Transtorno

Trens continuam bloqueando vias no bairro Simões Lopes

Problema chega a durar quase uma hora, atrapalhando a rotina dos moradores. Estudo de viabilidade foi prorrogado e questão segue sem solução

Foto: Carlos Queiroz - DP - Vias de acesso a regiões da cidade são cortadas pelos trilhos de trem

Por João Pedro Goulart
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(Estagiário sob supervisão de Lucas Kurz)

Um problema que se estende há décadas em Pelotas dá sinais de permanência sem resolução. A ferrovia, que integra o mais tradicional meio para transporte da produção no Estado, acaba causando extensos bloqueios em várias vias do bairro Simões Lopes, o que atrapalha a rotina dos moradores que pretendem circular até o Centro da cidade. O entrave é provocado pela passagem dos vagões e chega a atingir cinco ruas principais da região ao mesmo tempo, o que impede o deslocamento de veículos, impactando até mesmo os serviços de emergência, que precisam aguardar por quase uma hora.

A situação desencadeia grandes filas de carros, transporte público, motos e caminhões, principalmente na avenida Brasil, fundamental via de saída da região. Além desta, que impede o deslocamento à rua Lobo da Costa, a passagem do comboio interrompe o trânsito nas ruas Tiradentes, Saturnino de Brito e Jornalista Cândido de Melo, trazendo transtornos aos que precisam realizar o trajeto entre o bairro e o Centro.

A demora no tempo de espera não se limita somente à passagem do trem nos trilhos. Por ser uma única via férrea com trânsito nos dois sentidos, há casos em que um dos comboios precisa aguardar a passagem do outro, e para evitar a colisão entre eles é feita uma ultrapassagem através de uma troca de trilhos na metade do circuito. Essa alteração é realizada dentro do bairro Simões Lopes, o que evidentemente estende o tamanho dos bloqueios e a consequente espera dos veículos.

Problema tradicional da região

A moradora da região, Ceni Monteiro, 75 anos, mora na Avenida Brasil há mais de 30 anos e relata que esse problema sempre aconteceu. Nesse período, os casos mais graves que ela presenciou foram quando houve prejuízos à prestação de serviços emergenciais. Por exemplo, quando a casa de um vizinho incendiou e o serviço do Corpo de Bombeiros foi impedido de chegar ao local pela presença do trem nos trilhos. Em outra matéria produzida pelo DP anteriormente, um morador do bairro afirmou que além de testemunhar a mesma situação do incêndio, também já viu a passagem dos trens barrando um carro do Samu, quando uma pessoa havia se acidentado de bicicleta no bairro e precisava do atendimento.
O entrave de três vias ao mesmo tempo é o principal problema que a cabeleireira Iraí Castro, 70 anos, enxerga quando há a passagem dos trens, principalmente nos horários de pico. Isso acaba gerando uma fila enorme de veículos que, por vezes, se estende até o viaduto de saída para a BR-471. “Eu já contei os vagões: 120”, revela Iraí. Como vai à faculdade no período da noite, ela já se atrasou algumas vezes por causa dos trens. Segundo a mulher, o ideal era que houvesse um cronograma prévio que indicasse os horários de passagem, pois o trânsito deles ocorre aleatoriamente. “Poderiam fazer uns avisos de quando vai passar para as pessoas poderem se programar”, comentou.

Elbio Nascimento, 41 anos, não mora mais no bairro, mas frequentemente retorna a ele. Entende que bloqueios poderiam ser menores caso houvesse uma organização maior, com uma divisão melhor dos comboios. “Acho que tem a ver com a logística, porque são muitos vagões. Não tem como ampliar a via férrea. O ideal seria diminuir a quantidade de vagões, mas sei que é complicado diminuir”, disse Nascimento.

Estudo prorrogado

Conforme a assessoria de comunicação da Prefeitura, o assessor especial do gabinete da prefeita, Luiz van der Laan, explicou que o Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental (EVTEA) para a resolução dos conflitos rodo-ferroviários no meio urbano de Pelotas e Rio Grande, previsto para ser concluído em julho do ano passado, teve uma prorrogação e, segundo informações do consórcio responsável por sua elaboração, foi entregue em dezembro para o DNIT.

Conforme o assessor, em 2017 a Prefeitura de Pelotas firmou acordo com a Rumo Logística para adoção de medidas de redução do impacto do trânsito dos trens na área urbana da cidade. A partir deste acordo, a concessionária adotou o cruzamento de trens fora do horário comercial, pois o cruzamento para a linha de desvio implica na interrupção da rua Saturnino de Brito. “Estas medidas reduziram significativamente as queixas em relação a interrupções e, hoje, são raras as reclamações”, diz van der Laan, responsável por acompanhar as negociações com a Rumo Logística.

O que diz o Dnit?

Segundo o Coordenador Geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Pelotas, Vladmir Casa, ainda não há previsão para a conclusão do estudo para novo traçado dos trens. “Há estudos nesse sentido, mas infelizmente a condução deste assunto e a expectativa se tem condições, se tem algo planejado para logo ou não, está com a Diretoria Ferroviária do Dnit, em Brasília”, revelou. De acordo com o gestor, o Dnit Pelotas tem conhecimento da existência do estudo, mas não tem informação sobre a viabilidade política e econômica dele.

A concessionária

Em nota, a Rumo Logística apontou que o Município de Pelotas integra o principal corredor ferroviário do Estado. O transporte de cargas por ferrovia funciona 24h por dia e não há horários fixos. O fluxo dos trens varia de acordo com os procedimentos de carga e descarga nos terminais e área portuária, entre outros fatores.

A empresa lamenta eventuais transtornos causados à população em decorrência das operações, mas ressalta que cumpre rigorosamente todas as normas regulamentares de circulação determinadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Em relação aos estudos de traçado, não há nenhuma iniciativa que seja atribuição da empresa. Pelo modelo de concessão ferroviária, todas as obras são direcionadas por políticas públicas do governo federal e a aplicação é feita pelo Dnit, por meio do Programa Nacional de Segurança Ferroviária em Áreas Urbanas (Prosefer).

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