Secretaria da Agricultura lança pesquisa inédita sobre extrativismo de butiá no RS

Pesquisa revela, entre outros dados, que há cerca de 5,3 mil hectares de butiazais em propriedades rurais no Estado

Fernando Dias/Ascom/Seapi - Especial DP - Frutos in natura, polpa do fruto de butiá e cachaça ou licor de butiá são os produtos comercializados

O extrativismo de butiá é tema de um estudo desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi). A pesquisa é coordenada pela mestre em Desenvolvimento Rural e doutora em Gestão, Larissa Ambrosini, e se transformou na Circular Técnica “Diagnóstico do extrativismo, processamento e comercialização de produtos oriundos de butiazais no Rio Grande do Sul”, lançada recentemente.

O projeto foi executado entre 2019 e 2021 por pesquisadores da Seapi, com a colaboração de extensionistas da Emater/RS-Ascar. A finalidade, segundo Larissa, foi realizar um diagnóstico sobre o extrativismo do butiá, fornecendo dados sistematizados acerca dessa realidade em nível estadual. “Os resultados mostram que há cerca de 5.300 hectares de butiazais em propriedades rurais no Estado e mais de 400 mil plantas distribuídas em 28 mil estabelecimentos rurais”, conta. O número de famílias que utilizam algum produto do butiazal é de mais de 16 mil. E a região Noroeste concentra o maior número de famílias que tanto coletam quanto fazem uso de algum produto do butiazal.

“Esses produtos são utilizados, sobretudo, para autoconsumo, sendo os principais: o uso do fruto in natura, a produção de cachaça ou licor (curtidos com os frutos do butiazeiro), e a produção de suco a partir dos frutos”, explica Larissa. De acordo com ela, quando há venda, os principais produtos são: frutos in natura, polpa do fruto de butiá e cachaça ou licor de butiá.

Apesar do potencial diversificado, a pesquisa mostra que atualmente a utilização da palha é muito reduzida: 7% dos entrevistados declararam usar esse produto, enquanto 95% disseram aproveitar os frutos; 22% fazem uso ornamental das plantas e 4% afirmaram utilizar o caroço (amêndoa) do butiá.

“Comparando a utilização dos produtos do butiazal entre grupos de agricultores, segundo o tipo de manejo, a pesquisa constata que a prática do extrativismo é mais difundida entre os produtores que adotam o manejo orgânico”, destaca Larissa.

Na opinião de técnicos extensionistas e de produtores rurais, o principal entrave para desenvolver o extrativismo de butiá é a falta de estrutura de processamento. E as principais vantagens são a baixa demanda de insumos e a facilidade no manejo, na opinião dos produtores rurais.

“De fato, por ser uma fruta nativa, adaptada às condições do Estado, o butiá necessita de muito pouco manejo e praticamente nenhum insumo. E esse é um fator que os próprios agricultores que já praticam o extrativismo destacam como uma vantagem”, diz a pesquisadora. “O butiá é encarado como uma renda extra, pois há o entendimento de que se trata de uma cultura que não demanda custo, nem mão de obra para o cultivo. A demanda de trabalho fica restrita à colheita e classificação dos frutos, e os custos estão relacionados ao processamento e armazenamento.”

Mais dados

O estudo aponta ainda que, atualmente, a cultura contribui pouco com a renda da maior parte das famílias. De maneira geral, 81% dos entrevistados declararam não obter renda com a extração e o processamento de produtos do butiazeiro, e 16% disseram que esses produtos contribuem de 1% a 5% para a renda da propriedade. Separando os dados por grupos, a pesquisa mostra que, entre produtores que adotam o manejo orgânico, 46% obtêm renda a partir da extração de produtos dos butiazais, enquanto entre os produtores que adotam o manejo convencional, esse percentual é de 8%.

Os produtos que mais agregam valor ao fruto do butiá são a geleia, vendida em média a R$ 34,38 o quilo; a cachaça ou licor, R$ 30,67 o litro; e a conserva de butiá, R$ 30 o quilo. A média de venda do quilograma do butiá in natura foi de R$ 7; da polpa de butiá, R$ 25,78; e o litro do suco, R$ 11,20.

Exemplos de uso da cultura

A publicação aborda também três casos de profissionais que utilizam o butiá como matéria-prima. Um deles é o da produtora rural Francielle Bellé: com sua família, foi precursora no registro de produtos à base de butiá, que atualmente é uma de suas principais fontes de renda.

Já a designer de moda Maiara Bonfanti iniciou a produção de bolsas utilizando a palha do butiazal como matéria-prima e já foi destaque em diversas publicações de moda nacionais e internacionais.

Por fim, o chef de cozinha Carlos Kristensen comanda restaurantes renomados em Porto Alegre e é criador da marca “Internacionalmente Local”. Ele aposta em usos inovadores para o butiá, como molhos salgados e mostarda.

As experiências apresentadas demonstram o potencial de agregação de valor e a geração de renda que a cultura do butiá pode representar.


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