Manifestação
Residentes de Cirurgia Geral deflagram greve
Médicos cobram estrutura para realizar procedimentos;
Foto: divulgação - DP - Falta de anestesistas e de bloco cirúrgico à disposição seriam as principais razões para a mobilização
Por Michele Ferreira
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A semana começa com greve de residentes no Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel). Os 13 médicos, em formação na área de Cirurgia Geral, interromperam as atividades por tempo indeterminado e cobram providências da direção. As denúncias incluem vários pontos, mas o que atinge diretamente a comunidade, neste momento, é o número reduzido de procedimentos realizados. Em alguns casos, os profissionais teriam efetuado apenas uma cirurgia por semana. Às vezes nenhuma. Fato que é ruim para as duas pontas: a formação dos médicos e a ausência de agilidade no atendimento aos pacientes.
A situação está diretamente ligada ao fim da Residência em Anestesiologia - ainda não oficializado - e à redução de dois anestesistas no quadro, que já não era o ideal: um deles pediu exoneração e o outro está em licença de saúde. A estrutura restrita a apenas três salas cirúrgicas - uma delas reservada a quadros de urgência e emergência -, também impede que a demanda deslanche. "Essas salas devem ser compartilhadas entre um mínimo de 12 especialidades cirúrgicas e acaba sendo inviável a adequada vazão da demanda proveniente dos ambulatórios e, consequentemente, a formação do médico especialista", afirmam os residentes.
A falta de aulas teóricas, previstas na programação, também desponta entre as queixas. Problemas relacionados à troca do quarto de 'conforto' para descanso da categoria, assim como a necessidade de reservar a janta a ser disponibilizada ao plantonista em finais de semana e feriados integram a lista de reclamações. "Tudo isso que tem ocorrido, em especial a impossibilidade de realizar cirurgias por falta de bloco e de anestesista, faz com que alguns já pensem em desistir e voltar pra casa", contam. Afinal, a grande maioria é de fora do Rio Grande do Sul e buscou na UFPel a possibilidade de se qualificar.
Sem data certa, insegurança cresce
Nesta segunda (21) completou a primeira semana da internação. E, em um intervalo relativamente curto de tempo, o pelotense Geovane Rodrigues dos Santos, 53, já teve a cirurgia transferida do dia 17 para a quinta-feira, 24, e, agora, suspensa. "Pelo que me disseram na sexta de noite, não iam poder fazer por falta de anestesista. Inclusive queriam me dar alta, mas piorei e acabei ficando", conta.
Em cerca de dez meses, o estoquista perdeu 24 quilos em decorrência da acalasia, um distúrbio que compromete o bom funcionamento do esôfago. Uma cardioplastia, portanto, será fundamental para corrigir e garantir o trânsito da alimentação. "Hoje a minha dieta é à base de alimentos pastosos e líquidos. Eu preciso muito dessa cirurgia. Não tenho uma vida normal", desabafa. Não raro, os vômitos voltam, assim como ocorreu nos últimos dias.
Uma definição de quando será o procedimento, portanto, é aguardada com ansiedade. Antes da redução na equipe de anestesistas, há cerca de dois meses, os residentes em Cirurgia Geral faziam entre quatro e seis procedimentos por semana - garantem.
O que diz a direção do hospital
A superintendente do Hospital-Escola, Carolina Ziebell, admite que a equipe de anestesistas está abaixo do necessário. Pelo porte da instituição, referência para toda a Zona Sul, 11 profissionais seriam necessários. Atualmente, apenas sete compõem o quadro, com o recente pedido de exoneração de um deles e o afastamento por problemas de saúde de outro.
"Mas estamos envidando todos os esforços para recomposição", sustenta. A convocação de 1.075 aprovados da lista nacional do concurso da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), desde março deste ano, ajudaria a comprovar o empenho na solução. Sem o resultado esperado e com os prazos eleitorais superados, um processo seletivo simplificado está agendado para janeiro. Seis vagas serão abertas. Enquanto isso, a queda no número de procedimentos é perceptível. A média é de aproximadamente 300 cirurgias por mês. O novembro, entretanto, deve ser fechado com cerca de 200.
Quanto à limitação de salas disponíveis no bloco, a superintendente volta a defender a importância da construção do novo HE, que mais do que dobraria a estrutura. Passaria de três para sete salas à disposição. "Hoje estamos fazendo o que é possível para otimização do uso das salas, mas a solução definitiva é o novo HE", reitera.
Ao se referir à conversa da tarde desta segunda com os residentes, Carolina garantiu que houve avanços nas tratativas sobre alimentação e sala de conforto dos profissionais.
Denúncia chegou ao MPF
Um procedimento tramita no Ministério Público Federal (MPF), em Porto Alegre, para apurar a suposta precariedade do programa de Residência Médica em Cirurgia Geral da UFPel. Três ofícios devem chegar, possivelmente nesta terça, ao presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Carlos Orlando de Souza, à superintendente do HE Carolina Ziebell e ao presidente da Ebserh, Oswaldo Ferreira. Carolina e Ferreira terão prazo de dez dias corridos para se manifestar a respeito dos fatos. O expediente aberto pelo 18º ofício da Procuradoria da República no Rio Grande do Sul - Núcleo de Controle da Administração - está sob responsabilidade do procurador Rodrigo Valdez de Oliveira.
Confira a posição do Simers
Um encontro marcado para esta terça, às 16h, será realizado na sede do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), em Pelotas. O objetivo será "tomar ciência de todos os dados referentes à pauta, além de dar encaminhamentos e assessoramento jurídico ao tema", afirmou a entidade, na manhã desta segunda, através da assessoria de imprensa.
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