Memória

Um crime contra o patrimônio histórico de Pelotas

Peças em bronze e de outros metais estão sendo furtadas do Centro Histórico da cidade

Carlos Queiroz -

Parte do patrimônio histórico de Pelotas está aos poucos desaparecendo. A ação de criminosos tem retirado placas e ornamentos sem se importar com o valor inestimável que cada uma destas peças representa para a memória da cidade e dos pelotenses. Depois de 54 rostos humanos e figuras de animais do gradil do Casarão 6 – alguns com a coluna inteira – terem sido levados, além de três placas do Theatro Sete de Abril, o titular a Secretaria de Cultura, Paulo Pedrozo, quer conscientizar a população a denunciar os furtos e preservar a história. “Sabemos que o crime existe porque alguém compra. Então, por favor, não compre”, pede aos comerciantes de metais. Ele lembra que, por se tratar de patrimônio da cidade, foi feito registro no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que encaminha o caso para a Interpol. Os crimes foram registrados ainda na Polícia Federal e Polícia Civil.

Em dezembro, a Guarda Municipal foi avisada sobre um furto e conseguiu recuperar uma placa de bronze que ficava na praça Piratinino de Almeida, em homenagem ao médico Bruno Gonçalves Chaves. Mesmo com a peça em bronze pesando quase 40 quilos, os bandidos conseguiram serrar dois pinos que fixam a obra na base. Para se ter uma ideia do valor, no mercado o quilo da barra custa em média R$ 130,00. A Secult não sabe afirmar se os ornamentos fundidos em estanho e zinco são comercializados na forma original ou derretidos. Para a polícia, que já investiga o furto de outros objetos, como hidrômetros, a maioria vai para a fundição em indústrias de fundo de quintal, o que desconfigura a venda ilícita no mercado. Outra hipótese é de que essas peças são bastante valiosas no mercado de antiguidades do centro do país e já podem estar bem distantes.

Para evitar mais furtos no Casarão 6, a Secult investiu em tecnologia com sensores que devem impedir a entrada de ladrões. No Theatro, os criminosos pularam o tapume para cometer o furto. Tentaram também levar mais uma placa, mas não conseguiram. A secretaria decidiu por manter as peças nos locais. De acordo com o secretário de Segurança Pública, José Apodi Dourado, para inibir os furtos a placas e outros equipamentos a Guarda Municipal intensificou neste ano o patrulhamento da região central, principalmente nas edificações do entorno da praça Coronel Pedro Osório. “Mesmo assim, precisamos da ajuda da comunidade”, reforça Pedrozo. Quem quiser ajudar, pode fazer denúncia anônima pelo telefone da Secult – (53) 3225-8355. Aos finais de semana, o contato pode ser com a Guarda Municipal, pelo 153.

Sem acesso à história

O furto mais recente, na segunda-feira, foi de uma placa em homenagem ao centenário da Imprensa de Pelotas, fixada na parede da Bibliotheca Pública Pelotense (BPP), em 1951. A ação criminosa poderá abrir precedentes para que a população não tenha mais acesso a parte da história de Pelotas. Isso porque o presidente da BPP, Sergio Cruz Lima, pensa em retirar as outras quatro placas existentes e levar para dentro do prédio. “Estamos tentando contato com a Guarda Municipal para saber se há registro de imagens. Esta é uma placa muito significativa, pois fala no nosso fundador, Antônio Joaquim Dias, e jornalistas da época.” O presidente teme ainda que no futuro as instituições deixem de prestar homenagens por causa dos furtos. A placa de bronze media 30 por 40 centímetros.

Consequências

Segundo o Iphan, para contribuir no combate a esse mercado ilegal, existem ações preventivas simples, como a checagem da procedência e, em caso de dúvidas ou alguma suspeita, consultar a instituição, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e suas bases de dados disponíveis em seus sites – o Banco de Bens Procurados/BCP e o Cadastro de Bens Musealizados Desaparecidos/CBMD. Esses cuidados podem evitar o envolvimento do comprador ou negociante em crime de receptação do patrimônio cultural brasileiro roubado, furtado ou obtido por tráfico internacional de obras de arte.

Informações sobre as peças

Qualquer informação deve ser comunicada ao Iphan pelos e-mails [email protected], [email protected] ou [email protected], e ainda pelos telefones (61) 2024-6355 ou (61) 2024-6352.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Protetores de animais cobram castramóvel em Canguçu Anterior

Protetores de animais cobram castramóvel em Canguçu

Atos de trabalhadores da Ebserh buscam resolução de acordos coletivos Próximo

Atos de trabalhadores da Ebserh buscam resolução de acordos coletivos

Deixe seu comentário