Burocracia

Sepultamento assistencial só ocorre entre 7h às 17h em Pelotas

Entre sexta e sábado, uma família teve que esperar mais de 12 horas para poder velar e enterrar um ente

Foto: Jô Folha - DP - No cemitério São Lucas, há divergência de informações

O luto sempre é um momento difícil para uma família, que tem que lidar com a despedida. A dor da perda, para quem não tem condições de pagar um enterro, se multiplica quando os parentes dependem do serviço social e esbarram com os trâmites burocráticos para a realização do sepultamento assistencial, custeado pela Prefeitura de Pelotas. Neste final de semana, a família da diarista Andreia Silva da Sil, 43, passou por essa situação e questiona onde fica a sensibilidade em uma hora tão dolorosa para os parentes. Segundo as normas do Município, o enterro assistencial ocorre entre 7h e 17h.

Ela conta que seu irmão Gerson Leandro Silva da Silva, 45, estava internado há 21 dias na UTI do Pronto-Socorro de Pelotas (PSP), morreu às 14h de sexta-feira e seu corpo só pode ser velado às 7h de sábado. Isto porque às 2h30min da madrugada, depois do pedido de uma assistente social, o porteiro do Cemitério São Lucas permitiu a entrada do corpo. Mesmo assim, foi preciso esperar até as 7h para a liberação da capela.

Andreia conta que recebeu toda a atenção da Central de Óbitos. O dilema começou a partir das 19h quando os responsáveis pelo sepultamento no São Lucas não atenderam às ligações feitas pela Central, pela assistência social e pela funerária, todos em busca da liberação da capela e uma sepultura. "Fiquei esperando horas para retirar o corpo do meu irmão do hospital. No cemitério ouvi do porteiro que não tinha ordens para abrir e se eu quisesse uma capela, tinha que pagar. Como, se o sepultamento era assistencial?", desabafou. Ela disse ainda ter ouvido que esta não foi a única vez que houve impedimento para o velório de um corpo durante a madrugada. A resposta para a situação, conforme a Secretaria de Serviços Urbanos e Infraestrutura, é que o horário é delimitado.

Entretanto, esta não é a informação apurada no próprio cemitério. A reportagem esteve na manhã de segunda-feira para falar com a administração, mas ambas as salas, já que no local também funciona o Cemitério da Boa Vista, estavam fechadas. Os funcionários que estavam na entrada, entre eles porteiros e coveiros, disseram que o cemitério funciona 24 horas e que há velórios durante a madrugada, mas que eles só abrem os portões e capelas mediante autorização da Prefeitura, no caso do assistencial.

Pressão
A diarista explica que como o corpo precisava ser retirado do PSP, a funerária (não foi informada qual) se responsabilizou pelo cadáver de Gerson da Silva, até este ter uma despedida e enterro digno. "Nossa família decidiu que essa situação não pode ficar assim e vamos acionar judicialmente os responsáveis", admite. Ela garante que não foi pressionada pelo PSP, mas recebeu várias ligações para saber da situação. A diretora do Pronto-Socorro, Odineia da Rosa, explica que o local não possui um necrotério refrigerado, apenas um morgue, portanto o tempo recomendado para a permanência de corpos é de, no máximo, 12 horas - período em que Gerson Silva permaneceu no hospital.

Familiares ainda levantaram a hipótese de haver falta de sepulturas para quem não tem condições de pagar, pois para o enterro do ente, a ossada de uma senhora que estava em uma sepultura há cinco anos precisou ser retirada para a reutilização da gaveta. No entanto, o secretário de Serviços Urbanos e Infraestrutura não confirma. "Estamos sempre trabalhando para que isso não ocorra", diz.

Como funciona
O diretor da Central de Óbitos, Sérgio Almada, explica que o serviço está disponível para famílias com comprovação de renda de até um salário mínimo ou inscritas no Cadastro Único. A solicitação do serviço é feita pelo órgão, onde é necessário apresentar um responsável, comprovante de renda e residência. A partir da liberação do auxílio, uma das 11 funerárias credenciadas é acionada e passa a ser responsável pelo serviço. Conforme dados da Central, a média mensal de funerais sociais varia entre 30 e 40 serviços por mês. A Prefeitura não informou qual o valor de cada sepultamento.

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