Pesca

Safra de 1,5 mil toneladas de camarão

Depois de cinco anos sem captura, pescadores comemoram o retorno do crustáceo à lagoa

Paulo Rossi -

O prazo para a captura do camarão está próximo do fim e os pescadores já sentem mudanças positivas em relação aos anos anteriores. Os pesquisadores da área estimam que 1,5 mil toneladas do crustáceo sejam pescadas até o dia 30 de maio. A redução no volume de chuvas e a consequente entrada da água salgada na Lagoa dos Patos são os principais motivos para a melhora.

Laci Miranda trabalha com a pesca há 43 anos. Depois de amargar por quase cinco anos praticamente sem safras, ele vê o negócio melhorar. "Estamos saindo quase todos os dias para pescar. Neste ano deu para se safar", comenta. O pescador avalia que o melhor período foi no início deste mês. Além do camarão, a tainha também vem em abundância e, segundo Laci, vale mais a pena para o pescador. "O preço do camarão é muito baixo, às vezes não dá para pagar os gastos com combustível e pessoal", fala.

O consumidor também comemora o retorno do camarão à lagoa. Neimar Madruga foi até a Colônia Z-3 para buscar o crustáceo e gostou do que viu. "Aparentemente tá bom. Vou levar para provar e, se a família gostar, eu volto e busco mais", afirma. Ele considera que o preço está bastante acessível em relação aos últimos anos. Os valores mudam todos os dias, dependendo da quantidade capturada e do tamanho. Durante a última semana o camarão sujo chegou a ser comercializado por R$ 10,00 o quilo no Pontal da Barra.

Nas peixarias a procura diminuiu um pouco após a Semana Santa, mas continua grande. Para Osvaldina da Silva, funcionária de um desses estabelecimentos, o preço e o movimento devem se manter regular até o fim da safra, no dia 30 de maio. As peixarias também vendem tainha a uma média de R$ 10,00 o quilo.

O que influencia na safra

O professor Luiz Felipe Dumont, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), explica que a variabilidade entre as safras é enorme. Fatores como a abundância de crustáceos reprodutores, a velocidade das correntes marítimas, a direção dos ventos, o volume de chuvas, a disponibilidade de alimento para as larvas e até mesmo a intensidade da pesca influenciam diretamente na safra.

Entre os anos de 2014 e 2016 foram registrados longos períodos de chuvas intensas. Esta água doce acabou aprisionada no estuário, impedindo a entrada da água salgada que traz o camarão. Ainda em dezembro de 2017 a salinidade da Lagoa dos Patos se mantinha extremamente baixa, de acordo com os pesquisadores. Porém, os fatores climáticos contribuíram com os pescadores e a água salgada acabou entrando.

A prática comprovou a teoria. Nilmar Conceição, presidente da Associação dos Pescadores da Colônia Z-3, comemora a melhora. "Agora a gente vê as pessoas trabalhando e a situação financeira melhorando", comenta. O volume pescado, no entanto, ainda não se compara à média que costumava ser registrada antes de 2013. A expectativa dos pesquisadores é de que esta safra renda 1,5 mil toneladas, o que corresponde à metade do que era produzido.

O problema pode estar nos Molhes da Barra

A ampliação dos Molhes da Barra na praia do Cassino é citada pelos pescadores como um dos principais motivos para a piora na safra registrada nos anos anteriores. Dumont afirma que o argumento vem sendo discutido intensamente. "Acredito que essa hipótese seja possível", afirma.

O camarão que chega na Lagoa dos Patos tem origem no litoral de Santa Catarina, onde os adultos reproduzem. Durante a primavera, as correntes marinhas transportam os crustáceos em direção ao sul. Enquanto aguardam uma chance de entrar na lagoa, eles se mantêm na zona de arrebentação na praia do Cassino. No entanto, o camarão está adaptado a aguardar por um tempo determinado nessa região. Caso não consigam entrar na lagoa, vão acabar morrendo por causas naturais.

Antes da ampliação dos Molhes, a parte leste (São José do Norte) era 1,1 km maior do que a oeste (Rio Grande). Agora, a diferença entre elas é de 800 metros. O acesso do crustáceo à lagoa se dá pelo canal formado entre as pedras. O professor explica que essa alteração na circulação pode dificultar a entrada das larvas, resultando em prejuízo para a safra.

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