Exemplo

Um município sem infrações de trânsito

Levantamento do Detran/RS revela que a pequena localidade de Arroio do Padre, com 1.787 veículos, não registra multas há cinco anos

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A circulação de veículos é calma e normalmente em baixa velocidade
(Foto: Paulo Rossi - DP)

O cenário é fácil de identificar: tipicamente uma cidade de pequeno porte da Região Sul do Estado. Na cidade, Arroio do Padre é tomada de áreas verdes, ocupadas por árvores floridas e frutíferas. Uma rua asfaltada caracteriza o ambiente urbano. A via é cercada por casas, a maioria sobrados, e dá acesso à escola e à igreja. O movimento é calmo, de pedestres e veículos. Tanto que há cinco anos autoridades não registram infrações de trânsito.

O levantamento foi realizado pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) do Rio Grande do Sul. Município vizinho de Pelotas, no local moram aproximadamente três mil pessoas - e 762 têm Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em alguma categoria. Em geral, famílias formadas por trabalhadores envolvidos com a agricultura familiar. Embora pequena, o uso do carro torna-se necessário para acesso à zona rural, de onde vem o sustento.

No centro, as manhãs são quase mudas. É possível ouvir até o sopro de um vento leve. Pela única via de mão dupla, que corta o município, cruzam os veículos. E quando um deles de longe anuncia sua chegada - seja carro, motocicleta ou caminhão -, é possível escutar a distância o barulho do motor quebrar o silêncio.

Congestionamentos não fazem parte da rotina dos moradores. Recepcionista em um estabelecimento de varejo de itens para casa, Rebeca Wickboldt, 22, tem hábito de transitar pela cidade de carro. Segundo ela, por percorrer um trajeto curto, de poucos quilômetros entre a casa e o serviço, ela não avança após a terceira marcha, pois não julga necessário, diante do fraco movimento de veículos.

Além disso, não abre mão de usar o cinto de segurança. “Não é todo mundo que usa”, sorri, constrangida. Rebeca diz nunca ter sido multada. A distância mais longa que costuma percorrer é até Pelotas para consultas médicas e suprir outras demandas pessoais, já que o município possui limitações de estrutura em função do tamanho.

Necessidade e hábito
O agricultor Alcindo Perleberg, 43, também assegura transitar em velocidades baixas. “Aqui no centro ando em segunda ou terceira, não dá pra sair disso”, relata. Ele não lembra de enfrentar problemas no trânsito - nem entre outros condutores ou com a fiscalização. “Quando saio com o carro da garagem já coloco o cinto. Os motoristas respeitam muito a todos, inclusive pedestres nas ruas”, garante. Segundo ele, a alta velocidade fica para as motocicletas.

Nas imediações do posto de combustíveis central, localizado em uma das extremidades da via principal, há mais de dez carros estacionados. Conforme um dos funcionários do lugar, Timóteo Neto, 30, pertencem a motoristas que trabalham fora do município e embarcam em transporte coletivo para chegar ao emprego. Os veículos ficam ali, pois o posto é próximo a um ponto de ônibus. Assim, é construída uma rotina de pouca circulação de gente e carros. Ao conhecer a estatística do Detran, Neto retruca: “Não tem muita estatística pra burlar”.

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"No centro ando em segunda ou terceira, não dá para sair disso.” Alcindo Perleberg
(Foto: Paulo Rossi-DP)

Fiscalização
Arroio do Padre não conta com um Centro de Formação de Condutores (CFC) e não dispõe de um órgão específico de fiscalização de trânsito, como em Pelotas há os agentes de trânsito. A responsabilidade de operações de controle fica toda com a Brigada Militar (BM). No entanto, a crise na segurança estadual impacta diretamente nas condições do órgão.

Atualmente, o posto da BM na cidade soma média de nove servidores. E eles não estão de prontidão em todos os horários, pois são deslocados para outros postos policiais. De acordo com o sargento responsável, Roger Luís Carbajal, devido à deficiência no efetivo, os policiais dão prioridade a horários de circulação financeira. “Basicamente em horário comercial nós estamos de prontidão”, reconhece. Apesar do problema, ele garante que o município não apresenta situações de risco. A calmaria no ambiente se mantém no que se refere à violência.

Em relação ao trânsito, de fato não recorda de infrações recentes, o que vai de acordo com a estimativa do Detran. De qualquer maneira, são realizadas operações de controle - as conhecidas blitze. E, ainda quando há atividade específica, é raro identificarem infrações de trânsito. “Temos um público de trânsito muito consciente”, avalia.

Em contraponto, além da consciência, como o sargento coloca, há também a velocidade da informação - que em qualquer cidade acaba por prejudicar o trabalho de fiscalização. “Quando tem barreiras uns avisam outros, se tem motorista ou passageiro sem cinto eles enxergam a Brigada de longe e já colocam. Então, às vezes não dá tempo de orientar ou multar”, explica o sargento.

Características locais
As famílias que moram no município são, em maioria, descendentes de pomeranos. A Colônia de Arroio do Padre, inicialmente, pertencia ao município de São Lourenço do Sul. Em 1890 foi incorporado a Pelotas. Foram anos de vínculos. Até que em 17 de abril de 1996 a colônia alemã se emancipou e tornou-se município.

Em outubro de 2000 a comunidade foi às urnas para eleger os primeiros representantes de Arroio do Padre. Apesar do nome, em Arroio do Padre a população é, em maior parte, de religião luterana, como muitas cidades de colonização germânica. Aliás, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que dos 2,7 mil habitantes apenas 7,8% são católicos. É, em geral, um município de evangélicos - são cinco pastores para atender uma média de 12 comunidades.

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Trânsito convive pacificamente com o transporte de cargas pelos caminhoneiros
(Foto: Paulo Rossi - DP)

A região também é conhecida pelo turismo ecológico, dispondo de parques com infraestrutura para receber e hospedar visitantes ao município. O contato direto com a natureza desperta a importância dos cuidados com o meio ambiente e proporciona momentos de lazer, como banho de arroio, caminhadas, trilhas, escaladas e rapel. Nas proximidades do centro há hospedagens preparadas para receber turistas interessados na cultura campeira de Arroio do Padre.

Arroio do Padre é um município com vocação agropastoril, onde a principal produção é o fumo. Também são cultivados hortaliças, soja e milho; há criação de gado leiteiro e de frangos. Atualmente incentiva-se o cultivo de frutas, tais como o caqui e a maçã - o que torna abril um mês festivo por aqueles lados.

Já consagrada, a Festa do Caqui e da Maçã é considerada a maior festa do município, onde são recebidos milhares de visitantes, convidados a participar da cultura da região. Os laços com a própria história são fortificados através da cultura. Um grupo de danças folclóricas alemãs, o KornBlumme, mantém as raízes germânicas da comunidade.

Frota em circulação - Arroio do Padre

2007 - 1.153
2008 - 1.254
2009 - 1.361
2010 - 1.396
2011 - 1.435
2012 - 1.521
2013 - 1.620
2014 - 1.707
2015 - 1.775
2016 - 1.797
Total de motoristas - 762

Dados do Detran/RS até abril de 2016

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