Direção
Rotina de trabalho afeta a saúde dos motoristas profissionais
Hábitos relacionados à profissão podem resultar em doenças crônicas, como hipertensão e diabetes
Paulo Rossi -
Jornadas longas, falta de atividade física, má alimentação, estresse. A combinação desses fatores, presentes na rotina de muitos motoristas profissionais, pode ser explosiva. Aliados à falta de cuidado com a saúde, resultam em altos índices de diabetes, hipertensão e sobrepeso entre a categoria. O trânsito caótico e os constantes assaltos completam o cenário perfeito para o aparecimento de doenças crônicas, tanto físicas quanto mentais.
Pesquisas recentes feitas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) revelam sintomas perigosos entre motoristas de ônibus, táxi e caminhão - 73,8% deles estão acima do peso ideal, 28,9% são hipertensos e 57% consideram a profissão perigosa. Alguns desses fatores podem ser evitados ou controlados através do cuidado com a alimentação e da prática de exercícios físicos. Nos consultórios, profissionais da saúde já sentem mudanças no perfil dos pacientes. Se antes eles só procuravam atendimento quando os sintomas se agravavam, hoje começam a buscar prevenção.
O taxista José Rego procurou atendimento fisioterapêutico no Sest Senat, serviço de apoio social e educacional aos trabalhadores do transporte. Ele considera essencial buscar o auxílio para corrigir problemas na coluna decorrentes das horas que passa ao volante. Sua esposa Crista Rego o acompanhava nas atividades. O instrutor físico Rogério Ribeiro explica que o estresse causado pelo trânsito, as condições ruins das vias e o excesso de tempo sentado causam problemas de postura e dor lombar. O profissional aconselha os motoristas a fazerem alongamentos durante os intervalos entre um passageiro e outro. "É necessário parar a jornada para caminhar um pouco, nem que seja por cinco minutos", fala.
Dentre os motoristas de táxi, a pesquisa da CNT revela que 46% não têm local certo para fazer as refeições. A nutricionista Cristiane Pereira afirma que nesses casos é comum o profissional não planejar o que vai comer e acabar fazendo escolhas inadequadas. Ela lembra que a alimentação saudável é uma forma de prevenção ao sobrepeso. Gradativamente, ela vê mudanças nos motoristas, que estão começando a procurar atendimento preventivo. No consultório, ela orienta os pacientes a planejarem refeições balanceadas para a semana inteira. "Os caminhoneiros, principalmente, têm dificuldade em achar locais com alimentação ideal. Meu conselho é que levem marmitas nas viagens", fala. O estudo com os motoristas de caminhão expõe outro dado preocupante: 51% deles fazem apenas três refeições diárias quando o ideal é de cinco a seis.
Doenças crônicas geralmente resultam do sobrepeso, entre elas a hipertensão e o diabetes. Cristiane alerta que outros problemas podem ser desencadeados desse cenário, como a ocorrência de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou mal súbito. Os sintomas de todos esses problemas podem ser silenciosos, por isso a importância dos exames preventivos, explica.
Os constantes assaltos sofridos pelos motoristas profissionais, em especial os de ônibus, também são fatores prejudiciais à saúde. Carlos Eduardo Borges trabalha em uma empresa de ônibus há 21 anos - os primeiros 14 como cobrador e os últimos sete como motorista. O medo e o estresse quase o fizeram desistir da profissão - ele só seguiu trabalhando por necessidade. Depois de um dos muitos assaltos de que foi vítima, precisou ficar afastado do serviço para não "surtar". "Eu estou a ponto de, sem querer, fazer uma bobagem no trânsito", confessa. As horas sentado ao volante trouxeram prejuízo também a sua saúde física. "Precisei procurar um médico para tratar problemas no joelho", conta.
Cobradores do transporte coletivo também sofrem com os assaltos e as jornadas desgastantes. Uma delas é Fernanda Ferraz, vítima da violência três vezes. "O pior é ter de seguir trabalhando imediatamente após o assaltante sair do ônibus", pontua. A pressão para cumprir os horários é outro fator que eleva o psicológico ao extremo. "A população e o trânsito vêm aumentando e a frota diminuiu. Não temos descanso entre as viagens", fala. A consequência disso são dores musculares intensas. "Sempre que chego em casa preciso tomar algum relaxante muscular", conta.
Algumas mudanças podem trazer mais qualidade de vida
Faça refeições balanceadas e sem intervalos extensos entre elas;
Não procure profissionais da saúde somente quando aparecerem os sintomas. Faça exames preventivos;
Pratique atividades físicas regularmente;
Alongue-se durante a jornada de trabalho. Não fique longos períodos sentado;
Procure atendimento psicológico para tratar traumas decorrentes da violência.
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