Saúde

Um olhar especial aos idosos hospitalizados

Estudo desenvolvido em parceria entre UFPel e UCPel avalia o risco dos pacientes para sarcopenia, que é a perda de força e de massa muscular

Jô Folha -

Não basta viver mais. A busca é por viver melhor. Um projeto desenvolvido pelas Universidades Federal e Católica de Pelotas coloca os idosos hospitalizados no centro das atenções. O estudo, que começou em 2018 e deverá ocorrer uma vez por ano - no chamado SarcDay -, analisa o risco de sarcopenia, que é a perda de força, de massa muscular e de performance. E o alerta já pode ser feito. Dados obtidos no ano passado revelam: os pacientes que internavam com risco aumentado para essa síndrome geriátrica, apresentaram probabilidade de morte cinco vezes maior nos 30 dias posteriores à avaliação.

O levantamento - realizado através de questionário de rastreamento e de medidas da circunferência da panturrilha - voltou a ocorrer durante a Semana do Idoso. Além de cinco hospitais de Pelotas, outras 29 instituições de dez estados brasileiros uniram-se ao SarcDay. A expectativa é de que os resultados sejam conhecidos até o final de novembro e possam incorporar a apresentação a ser feita em Conferência em Berlim, na Alemanha, em dezembro.

"Queremos conscientizar sobre a importância de um olhar cuidadoso para os idosos que estão internados", destaca a professora da Faculdade de Nutrição da UFPel, Silvana Paiva Orlandi. Com a avaliação do risco de sarcopenia em mãos, nas primeiras 72 horas de internação, as equipes podem intervir precocemente e o paciente poderá ganhar atenção alimentar diferenciada. Afinal, a perda de força e de massa muscular ajuda a definir o estado nutricional do idoso, que deverá passar a receber suplemento oral, com dieta hipercalórica e hiperproteica - explica a diretora da Faculdade.

São ações que interferem nas duas pontas. Ganham o paciente e seus familiares, em qualidade de vida, se ele estiver em condições de receber alta mais rápido. Ganha o Sistema Único de Saúde (SUS), com a redução do tempo de internação e a liberação de leitos. "Temos que direcionar os recursos de saúde pública para aqueles que estão em maior risco, para os que mais precisam", enfatiza a pesquisadora. E lembra que as refeições oferecidas pelo SUS não cobrem as reais necessidades nutricionais de parte dos doentes. Daí a relevância de as equipes hospitalares desenvolverem esse olhar mais criterioso, que permita identificar quem precisará de investimentos alimentares extras.

Internações recorrentes, mas vontade de estar bem
O aposentado Valdor Duarte Araújo, 76, foi um dos idosos que participou do SarcDay. Internado no Hospital-Escola da UFPel pela terceira vez em um período de pouco mais de um ano, o agricultor respondeu a questionário para avaliar força, ajuda para caminhar, levantar da cadeira, subir escada e ocorrência de quedas. E, apesar das dores na planta dos pés, garante: tem procurado se manter ativo e independente. Aferições da circunferência da panturrilha também foram feitas. Atualmente, Valdor recebe suplemento oral, uma vez ao dia, para favorecer o processo de recuperação.

Com que qualidade estes anos a mais têm sido vividos?
A perspectiva de vida têm crescido no país. É fato. Mas com que qualidade estes anos a mais têm sido vividos? A indagação é um dos panos de fundo do estudo. A sarcopenia está diretamente ligada ao crescimento no número de quedas, ao aumento da dependência dos idosos, ao maior tempo de hospitalização, a mais casos de readmissão hospitalar e até a maior mortalidade.

"Os indivíduos vão perdendo toda a sua capacidade funcional e a gente não tem que achar que isso é normal do envelhecimento. O normal seria ter um envelhecimento saudável", sustenta a nutricionista Silvana Orlandi. E destaca que, apesar de a perda de força e de massa muscular ser inerente ao avanço da idade, investimentos na prática de atividades físicas e em uma alimentação adequada são as chaves para prevenir a sarcopenia e também para reverter o quadro, já que a própria imobilidade o agrava.

E mais: a capacidade muscular é um importante indicador da capacidade que cada pessoa terá em responder a um tratamento e à cicatrização - exemplifica a professora, para dar peso às avaliações.

Conheça melhor o estudo
O SarcDay é uma das ações do grupo de pesquisa em Composição Corporal e Nutrição, que une profissionais das duas universidades de Pelotas. Participam do projeto a pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Saúde e Comportamento da UCPel, Maria Cristina Gonzalez, o professor da Faculdade de Medicina da UCPel e da UFPel, Thiago Gonzalez Barbosa e Silva, e a diretora da Faculdade de Nutrição da UFPel, Silvana Paiva Orlandi.

Com a intenção de dar abrangência nacional ao SarcDay, outros dois pesquisadores passaram a integrar o grupo: a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Myriam Najas, e a doutoranda em Clínica Cirúrgica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Letícia Fuganti Campos. A iniciativa conta com o apoio da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

- A abrangência em 2019
Cerca de 500 idosos passaram por avaliação para verificar o risco de sarcopenia, em 34 hospitais, de dez estados: Amapá, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Ter sido hospitalizado nas últimas 72 horas era pré-requisito para participar do projeto, já que o objetivo central é desencadear intervenções rápidas para recuperar força e massa muscular dos pacientes. O projeto inclui a verificação do que ocorreu com cada um dos idosos, passado o período de 30 dias: seguem internados, receberam alta ou faleceram.

A expectativa é de que um hospital holandês, na cidade de Groningen, também se junte ao estudo multicêntrico, dentro da proposta de expandir fronteiras.

- O piloto em 2018
Quando surgiu, em outubro do ano passado,162 idosos internados em 12 hospitais, em cinco estados brasileiros, participaram do estudo.

(*) O SarcDay e as avaliações simultâneas irão ocorrer durante a Semana do Idoso, sempre na quinta-feira. A proposta, entretanto, é de que as instituições de saúde incorporem a avaliação ao seu dia a dia.

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