiro é [email protected]. O doutorado é realizado junto ao programa em Artes dos Media da Universidade Lusófona do Porto, em Portugal, sob orientação da professora Andreia Pinto de Sousa.

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