Saúde

Residentes do HE/UFPel iniciam greve

Por falta de anestesistas, prática cirúrgica foi reduzida; hospital diz estar tentando achar soluções para a escassez de profissionais

Foto: arquivo/DP - Hospital admite dificuldades na contratação de anestesistas

Por Lucas Kurz
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Após meses de discussões, médicos residentes do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel) iniciaram na sexta-feira (20) greve e divulgaram uma carta aberta à comunidade apontando os motivos do movimento. Com críticas à instituição, os profissionais pedem inclusive a extinção do próprio programa de residência que fazem parte para culminar em suas transferências para outras unidades, visando continuar sua formação técnica. O estopim da ação foi a redução de médicos anestesistas na casa de saúde, o que desde novembro vem causando a diminuição de cirurgias e, por consequência, das atividades práticas dos residentes. Por meio de nota - sem citar a greve dos alunos - o hospital admitiu dificuldades para a contratação dos anestesistas.

Na carta, assinada por nove dos 13 residentes (a reportagem apurou que alguns se formam no final deste mês e, por isso, não participaram do movimento, além de uma pessoa que não quis se envolver), os médicos apontam a dificuldade de manter seu processo final de formação sem as práticas. "Sem cirurgia, o residente não tem capacidade de se tornar cirurgião. Por entender que atualmente o hospital não tem condições de fornecer ensino de qualidade, neste momento lutamos em prol da extinção do PRM [Programa de Residência Médica] Cirurgia Geral e transferência dos residentes para outra instituição que possa fornecer estrutura de ensino. Não podemos compactuar com a irresponsabilidade de formar cirurgiões sem a devida capacidade técnica", diz trecho do texto.

Os alunos também não pouparam críticas ao próprio hospital, citando o impacto regional do problema, já que a instituição é referência em áreas como a oncologia, e, no momento, vem realizando um baixo número de cirurgias. Eles citam que na quinta-feira, por exemplo, durante toda manhã o HE teria ficado desassistido de anestesistas. Eles classificam como "ineficaz" o movimento para reposição das vagas. Em conversa com a reportagem, um dos grevistas, que pediu para não ser identificado, explicou que os pacientes não ficam sem cuidados, já que contam com os médicos concursados. "Por mais que a gente não esteja lá, eles vão ter assistência", garantiu.

O residente afirmou ao DP que a sensação é de decepção entre os profissionais. "A gente ficava de braço cruzado praticamente o dia todo, sabia que não ia operar", lamentou. Como um "novato" na profissão, ele diz temer o reflexo que isso trará para a sua carreira.

Hospital lamenta situação
Por meio de nota, o HE traçou uma espécie de linha do tempo da crise. Sem mencionar a greve de alunos, o hospital diz que "até o momento, todas as medidas técnicas e administrativas cabíveis na estrutura administrativa pública foram tomadas pelo Hospital Escola, UFPel e rede Ebserh [Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares] a fim de minimizar os prejuízos aos médicos residentes e à população. Também atuamos de forma conjunta à Coreme [Comissão de Residência Médica] e Departamento de Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina na busca de qualificação do serviço e manutenção do propósito de nossa instituição - ensinar utilizando a assistência à saúde como instrumento e primando, sempre, pelo pleno respeito e atenção a nossos usuários".

Hoje com 172 leitos, o dimensionamento feito junto ao contrato com a Ebserh previa 11 anestesistas efetivados através de concurso, número que nunca foi alcançado. Entre 2015 e 2022 haviam nove. No último ano, a direção afirma ter feito mais de mil chamamentos de candidatos do concurso nacional, sem sucesso. Com o fechamento da residência na área, seis residentes que atuavam em conjunto com médicos concursados deixaram de participar do atendimento. O motivo do encerramento foi a não efetivação da reposição de um professor responsável pela carga teórica do programa.

A nota explica que, desde então, há apenas um profissional escalado por plantão de 24h, não realizando dois procedimentos simultâneos. Por isso, mantém apenas cirurgias de urgência e possíveis emergências obstétricas. A instituição ainda reforça que os profissionais do quadro atual estão fazendo hora extra para efetivação da escala.

Para tentar resolver o problema, o hospital justifica que foi tentado processo seletivo simplificado, com inscrições até 1ª de janeiro, sem interessados. O prazo foi prorrogado até este domingo, não tendo tido, até sexta-feira, nenhum candidato. O texto reforça ainda que foi contratada uma terceirizada, via chamamento público com caráter emergencial. A empresa Ortomed venceu e iniciou os trabalhos no dia 10 de janeiro, com obrigação de manter um anestesista de plantão por 12 horas diárias. Porém, a licitada está com dificuldades de cumprir o acordo e o hospital diz estar analisando a possibilidade de romper o contrato e chamar a segunda colocada. Por fim, o HE diz que a licitação para contratação de empresa para fornecimento de anestesistas deverá ser publicada em fevereiro e, em caso de sucesso, será possível completar o quadro e retomar o pleno atendimento.

Sobre o ensino, a instituição lembra o acordo com a Santa Casa de Misericórdia, com aditivo assinado em novembro com validade de um ano, o que permite ampliar as atividades de ensino, com maior campo de prática em saúde hospitalar.

Cerem irá ao hospital
Na próxima terça-feira, às 9h, a Comissão Estadual de Residência Médica (Cerem) irá ao HE para verificar as denúncias.​

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