Prevenção

Saiba quais os fatores que pouparam Pelotas de uma enchente

Geografia, sistema de drenagem e ferramentas de contenção foram fundamentais para desaguar os 524 milímetros de chuva em setembro

Foto: Divulgação - DP - Em dias críticos, com muita chuva em pouco tempo, muitos pontos ficaram alagados por algum tempo, mas a água escoou rapidamente

Vencido o setembro mais chuvoso dos últimos 110 anos, com 524 milímetros registrados no pluviômetro da barragem Santa Bárbara, Prefeitura, Sanep e estudiosos analisam o comportamento da cidade em relação aos alagamentos e cheias. Em dias críticos, com muita chuva em pouco tempo, muitos pontos ficaram alagados por algum tempo, mas a água escoou rapidamente. Já nos oito pontos críticos de alagamentos monitorados pela Defesa Civil, moradores precisaram sair de casa, como na Vila Farroupilha e Colônia Z-3, sendo que o principal fator para a cheia foi o vento, além da chuva de granizo que prejudicou muitas famílias na Zona Rural. Ao todo foram 163 pessoas desabrigadas, sendo que 27% conseguiram retornar para suas residências. Mesmo diante de um cenário assustador, Pelotas foi poupada das enchentes, como as que destruíram cidades do Vale do Taquari e desabrigaram centenas em Alvorada, e aqui perto, como em Pedro Osório e Cerrito.

Dentro das medidas de contenção, o Sanep já anunciou o investimento de R$ 12,3 milhões na construção da Casa de Bombas Farroupilha, que beneficiará cerca de 1,3 mil famílias e aproximadamente 35 mil pelotenses da zona oeste da cidade, local onde teve cheia e desalojou famílias. Os recursos também servirão para recuperar do dique do canal Santa Bárbara. "É importante destacar que a barragem não tem comportas. A informação falsa de que a Prefeitura iria abri-las assustou muitos moradores. Nós temos dique de contenção. Portanto, em um situação de cheia, a primeira orientação é seguir os alertas da Defesa Civil e não acreditar em fake news", destacou o coordenador do órgão municipal, Fernando Bizzarro.

Para ele, Pelotas se comportou bem diante do grande volume de chuva e atribui o desempenho a vários fatores, como a cidade ser em uma área mais plana e que nas áreas de alagamentos - hoje são oito ao todo - a drenagem funcionou bem em função do serviço de desobstrução de canais. "As bombas funcionam bem e os canais fluíram. O que nos pegou desta vez foi o vento, que trouxe a água do Guaíba, elevando o nível da Lagoa e do canal São Gonçalo, que é onde deságua a água da chuva da cidade."

Uma outra ferramenta aliada ao combate às cheias são os diques de contenção. De acordo com o Sanep, a cidade conta com o sistema de contenção do Laranjal, que é mantido pela Secretaria de Serviços Urbanos e Infraestrutura (SSUI) e o dique na Estrada do Engenho - que recentemente foi requalificada. "Com o instalado no Laranjal, a água da Lagoa não transbordou, evitando enchentes", lembrou Bizarro.

Prevenção
A diretora-presidente do Sanep, Michele Alsina, comentou que o sistema de macrodrenagem funcionando a pleno, com a dedicação dos profissionais efetuando a substituição de equipamentos, contribuíram para que Pelotas não sofresse tanto. No entanto, ela lembra que a cidade não está imune a futuros extremos climáticos.

Para isso, o cronograma de manutenção das estruturas para o pleno funcionamento da macrodrenagem é mantido em dia. "Todas as casas de bombas do Município foram modernizadas e possuem equipamentos novos e com recém-reformados, prontos para operar em máxima capacidade para dar vazão às águas das chuvas", observou a diretora-presidente.

Pelo programa de limpeza de canais e de bocas de lobo, fundamental para os efeitos dos desastres naturais, a desobstrução de todos locais ocorre ao menos duas vezes por ano. Entretanto, Bizarro ressalta que a população precisa cooperar. "Nós tivemos uma bomba queimada por causa de lixo grande e volumoso. Em uma das casas, encontramos dois sofás que obstruem a passagem da água.

Entre as vantagens
O engenheiro Agrícola e professor da UFPel, Maurizio Silveira Quadro, explica que as principais questões para Pelotas não terem sofrido enchentes nos mesmos moldes que a região do vale do Taquari foram os volumes de precipitação nas cabeceiras dos rios, além das diferenças de relevo das regiões. A região do Vale do Taquari, por exemplo, tem um relevo mais acentuado, o que causa um menor tempo de concentração da água na bacia hidrográfica, ou seja, o pico de cheia chega antes nos lugares.

O engenheiro destaca ainda que existe diferença entre enchente e alagamento, sendo que os dois eventos são relacionados à inundação, mas eles têm diferenças importantes em termos de causas e características. "A enchente é um evento natural, que ocorre quando um corpo hídrico transborda devido ao aumento do nível de água. Isso geralmente é causado por chuvas intensas e ocorrem principalmente em regiões próximas a corpos d'água. Um alagamento ocorre quando uma área fica inundada devido ao acúmulo de água, mas isso não está necessariamente relacionado a um corpo de água transbordando. Geralmente é causado por chuvas intensas, entupimento de sistemas de drenagem, obstrução de bueiros, entre outros fatores."

Os alagamentos podem ocorrer em qualquer área urbana e não dependem necessariamente da proximidade de corpos de água. Geralmente eles são imprevisíveis, pois podem ocorrer mesmo em áreas que geralmente não estão sujeitas a enchentes
Desta forma, algumas regiões de Pelotas sofreram com enchentes. A colônia Z-3 e Pontal da Barra no Laranjal são exemplos de localidades que até hoje sofrem com as cheias da Lagoa dos Patos. Outros lugares da cidade sofrem com alagamentos reincidentes.

O caminho das águas
O especialista lembra ainda que a dinâmica das cheias na região tem algumas questões bastante peculiares. "Temos que entender que estamos em uma região que recebe toda a água que chega no Guaíba, como o rio Jacuí, rio Gravataí, rio dos Sinos, rio Caí, além de outros pequenos afluentes, e toda área da Lagoa Mirim, que chega na Lagoa dos Patos através do canal São Gonçalo. Isso mostra que se chover em qualquer dessas regiões a água acaba chegando aqui", conta. A questão é que existe somente uma saída para toda essa água: o mar. E com só uma saída, o canal da barra em Rio Grande. "Então, qualquer questão que dificulte a saída dessa água para mar causa problemas na nossa região. Tais como direção do vento (que conforme for, atinge diferentes comunidades), intensidade e rajada além das marés.

Contenção
Depois de uma grande cheia em 2015, foram construídos diques no Laranjal, assim como o conjunto de bombas. A obra fez com que a área do balneário Valverde tivesse consequências mínimas durante o evento de 2023. "Sem essas estruturas, tenho certeza que teríamos uma área atingida, muito mais expressiva e com consequências e prejuízos a população muito maiores que o temos visto", comentou. Para o professor, apesar dos esforços constantes do Poder Público para manter a estrutura do dique e do sistema de bombas, existe a necessidade de melhoria contínua dessas estruturas.

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