Estudos

Uma aliada à gestação saudável

A prática de atividades físicas durante a gravidez traz benefícios à mãe e ao filho; em Pelotas, dados das Coortes de Nascimento revelam ter caído o número de mulheres que se mantiveram ativas até o terceiro trimestre de gestação entre 2004 e 2015

Carlos Queiroz -

O número de mulheres fisicamente ativas antes da gravidez cresceu de 11% para 16%, em Pelotas, entre os anos de 2004 e 2015. A informação, que deveria ser comemorada, faz disparar um sinal de alerta. Os dados das Coortes de Nascimento revelam que a prática de atividade física durante a gestação caiu neste mesmo período: a proporção de mulheres que se mantiveram ativas até o terceiro trimestre da gravidez encolheu de 3,4% para 2,4%.

Os resultados integram estudos do Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Agora, com a contradição expressa em números, os pesquisadores têm em mãos uma ferramenta para trabalhar na conscientização de profissionais da Saúde e desencadear um longo processo para a derrubada de mitos junto à população.

Afinal, o consenso existe e é propagado por órgãos internacionais: com exceção de casos em que não é recomendado, realizar atividades físicas durante a gestação traz benefícios à saúde de mãe e filho. Um estudo de intervenção entre grávidas da Coorte 2015 mostrou, por exemplo, que as mulheres que aderiram a um programa de exercícios físicos regulares durante a gravidez tiveram probabilidade 81% menor de desenvolver depressão pós-parto - até três meses depois do nascimento do bebê -, se comparadas àquelas que não se mantiveram ativas.

“Apesar de estar mais ativa a mulher, na atualidade, a grávida é mais doente hoje em dia”, alerta o coordenador da Coorte 2015, Marlos Domingues. “As mulheres que estão engravidando, estão muito mais obesas, diabéticas e hipertensas do que eram há uns anos.” É este cenário que surge entre as hipóteses dos porquês as grávidas têm se afastado da prática de atividades físicas - explica, mas garante: o argumento não justificaria à tomada de decisão.

A pesquisa desenvolvida pelo Centro de Epidemiologia reforça o que a literatura científica já tem disseminado: salvo em quadros específicos de contraindicação, a prática periódica de exercícios traz benefícios, exatamente nestas situações. “As evidências apontam que o exercício físico deve funcionar como aliado, principalmente nestes casos”, lembra a doutora em Epidemiologia, Shana Ginar.

Os próximos passos
Investir na conscientização dos profissionais de saúde - médicos, enfermeiros, nutricionistas e, inclusive, educadores físicos - que tenham contato direto com as gestantes é um dos desafios dos pesquisadores daqui para frente. Romper com a resistência da comunidade médica também está na lista de prioridades.

Dados das Coortes revelam: o aconselhamento médico sobre a atividade física durante o pré-natal caiu de 72%, em 2004, para 61%, em 2015. Apostar, portanto, na formação dos novos profissionais deve se tornar uma das estratégias, para que reduzam dúvidas e receios na hora de indicar a prática de exercícios físicos a suas pacientes.

Um guia de orientações, com maior penetração na classe médica, pode ser uma das alternativas - pontua a doutora em Epidemiologia, Bruna Gonçalves.

Bem-estar em alta
Em seguida que começou o pré-natal, a jovem Andrielle de Los Santos Botti, 26, fez questão de retomar a rotina de atividades físicas, interrompida por cerca de cinco meses. O futebol de que tanto gosta, claro, teve de ficar de lado. A estudante de Administração optou por um treino funcional.

Até agora, com 33 semanas de gestação, tem conseguido escapar das dores nas costas, que costumam incomodar a grande maioria das grávidas. “Tenho me sentido muito bem. Tô levando uma vida normal”, garante. E com o olhar direcionado à chegada da primogênita Valentina, Andrielle recebe orientações para fortalecer também a região de pernas e assoalho pélvico.

“É importante estar com toda a musculatura preparada para poder ter um parto mais tranquilo”, explica a personal trainer, Virgínia Jardim. E reforça: “Gravidez não é doença”. Claro que as mulheres que não realizavam atividades físicas, não irão se tornar “atletas”, exatamente, no período da gravidez, mas podem sim, sob orientação, manter uma rotina de exercícios que contribua à gestação saudável.

Fique atento aos benefícios

►Além de não aumentar o risco de aborto ou de baixo peso do bebê, praticar atividade física durante a gravidez...
►Reduz o risco de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e cesariana
►Reduz a dor nas costas
►Diminui a prisão de ventre
►Previne o ganho excessivo de peso durante a gravidez
►Melhora a forma física geral e fortalece coração e vasos sanguíneos
►Ajuda a perder peso após o nascimento do bebê


Saiba também
* Um estudo de intervenção com atividade física realizado pelas então doutorandas do Centro de Epidemiologia da UFPel, Carolina Coll, Shana Ginar e Bruna Gonçalves, demonstrou: 

As mulheres que aderiram a um programa de exercícios físicos regulares durante a gestação tiveram probabilidade 81% menor de desenvolver depressão pós-parto, até três meses depois do nascimento do bebê
A prática melhorou o fluxo respiratório das gestantes
O exercício físico não traz risco à saúde do feto e do recém-nascido, como a prematuridade

* Exatamente 639 gestantes que integravam o pré-natal da Coorte 2015 participaram do acompanhamento, dividido em dois grupos: intervenção e controle.

Na intervenção, 213 mulheres grávidas participaram de um programa de exercícios físicos ao longo do segundo e do terceiro trimestres da gestação. Elas se exercitavam três vezes por semana, em sessões de 60 minutos, sob a orientação de profissionais da Educação Física. As práticas incluíam exercícios físicos aeróbicos, exercícios de força para os principais grupos musculares e exercícios específicos para redução de dores nas costas e prevenção de incontinência urinária na gestação.

No grupo controle, as gestantes seguiam sua rotina habitual.

O estudo foi desenvolvido de agosto de 2014 a março de 2016.

Motivos de alerta e prevenção!
Além dos baixos níveis de atividade física na gestação, o número de mulheres diagnosticadas com diabetes gestacional mais do que dobrou em Pelotas: pulou de 3%, em 2004, para 7,5%, em 2015. O índice de mulheres que estavam acima do peso ou obesas antes da gestação também cresceu: saltou de 34% para 47,5% no mesmo período.

“Tanto o diabetes gestacional como a obesidade são quadros que podem ser prevenidos e tratados com a atividade física”, ressalta a doutora em Epidemiologia, Carolina Coll.

Algumas práticas indicadas
Caminhada rápida ou leve: trabalha todo corpo. É suave para articulações e músculos.

Academia e treinamento funcional: estão entre as alternativas. Com orientação de um profissional, alguns exercícios precisarão ser adaptados, conforme o período gestacional; assim como ocorre com adolescentes, quando ainda não possuem porte adequado aos equipamentos.

Corrida: também é uma bela pedida.

Natação e exercícios dentro d’água: mobilizam muitos músculos. A água suporta o peso e evita, assim, lesões e tensão muscular.

Bicicleta estacionária: conforme o volume da barriga, pode ser uma alternativa mais adequada do que pedalar pelas ruas, para evitar risco de desequilíbrio e quedas.

Yoga ou pilates: reduz o estresse, melhora a flexibilidade e promove o alongamento e a respiração focada. Há até cursos projetados para mulheres grávidas, com posições modificadas em função das mudanças de equilíbrio. Devem ser evitadas posições que exijam deitar ou ficar imóvel durante longos períodos.


O que não é recomendado
Esportes de contato corporal ou que coloquem a gestante em risco de ser atingida no abdômen, como futebol, vôlei, handebol, basquete e boxe.

Atividades que podem levar à queda, como ginástica olímpica e equitação.

- Atenção: fisiologicamente falando, uma das únicas atividades não recomendadas é o mergulho em profundidade, que poderia provocar embolia no feto - ressalta o professor da Escola Superior de Educação Física (Esef), Marlos Domingues.

 

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