Lar
Uma aldeia na zona rural de Pelotas
Índios Caingangues recebem 16 casas projetadas pelo Programa de Sustentabilidade no Habitat Social, da UCPel
Carlos Queiroz -
Ter um lugar adequado para morar é direito garantido na Constituição Federal. Apesar disso, inúmeros fatores fazem com que muitas pessoas precisem chamar de casa locais perigosos e insalubres. A tribo Caingangue, formada por 18 famílias, viveu durante oito meses em um acampamento improvisado às margens da BR-293. Em junho de 2016 a situação começou a mudar: eles foram transferidos para um terreno na zona rural do município. Mas as residências de qualidade só começaram a dar as caras nos últimos meses e agora eles se preparam para, finalmente, terem condições dignas de moradia.
O terreno de sete hectares onde estão instalados foi doado pela prefeitura. Fica na Colônia Santa Eulália, na Cascata. Os índios já estão morando lá há cerca de dois anos, mas em abrigos ainda improvisados. Tábuas e lonas são sua proteção contra o frio, a chuva e o calor. A situação começa a mudar e deve se transformar já nas próximas semanas. A Universidade Católica de Pelotas (UCPel) se comprometeu a construir casas para a tribo. O trabalho iniciou há um ano e está praticamente finalizado.
As 16 casas foram planejadas pelos alunos e professores do Programa de Sustentabilidade no Habitat Social. As primeiras residências foram erguidas por carpinteiros contratados pela universidade e as últimas contaram com a ajuda da tribo. Os profissionais montam a estrutura e os Caingangues preenchem as paredes com tábuas de madeira. Ainda faltam detalhes como o forro e as esquadrias, além do mobiliário.
O cacique Pedro Salvador conta com a solidariedade da comunidade para preencher os lares. "Nossa fonte de renda é o artesanato, mas é muito difícil sobrar dinheiro para comprar os móveis", comenta. Algumas coisas foram feitas pelos próprios alunos do programa com material reaproveitado, mas outras precisam ser compradas. É o caso, por exemplo, dos eletrodomésticos.
As casas são um passo importante para dar tranquilidade à tribo. Quem garante isso é o próprio cacique, que reafirma o seu papel de protetor do povo. "Eu vim para Pelotas procurando um lugar mais sossegado para viver e criar meus filhos", aponta. Eles já passaram por diversas cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, mas foi aqui que decidiram firmar raízes e continuar a escrever sua história.
O bom acolhimento prestado pelos pelotenses foi apenas um dos motivos que os fizeram ficar. Salvador lembra que, antes da colonização, Pelotas era terra dos índios. "Esse é o lugar onde os nossos antepassados viveram e morreram. Alguns conseguiram escapar da escravidão e foram para outros lugares", conta. Para lembrar e preservar esta memória, a tribo Caingangue pretende montar um espaço cultural dentro da aldeia.
O projeto
A construção das 16 residências começou em julho de 2017, mas o trabalho por trás das obras iniciou bem antes. Joseane Almeida, professora da UCPel e coordenadora do programa, conta que o trabalho de pesquisa e imersão na cultura Caingangue foi longo. Os alunos e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo envolvidos no projeto passaram um tempo junto às famílias para compreender seu modo de vida e suas necessidades.
O cacique relata que o primeiro projeto de casa desenvolvido pelos acadêmicos não refletiu o que a tribo esperava. Eles mudaram, então, para o modelo atual. "O formato da casa é muito parecida com as antigas casas Caingangues", conta. A diferença entre o passado e o presente é o material. Salvador explica que, antes, elas eram feitas com o que se encontrava na natureza.
A finalização das residências é também motivo de orgulho e satisfação para os profissionais que executaram o projeto. Para Joseane, a oportunidade foi muito rica em aprendizagem. A universidade continuará assessorando a tribo nesta reta final de construção, mas a sensação já é de dever cumprido. "Estamos muito felizes por poder proporcionar a eles condições dignas de moradia", completa.
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