Pobreza
Um terço das mães e seus bebês vivem em insegurança alimentar em Pelotas
Pesquisa realizada pela UCPel investiga a condição e seus impactos no desenvolvimento das crianças
Foto: Carlos Queiroz - DP - Falta de alimentos nos lares interfere diretamente no desenvolvimento das crianças no começo da vida
Um estudo realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento (PPGSC) da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) aponta dados preocupantes sobre a condição social de mulheres e seus bebês no Município. Conforme a pesquisa, 32,4% das mães e crianças avaliadas vivem em algum grau de situação de insegurança alimentar no primeiro acompanhamento (durante a gestação). Destas, 6,8% estão no nível entre moderada e grave.
O trabalho, realizado desde 2016 pelo PPGSC tem como objetivo investigar a condição de insegurança alimentar e o impacto disso sobre os desenvolvimentos motor e cognitivo em bebês nascidos na cidade. Além de acompanhar no momento da gestação, o estudo, portanto, se estende até 18 meses após o parto. Nesta etapa, os dados da pesquisa indicam que 30,4% dos domicílios vivem nesta condição, com 8,3% na classificação de moderada a grave.
O estudo é realizado pela doutora Caroline Nickel Ávila, sob orientação da professora Luciana de Ávila, e faz parte do projeto “Gravidez Cuidada, Bebê Saudável”, do PPGSC. A coordenação é do professor Ricardo Tavares Pinheiro e o trabalho conta com financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates.
Primeiros mil dias
Incluindo dados entre o período da gestação e 18 meses após o parto de 469 mães e bebês da zona urbana de Pelotas, a pesquisa mensurou a condição da insegurança alimentar nos primeiros mil dias de vida dos bebês (considerando, nestes, 270 ainda em gestação). Este período é considerado uma janela crítica de oportunidades que pode vir a prejudicar o estado de saúde materno-infantil. Além disso, conforme os especialistas, configura uma fase primordial para o pleno desenvolvimento das crianças em níveis adequados.
A ser classificada em leve, moderada e grave – sendo grave quando há uma redução significativa de alimentos no domicílio, podendo que todos os membros da família, incluindo crianças, passem fome –, a insegurança alimentar vem atingido dados alarmantes nos últimos anos.
Segundo estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), em 2022 o número de domicílios com moradores passando fome em todo o País chegou a 15,5% (o equivalente a 33,1 milhões de pessoas). Na Região Sul (RS, PR e SC), a insegurança alimentar grave atinge três milhões de pessoas.
A insegurança alimentar e suas consequências
A impossibilidade de prover uma quantidade mínima de alimentos durante tão importante fase como a gestação e os primeiros mil dias de vida implica em deficiências imunológicas, comportamentais e em uma maior vulnerabilidade biológica infantil devido à escassez de micronutrientes. Além disso, a preocupação e a angústia diante da incerteza de dispor regularmente de alimentos nutricionalmente adequados e seguros para o consumo contribui para o estresse e a ansiedade dos pais ou cuidadores – o que pode afetar a interação com os bebês e dificultar as oportunidades de aprendizagem necessárias para o desenvolvimento adequado.
A pesquisadora reforça o fato de que quanto mais crítica é a condição, pior é o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças. “Bebês que residiam em domicílios com insegurança alimentar moderada e grave apresentaram menor pontuação na escala de desenvolvimento em comparação com os bebês na mesma situação em nível leve, por exemplo”, comenta Caroline.
Os resultados evidenciam, conforme a pesquisadora, que a insegurança alimentar acaba afetando o desenvolvimento dos bebês. Fato que enfatiza a importância do direito à alimentação adequada e da existência de ambientes que forneçam experiências estimulantes para o desenvolvimento infantil. “É necessário que essa pesquisa alcance a população e as autoridades competentes. Estamos fazendo isso a fim de auxiliar a desenhar intervenções e abordagens para tratar esse problema de saúde pública”, conclui.
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