Saúde da família
Saúde de casa em casa
Agentes comunitários de saúde acompanham cerca de 220 mil pessoas em Pelotas
Paulo Rossi -
A chegada na casa da dona Rosa é como na própria casa. A bolsa fica sobre o sofá e, em seguida, já dirige-se à cozinha. Sentadas à volta da mesa, aos goles de café preto, a conversa pode durar horas. As visitas da agente comunitária de saúde Beatriz Helena da Silva, 50, à residência de dona Rosa Schein, 69, ocorrem há cerca de dois anos. Os assuntos vão desde um recente tratamento para bronquite até a mudança de um vizinho - as duas moram na rua Iara Silva, no loteamento Guabiroba, em Pelotas.
O loteamento é atendido pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Guabiroba, que funciona no formato Estratégia de Saúde da Família (ESF) e conta com dez agentes. Diariamente as equipes realizam visitas nas casas das pessoas e funcionam como uma ligação entre a comunidade e a unidade de saúde. Os moradores são cadastrados em um sistema criado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com dados sobre a residência, animais domésticos, se há doentes, acamados, idosos, gestantes, entre outras informações úteis para os atendimento.
Moradores das comunidades onde atuam os agentes comunitários ficam responsáveis por identificar problemas comuns na saúde e situações que apresentem riscos à população. Conforme informações do Ministério da Saúde, são 220,8 mil habitantes atendidos pelo modelo de Estratégia de Saúde da Família em Pelotas. As 35 UBSs que atendem no modelo ESF contam com um total de 345 agentes, distribuídos em 67 equipes. Nestes aspectos, abrangência e número de equipes, a cidade fica atrás apenas de Porto Alegre.
"São uma espécie de elo entre a comunidade e a UBS local. Eles informam a situação de pacientes, gestantes, riscos de dengue, uma série de informações para pensarmos estratégias de ações", sintetiza a secretária de Saúde, Ana Costa.
De casa
Na casa de Rosa Schein, Beatriz é Bia. "Eu tenho ela no Whats e a gente já fica se falando pelo celular pra qualquer coisa", conta Rosa. Por ser moradora da comunidade, Beatriz está inserida e é agente em tempo integral. Conforme vai completando o trajeto até a casa visitada, ela conta que conversa com cada pessoa. No caminho até dona Rosa, conhece todas as casas, muito em função do trabalho. Desde quando começaram as visitas, o uso da UBS se tornou mais constante para Rosa. Hoje ela participa do grupo de tricô terapêutico, faz artesanato em casa e tem acompanhamento próximo da unidade.
Através de um cartão, quando Rosa precisa do posto, ela já é identificada através de seu número do SUS e ficam disponíveis para o médico todas as informações sobre a residência e as características individuais da paciente. "Tem vezes que só um abraço ou uma conversa já te preenche", garante dona Rosa.
Não muito longe dali, uma nova visita é realizada, desta vez para Maria José Branco, de 68 anos. Desde agosto de 2017 ela luta contra um câncer de mama e divide um pouco destas batalhas com a agente Beatriz. Quando descobriu a doença, as lágrimas também foram compartilhadas. "O atendimento humano vale mais que uma receita", diz Maria José, que também tem seu tratamento acompanhado pelos agentes. A prioridade, na UBS Guabiroba, são as visitas a acamados. Beatriz chega a visitar até dez residências por dia.
Trabalho na prevenção
A diretora do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Elaine Tomasi, explica as diferenças entre o chamado atendimento que envolve equipes de Estratégia de Saúde da Família e o modelo tradicional. O modelo tradicional dispõe normalmente de uma equipe com médico, enfermeiros e técnicos para atender conforme a demanda de pacientes. Já no ESF, são incluídos agentes comunitários de saúde, que trabalham na prevenção, no cadastramento e no acompanhamento de famílias. "Se tem uma gestante, por exemplo, acompanha durante a gestação e depois a vacinação da criança", exemplifica.
O médico coordenador da equipe também é responsável por encaminhar para especialistas quando são detectados problemas. O foco nas áreas atendidas por estas políticas é a prevenção. A expansão nos últimos anos do formato neste momento está estancada. Com as mudanças institucionais no governo federal, comenta Elaine, o programa hoje tem menor atenção dentro do Ministério. Desde 2012, as unidades com o formato aumentaram em Pelotas. De cerca de 30% de cobertura, os índices alcançaram 64% em 2018.
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