Empatia
Quando a solidariedade bate à porta de quem mais precisa
Além do Albergue e do Centro Pop, grupos de voluntários distribuem alimentos sempre às segunda e terça
Foto: Carlos Queiroz - DP - Sandra é uma das pessoas que prepara os alimentos servidos
O clima frio para quem está protegido em um lar com alimento garantido para aquecer o corpo e a alma pode representar mais uma passagem de estação, mudança de hábitos e algumas camadas de roupas. Mas quem é desprovido desses bens e não têm alternativas para enfrentar o chamado inimigo invisível, conta com anjos em Pelotas que abrem mão de estar com a família para fazer o bem. São voluntários que compartilham da dor de quem não tem o que comer ou onde dormir e, por meio de ações e doações, conseguem amenizar a angústia de moradores de rua. Atualmente, são 300 pessoas que se encontram nessas condições, segundo levantamento da Prefeitura.
Quem esteve do lado de lá sabe bem a realidade das ruas. Ele já recebeu alimento e hoje – seis anos depois da longa jornada para deixar o vício das drogas –, é responsável pela entrega de 180 a 200 quentinhas todas as segundas-feiras, distribuídas nas ruas e em vilas. Douglas Machado Duarte comanda o Projeto Lázaro, da Igreja São Cristóvão, com uma equipe de dez voluntários e dezenas de apoiadores que preferem o anonimato. Uma realidade cruel que foi resgatada em uma conversa com dom Jaime Chemello. “Ele me deu a ideia de projeto que comecei em casa, mas foi crescendo e agora temos a estrutura da igreja”, relata. Lá ele encontra a ajuda das cozinheiras e das coordenadoras, como Sandra Maria Guerder, 70, que na tarde de ontem preparava uma panelada de guisado com milho e molho. Já o feijão fica a cargo de Mairele Costa Santos, 59, que administra o brechó que sustenta o projeto. A ajuda vai além e, quando possível, sacolas com mantimentos são distribuídas junto com à janta. “Aqui é uma senhora que manda os sucos. Outro senhor doou cem pãezinhos e assim vamos formando uma rede de amor e ajuda”, contam as voluntárias.
Duarte explica que os moradores são cadastrados e, sempre no encontro, o grupo procura conversar sobre os direitos de cada um, onde podem dormir, conseguir banho, roupas limpas. “Nós indicamos o Bolsa Família, mas muitas pessoas são invisíveis, pois nem documento têm. Outras já não atinam, pelo estrago que a droga faz. Então o trabalho que eu faço não é pra mim. Ninguém sabe que estou por trás. Mas é o que fortalece. É a forma de retribuir o que fizeram por mim.” O projeto já tem três anos e quem quiser ajudar pode entrar em contato com a igreja.
Alimento e oração
Já o projeto Janta Solidária da Comunidade Católica Eclisial Trindade surgiu em 2012 e nunca parou. São em média cem quentinhas distribuídas todas as terças-feiras, na frente dos Correios, a partir das 20h. Um dos voluntários do grupo jovem, Valdir Antunes de Souza, conta que o número pode variar, como quando chega o frio e a entrega passa a ser de 150 alimentos a cada semana. “Pessoas com famílias acabam levando para os demais integrantes. No cardápio, feijão, massa, arroz e alguma carne como guisado, linguiça ou calabresa. “Me sinto muito feliz, pois além do alimento levamos carinho, atenção e a palavra de Deus em uma simples conversa. Sabemos que muitos estão ali e por falta de alternativa, pois estão à margem da sociedade”, comentou.
Um sono seguro
Com 65 anos de atuação, o Albergue Noturno de Pelotas está sempre aberto para pessoas em vulnerabilidade social, oferecendo cama limpa, banho, janta, café da manhã e dignidade. “A demanda é sempre grande, mas no frio é quando as pessoas buscam por um abrigo”, conta Sônia Monteiro, 64, que há 48 anos se dedica ao Albergue. Ela conta que atualmente são 50 vagas, mas que estão sendo ocupadas em média 30 a 34 por noite, a maioria homens. Muito raro aparecem mulheres, sendo que temos um quarto separado para elas.” As portas abrem sempre às 18h30min, quando os atendidos tomam banho e recebem roupa limpa, uma janta, espaço para dormir e café da manhã às 7h. Depois eles vão deixando o lugar, voltando para as ruas.
Com o apoio de cinco voluntários e a doação de alguns alimentos, toda a ajuda é bem-vinda. Para Sônia, as necessidades básicas são produtos de higiene pessoal, de limpeza, café e açúcar. “Nessa época do ano pedimos a doação de carne, para oferecer alguma proteína para os abrigados”, lembrou. “Aos finais de semana eles (usuários) levam sempre um casaco ou moletom, então também aceitamos roupas usadas em boas condições”, ressaltou a voluntária. A casa não tem como buscar, então quem estiver interessado em ajudar pode entrar em contato pelo WhatsApp (53) 98415-1591 ou no local, rua Padre Felício, 320.
Mais de 200 abordagens
Desde a semana passada, a Secretaria de Assistência Social (SAS) realiza mutirões de abordagem social para atender pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade. Além de servidores, parceiros de duas ONGs tentam criar vínculos com essas pessoas na tentativa de inseri-las nos serviços socioassistenciais e demais políticas públicas de garantia dos direitos, como o Centro Pop. Desde que se iniciou as atividades, foram 210 abordagens com encaminhamentos para diversos serviços. O secretário de Assistência Social (SAS), Tiago Bundchen, conta que no Centro Pop são atendidas em média 110 pessoas por dia, que podem tomar café da manhã, receber encaminhamento para o Restaurante Popular, para expedição de documentos e outros serviços, como banho. “Entre Casa de Passagem e o Centro Pop, são fornecidos, em média, 75 banhos diariamente. Para o Restaurante Popular, são encaminhadas mais de cem pessoas todos os dias, além daquelas que pagam os R$ 4,00 para se alimentar”, contabilizou.
Ainda conforme a SAS, o perfil geral do público é de pessoas adultas, usuárias de álcool e outras drogas. No início de junho está previsto mais um mutirão de abordagem, com a meta principal de identificar pessoas em situação de rua e promover vínculos.
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