O professor e doutor português Boaventura de Sousa Santos receberá o título de Doutor Honoris Causa das universidades Federal e Católica de Pelotas (UFPel e UCPel), no próximo dia 4 de junho. A honraria é concedida por universidades a pessoas com enorme destaque em uma área de atuação.

Para o vice-reitor da UFPel, Luís Amaral Centeno, é bastante incomum duas instituições concederem o título em um mesmo momento, mas o currículo de Boaventura fala por ele. Aos 77 anos, natural de Coimbra, é doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (EUA), lecionou em universidades da Inglaterra, dos Estados Unidos e de Portugal. Ainda trabalhando nos dois últimos, é diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, coordenador científico do Observatório Permanente da Justiça e professor na Universidade de Wisconsin.

Boaventura é autor de trabalhos publicados em diversas áreas, como globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos, traduzidos para sete línguas. O vice-reitor da UFPel aponta o homenageado como a grande referência mundial no campo dos movimentos sociais, com um olhar crítico, mas que legitima tais grupos como formas para conseguir avanços sociais. Realizou a análise dos efeitos negativos de uma sociedade baseada no consumo, do papel da universidade para transformar as comunidades onde estão inseridas e também quanto à aplicação dos direitos humanos de uma forma que faça o homem se inserir no meio ambiente.

A professora do Programa de Pós-Graduação em Política Social e Direitos Humanos da UCPel, Aline Mendonça, trabalha com Boaventura no projeto Alice - Espelhos Estranhos, Lições Imprevistas. Ela diz que o professor é um dos sociólogos renomados na perspectiva de pensar epistemologicamente a teoria social, a teoria crítica e também ao pensar politicamente alternativas às formas de opressão, sobretudo ao capitalismo e ao patriarcado. "É uma referência, não só das ciências sociais, mas também da política", destaca, apontando que ele sempre se constituiu como um pesquisador militante e ativista, comprometido com a mudança da realidade social.

Boaventura também obteve um destaque significativo no país por conta do Fórum Social Mundial, sendo consultor e agora membro do Conselho Internacional do fórum. Aline o aponta como uma referência muito forte e carismática para pensar e discutir as perspectivas de diálogos nos movimentos sociais. "A gente entende que ele é uma referência que merece ser homenageada na perspectiva de reconhecer esse caráter não só científico, mas também seu contributo político", comenta.

O reconhecimento
Boaventura estará em Pelotas já no final de semana anterior à homenagem, com oficina na Universidade Popular dos Movimentos Sociais, discutindo o tema da democratização da universidade. Já na segunda-feira, a cerimônia de outorga do título de Doutor Honoris Causa terá início às 19h, no Theatro Guarany. Com o título Democratização da universidade - Construindo alternativas ao capitalismo, colonialismo e patriarcado, ele deverá discursar ao final da concessão.

Além da palavra dos reitores de ambas instituições, três pessoas irão falar. São os expositores de motivos, responsáveis por explanar, em cerca de 20 minutos cada, as razões para a concessão do título. Naomar Almeida Filho, ex-reitor da Universidade Federal da Bahia e da Universidade Federal do Sul da Bahia, Lilian Celiberti, presente no episódio histórico do sequestro dos uruguaios durante a ditadura, cuja história pessoal, segundo Aline, se aproxima muito do universo de Boaventura, e a pelotense Regina Nogueira, militante dos movimentos sociais, atualmente residente em São Paulo.

Serão distribuídas senhas para o público assistir à cerimônia. Além de uma divisão de 200 para cada universidade, haverá outras vagas para o público em geral. De acordo com a Assessoria de Comunicação da UCPel, essas entradas podem ser pegas no próprio Theatro Guarany, a partir das 14h do dia do evento.