Entrevista
Reitor do IFSul fala sobre formação e desafios do Ensino Técnico
Conforme Flávio Nunes, a maioria dos alunos formados saem do IF para seguir na graduação ou ingressar no mercado de trabalho; evasão é um problema a ser enfrentado
Foto: Volmer Perez - DP - Somente no IFSul - Campus Pelotas são cerca de quatro mil alunos ingressantes por ano
Recentemente o Governo Federal anunciou a criação de cem novos campi de Institutos Federais (IF) de educação, ciência e tecnologia. Dentre esses, cinco serão construídos em solo gaúcho, em municípios que têm baixa cobertura de educação (Porto Alegre, Caçapava do Sul, São Luiz Gonzaga, São Leopoldo e Gramado). A estimativa é de um investimento de R$ 125 milhões e da geração de sete mil vagas a mais no Estado. Diante da novidade, em entrevista concedida ao DP, o reitor do Instituto Federal Sul-rio-grandense, Flávio Nunes, compartilha o cenário da instituição que recentemente completou 15 anos de atuação. Somente no campus Pelotas, são mais 30 cursos técnicos, atendendo em média quatro mil alunos por ano.
Apesar da importância da expansão do ensino profissionalizante, há percalços na administração dos institutos devido a cortes orçamentários em investimento e inclusive custeio das unidades já existentes. Questão que tem sido alertada ao Ministério da Educação pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif).

Atualmente qual o perfil do aluno do IFSul?
Em Pelotas, com a tradição da antiga escola técnica e depois com o Cefet, assim como com a expansão do IF, a gente tem muitos alunos do entorno, das cidades da volta. O perfil da instituição também mudou porque começou-se a oferecer mais cursos superiores e pós-graduação, além dos cursos técnicos. A mesma coisa ocorre no CaVG. Nem todos os campi têm nível superior porque estão em implantação ainda, e, portanto, não têm pessoal o suficiente para fazer outras ofertas.
Por isso, a expansão vem no sentido de atender outras cidades que não são atendidas diretamente pelas nossas instituições e que às vezes precisam fazer grandes deslocamentos para poder chegar até o seu curso. A procura de estudantes de outros municípios é intensa, a nossa média de candidato por vaga é de cinco por um, cada vaga oferecida tem cinco candidatos concorrendo. Claro, não são todos os cursos, temos uns que tem um média de procura muito grande e outros menores, mas a média entre todos os cursos chega nesse aproximado.
Como é a formação dos estudantes?
A gente procura nos nossos cursos técnicos, principalmente nos integrados, fazer uma formação integral, não só com os conhecimentos técnicos, científicos, mas também de formação cidadã. Então é uma proposta que procura fazer uma formação bastante aprofundada e dar condições para esse estudante, ao longo da sua caminhada de vida, poder buscar novos conhecimentos sempre. A ideia dos cursos integrados é neste sentido de fazer uma base sólida para o estudante aplicar os conhecimentos técnicos num trabalho que ele venha a buscar e também muitas vezes prepará-lo para outras caminhadas de nível superior.
A qualidade do ensino tanto técnico quanto na grade curricular do Ensino Médio é sempre motivo de elogio, isso tem se concretizado na prática?
É isso que os nossos alunos têm mostrado com aprovações em vestibulares e também nas seleções de empregos, muitas vezes em empresas públicas. [Temos] os nossos cursos subsequentes, que não têm o Ensino Médio junto, só a parte técnica, para aquelas pessoas que já têm o Ensino Médio completo. Elas também podem buscar a formação técnica. Claro, com um tempo bem menor [hoje o ensino integrado tem quatro anos de duração], o subsequente são dois [anos de duração].
Já o Ensino Integrado é o que está muito à frente de todos os outras modalidades, isso em todos os campi, não só em Pelotas. O aluno que sai do IF vai para o mercado de trabalho ou já ingressa no Ensino Superior. Nós temos uma divisão muito grande entre os que vão direto trabalhar e os que vão seguir para uma nova etapa dos seus estudos na graduação. Na nossa última pesquisa deu no entorno de quase 50% dos estudantes que vão buscar trabalho e o restante.
Qual o cenário de evasão no IFSul?
Os cursos subsequentes e concomitantes são os que têm maiores índices porque geralmente são pessoas que já estão trabalhando e acabam tendo mais dificuldade em acompanhar todas as propostas dos cursos. Às vezes o trabalho acaba exigindo mais, isso é um fator que prejudica no êxito da formação. E isso é sempre uma grande preocupação nossa, de buscar estarmos tentando amenizar o máximo possível, mas claro é uma evasão que ainda é muito significativa.
Como está a situação financeira do Instituto?
Na verba de custeio, no ano passado, nós tivemos um orçamento equiparado ao mesmo de 2019, então retrocedemos um pouco, mas ainda sim defasado. E para este ano, nós vamos ter a repetição do mesmo orçamento de 2023. O que nos gera problemas, porque temos diversos contratos que precisam ser atualizados, principalmente os de terceirizados, porque todo ano tem o aumento salarial das categorias. Ou mesmo energia elétrica, água, também têm a readequação de valores. Então, certamente, temos que nos adequar a essa situação, estamos tentando junto ao Ministério da Educação uma melhoria nesse orçamento.
E quanto aos investimentos necessários?
Na parte de investimentos nós temos muitas deficiências, principalmente para a continuidade de implementação dos campi novos. Esse ano tem a perspectiva de termos R$ 752 milhões de investimento previsto no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] para o que chamamos de expansão e consolidação da rede. Esses cem novos campi que foram anunciados vão começar a ter investimento do PAC. O total previsto é R$ 3,9 bilhões, ao longo dos próximos quatro anos, e tem possibilidade de acessarmos esse recurso para dar continuidade aos institutos que já estão em operação.
Diante da falta de investimento, e inclusive de verba para o custeio necessário dos IFs já em operação, como é vista a criação de mais cem novos campi no Brasil?
Acho que nós temos sempre que comemorar quando a gente consegue chegar em cidades e espaços que antes não eram atendidos por uma educação técnica profissionalizante, pública e de qualidade. Ou seja, a gente tem muitas pessoas aleijadas dessa possibilidade, ou viajando para lá e para cá todos os dias, e a implantação vai ampliar a possibilidade das pessoas de estudar dentro da sua própria cidade ou com mais facilidade.
Claro que tem esse antagonismo, da questão que teremos que ter mais recursos para custeio e isso também temos enquanto Conif alertado para o Ministério da Educação dar mais atenção, que o aumento da quantidade de campi vai gerar a necessidade de termos o aumento de custeios das nossas instituições.
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