Zona Sul
Região tem mais de meio milhão de veículos
De acordo com dados do Detran, o trânsito da Zona Sul é composto por uma frota de 531.337 veículos
Carlos Queiroz -
Não é novidade que a cada dia que passa o trânsito está cada vez mais caótico. Mas esse acontecimento tem uma explicação: mais de meio milhão de veículos circulam na Zona Sul, de acordo com o Departamento de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran RS). E em Pelotas, segundo os mesmos dados, para cada dois habitantes, existe um veículo.
Embora com particularidades regionais, o aumento da frota de veículos é uma tendência nacional. Segundo a professora do curso de Tecnologia em Transporte Terrestre da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Natalia Steigleder, da década de 1960 para os dias de hoje, a frota aumentou 135 vezes, enquanto que a população brasileira aumentou pouco mais que duas vezes. Segundo dados do Observatório das Metrópoles, o número de automóveis cresceu 77% em dez anos. Entre 2008 e 2018 passou de 37,1 para 65,7 milhões. A frota de motocicletas saltou de 13 para 26,7 milhões, especialmente nas cidades pequenas e nas periferias das grandes metrópoles.
As consequências desse aumento são notáveis no dia a dia. Ocupação desigual do espaço público de circulação, poluição sonora, visual e gasosa, além do não desenvolvimento da dimensão pedestre da circulação. A docente explica que tudo isso acarreta em “indivíduos politicamente menos desenvolvidos, dificuldade de negociar conflitos e desenvolver uma alteridade positiva”. Outro ponto destacado é que com uma maior circulação de automóveis, ocorre uma disputa desigual pelo espaço das ruas, o que tensiona as relações e pode aumentar o número de vítimas do trânsito. “Morrem por ano no Brasil em torno de 50 mil pessoas vítimas do trânsito, isto equivale à queda de um avião a cada dois dias no país”, alertou.
Com a evolução significativa da frota em todo o Estado, Pelotas também acabou sofrendo as consequências. De acordo com o secretário de Transporte e Trânsito, Flávio Al Alam, a cidade precisou se preparar para receber os veículos. E essa preparação veio através de diversas obras de mobilidade, requalificação e duplicação nos últimos anos. “Essas ações têm o intuito de suavizar este aumento”, e garantiu que cidade e população não sofrem mais por causa destes reparos.
Alguns dos exemplos citados pelo responsável da pasta foram as obras realizadas nas avenidas Salgado Filho, Fernando Osório, Juscelino Kubitschek de Oliveira e República do Líbano. Outro ponto destacado por Al Alam é o estacionamento rotativo, criado há seis anos. “Mesmo com o aumento de veículos, o Centro melhorou”, afirma. E lembrou que a partir de fevereiro a Zona Azul abrangerá mais ruas, sempre com o propósito de qualificar a mobilidade na área central.
Mesmo com os benefícios apontados pelo secretário, ele reconhece que ainda existem problemas a serem enfrentados, como as rotatórias do Big e da Anhanguera, com os cruzamentos das avenidas Juscelino Kubitschek de Oliveira e Fernando Osório, respectivamente. Em horários de pico essas vias ficam comprometidas e acabam gerando engarrafamento nas redondezas. Obras de duplicação e semaforização são algumas das alternativas pensadas para resolver as dificuldades encontradas pelos pelotenses nesses locais.
Para mobilizar é necessário compartilhar
Uma cidade que deseja ser modelo em mobilidade urbana precisa investir em transportes coletivos, como por exemplo os ônibus. Em Pelotas, segundo Al Alam, mais de cem veículos são novos e protagonistas de uma tecnologia de ponta, que contém câmera, GPS e bilhetagem eletrônica. “Hoje é possível ter uma pontualidade e ter acesso ao trajeto.” A afirmação se refere ao aplicativo que possibilita aos usuários terem acesso aos horários e itinerários dos ônibus, o CittaMobi. A plataforma já alcança um número significativo de adeptos, somando cerca de 42 mil usuários.
Conforme explica o responsável pelo trânsito, algumas das últimas obras do município foram executadas pensando no transporte coletivo, como por exemplo os corredores de ônibus feitos na General Osório e na Deodoro e em breve na avenida Duque de Caxias. Essas construções ficaram conhecidas na cidade pelo tempo que demoraram até ser entregues, a da Deodoro, por exemplo, ainda não foi entregue. O secretário entende os transtornos causados pelas obras e lamenta que isso atrapalhe o itinerário e o tempo de deslocamento da comunidade, mas garante que o resultado final sempre será benéfico para todos.
Outro ponto destacado foi o incentivo ao ciclismo, que chegou na cidade através do BikePel, e dos mais de 51 quilômetros de ciclovia construídos, tornando Pelotas a cidade gaúcha com mais quilômetros de ciclovias disponíveis à comunidade. Para o futuro, que terá que estar preparado para receber os números de veículos que não param de crescer, o foco será seguir incentivando a população a consumir meios alternativos, como o ônibus e a bicicleta. Para isso será necessário investir cada vez mais na qualificação das vias e dos veículos coletivos, oferecendo um serviço ágil, confortável e com preço justo.
Com a palavra, o condutor
Motorista de táxi há mais de 15 anos, Rogério Valério, afirma com convicção: “Pelotas não está preparada para esse aumento de carros nas ruas”.
Em média o trabalhador passa dez horas do seu dia dirigindo nas ruas da cidade e relata que em horários de pico evita passar na Fernando Osório e na rotatória do Big, pois o fluxo de carros é grande e acaba gerando congestionamento.
Em contrapartida, o taxista elogia as obras da Osório, pois notou que o trânsito começou a fluir depois do término dela. “Estava um caos, mas agora está 100%”, revelou. A preocupação do condutor é com o crescimento do comércio nas redondezas da avenida Salgado Filho, pois acredita que o atual modelo de mobilidade não dará conta do movimento. “A cidade está crescendo para aqueles lados e o trânsito não está acompanhando”, frisou
Mais acesso
Natalia entende que essa evolução é resultado da visão do desenvolvimento, tanto da mobilidade como do transporte de carga, baseado no rodoviarismo. Desde a década de 1950, quando Juscelino Kubitschek decidiu que o Brasil cresceria 50 anos em cinco e estimulou a indústria automobilística, o fenômeno dos carros nas ruas não parou de crescer.
Também é importante salientar que nos últimos 15 anos houve um estímulo à compra de automóveis sem que as cidades tivessem como dar conta desse aumento. Segundo ela, quanto mais se aumenta o espaço para a circulação de carros, mais cresce a demanda. “É uma conta que não vai fechar nunca”, disse.
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