Homenagem

Rapper Preta G deve virar nome de rua no Getúlio Vargas

Projeto, a ser votado nesta quarta na Câmara, valoriza artista que vira inspiração às novas gerações

Gabriel Huth -

Pés descalços, voz pesada e olhar firme ao público. Ao subir aos palcos, a jovem Daiane de Oliveira Alves, 28, fazia ecoar alto mensagens defendidas em contato direto com moradores do loteamento Getúlio Vargas. Preta G era porta-voz da periferia, não só de Pelotas. Combatia todas as formas de preconceito, lutava pela preservação dos direitos das mulheres, erguia-se em favor dos oprimidos. Um projeto de decreto legislativo, previsto para entrar em votação hoje na Câmara de Vereadores, dá o nome da rapper à Rua 3; uma das principais vias do BGV.

Dizer sim ao projeto, em plenário, não significa apenas a valorização de uma artista que cresceu por ali, em meio à precariedade de infraestrutura. Dizer sim à ideia é aprovar uma história que virou exemplo de superação no Getúlio Vargas. Preta G é referência à gurizada. Até hoje, quase 11 anos depois da morte da Preta Guerreira que, ao mergulhar na arte, conseguiu deixar para trás um universo também marcado por uso de drogas e pequenos assaltos, na adolescência.

"Queremos destacar essa menina, que conheceu os dois mundos e decidiu apostar na música, cantando a realidade do bairro", ressalta o presidente da Organização Não Governamental (ONG) Anjos e Querubins, Ben Hur Flores. "Assumimos este compromisso, de não deixar a história dela morrer". Aliás, a última vez que Preta G pisou nos palcos foi justamente em viagem a convite da ONG, em maio de 2008, quando estiveram em evento no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Lá, a apresentação da rapper pelotense resultou em pedidos de autógrafo. Reconhecimento. Motivo de orgulho. Lembrança para guardar.

Exemplo de força
A Preta G, do rap, transformava em composições exatamente as mesmas causas que já mobilizavam a jovem Daiane de Oliveira Alves, negra, mãe solteira e com Ensino Fundamental incompleto. Quem conviveu de perto com a artista e a cidadã não esconde a satisfação e chega a arriscar trechos de músicas para enfatizar as lições que espalhava. "Quando eu não estava bem, ela sempre me apoiou. Olhava para as mulheres que sofriam algum tipo de violência e dizia: ´Cadê a mina daí de dentro?' Era uma forma de cobrar a atitude, que ela tanto falava", lembra a amiga Paula Mendonça Pires, 36.

O rapper Guido CNR também faz questão de ressaltar a força de Preta G. "Ela era rapper na essência. Cantava o que vivia". E afirma com o peso de quem dividiu o mesmo pátio e, não raro, a mesma casa, na infância. Embora tio e sobrinha, ambos eram da mesma geração e criaram-se como irmãos. "Vi que ela tinha potencial para ser MC e comecei a estimular para que formasse um grupo", reforça. E foi assim que surgiram Pretos de Atitude e Pensamento Consciente; parcerias que carregavam a marca da Preta Guerreira.

A mesma Daiane Alves aberta a receber orientações do professor Florismar Thomaz que, ainda na adolescência, procurou apresentar a arte como contraponto ao uso de drogas, como a cola. Daiane aceitou a provocação e conseguiu investir na música. No rap. Na cultura popular. "Ela estava fazendo revolução de alguma forma, mas não tinha nem ideia disso", defende Guido CNR. É uma trajetória, agora, valorizada através do nome de rua. Uma forma de enaltecer uma história de vida. E o melhor: de uma liderança identificada com a comunidade.

De quem é a autoria?
Do lado de fora, o projeto tem sido defendido por familiares, amigos e admiradores de Preta G. Na Câmara, o projeto de decreto legislativo foi apresentado pela vereadora Daiane Dias (PSB).

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