A história é de dedicação. Há exatamente cinco décadas. Junho de 1968, em Pelotas. Começava a trajetória da Sociedade Assistencial Nossa Senhora de Fátima (Sansfa), que hoje acolhe 42 rostinhos, de dois e três anos de idade. É um roteiro que remete a pequenas lutas diárias para permanecer de portas abertas, gratuitamente, à comunidade. Da época da construção do prédio à atualidade, quando a instituição filantrópica de Educação Infantil centra esforços para readquirir os bens levados em arrombamento registrado em fevereiro.

"Não é uma tarefa fácil, mas vai dar tudo certo", afirma Sinda Farias. É o sentimento que a move há 23 anos, desde que deixou de ser apenas moradora das redondezas e se tornou voluntária da Sociedade. Lá, então, buscou nova formação. Estudou Pedagogia e hoje acumula as funções de psicopedagoga e orientadora educacional da Sansfa.

São exemplos de abnegação que se alimentam da mesma fonte de inspiração: a conduta de uma das fundadoras da instituição, Iva Marques da Silva, que canalizava boa parte do salário conquistado no frigorífico Anglo para compra de material para erguer o prédio tanto da antiga Unidade de Proteção ao Pré-escolar - como foi inicialmente batizada - quanto da nova sede da Igreja Nossa Senhora de Fátima.

Do combate à desnutrição ao investimento em ensino
O alvo inicial do trabalho não era de fundo pedagógico. Com altos índices de desnutrição entre a gurizada, o objetivo era alimentar. E para estender o cuidado ao maior número possível de crianças, a instituição prolongava o atendimento por um período máximo de nove meses.

"A dona Iva comprava batata e arroz do dinheiro dela e buscava o alimento doado pela Casa dos Padres, na Lobo da Costa, como cabeça e pata de galinha e fazia canja para as crianças", conta a nora Cláudia Rodrigues Silva. E, emocionada, a costureira projeta cortinas para a Sociedade Assistencial Nossa Senhora de Fátima e faz questão de lembrar que o marido José Inácio Marques da Silva, 53, também foi atendido pela antiga Unidade de Proteção.

Em 1977, ao reavaliarem a proposta do trabalho e identificarem repetidos retornos dos estudantes subnutridos, a instituição ganhou novo nome, passou a chamar-se Casa da Criança e voltou as atenções ao ensino; mais especialmente à Educação Infantil. Uma missão que cumpre até os dias atuais.

Saiba mais
- Suporte essencial: O convênio firmado, ano após ano, com a Secretaria de Educação e Desporto (Smed) - através do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) - é essencial para a Sansfa permanecer de portas abertas, em turno integral.

"Hoje, se não tivéssemos esta retaguarda da prefeitura, teríamos que fechar as portas", preocupa-se a orientadora educacional. Nestas cinco décadas, há vários nomes que ficaram marcados na história, além de Iva Marques da Silva. O diretor geral, padre Viriato da Graça Bôda; o primeiro presidente Teófilo Alves Galvão; o atual diretor geral, padre Ivo Kuhn, da Congregação dos Jesuítas... São personalidades que ajudaram a traçar esta trajetória de luta e de dedicação, mas também marcada por recursos escassos.

- Retaguarda dos parceiros: Algumas iniciativas têm garantido a possibilidade de pequenos investimentos em melhorias nos últimos anos. Uma delas vem da loja Anteparo, que tem realizado bazar anual para arrecadar fundos à Sociedade. Uma relação de confiança que se estabelece. A verba tem permanecido com o grupo de arquitetos, que disponibilizam os recursos à medida das necessidades, como o pagamento do 13º salário à parte dos oito funcionários.

"Ficamos felizes em vir aqui e ver tudo tão preservado", destaca a parceira e arquiteta Renata Gastal, ao referir-se aos banheiros, que ganharam versão adaptada aos pequenos.

- Ajude!
Se você também quer se tornar parceiro da Sansfa, faça contato pelo telefone (53) 3222-3239. Há muitas formas de colaborar. Descubra como.