Manifestação

Uma grande perda que gera preocupação

A tragédia que atingiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro alerta para a proteção do patrimônio e da história do país; em Pelotas, um protesto em defesa da ciência foi realizado na tarde de segunda-feira, promovido pela UFPel

Carlos Queiroz -

Após ser atingido por um incêndio de grandes proporções, o Museu Nacional do Rio de Janeiro teve a maior parte do seu acervo destruída. Cerca de 20 milhões de itens foi queimado com o fogo que começou na noite de domingo (2), na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. A instituição, que completou 200 anos neste ano, é o mais antigo do país e passava por dificuldades na manutenção devido ao corte de verbas. Agora, esse trágico acidente faz com que as atenções se voltem para a situação em que se encontram os museus e se os acervos estão sendo conservados de forma adequada. Em Pelotas, a tarde de segunda-feira (3) foi marcada por uma passeata para alertar a população.

A Bibliotheca Pública Pelotense é um dos maiores acervos da cidade, elogiada por todos que por lá passam. Com mais de duas mil peças catalogadas e documentadas, o local realiza atendimento educacional a escolas e divulga a arte de Pelotas. O número de visitas é de 800 a mil pessoas mensalmente, vindas de outros estados e até mesmo do exterior. Há extintores de incêndio, saídas de emergência e profissionais preparados caso algum acidente aconteça, porém a estrutura de 142 anos não é totalmente adequada. Os antigos armários de madeira não deveriam mais ser utilizados, segundo a museóloga Janaína Rangel. A Bibliotheca é uma Instituição privada e sobrevive com o apoio da comunidade, que possui um papel fundamental na manutenção. "O que peca é a estrutura e a falta de verba", afirma Janaína.

O incêndio no Rio de Janeiro preocupou a todos. Na Bibliotheca, os frequentadores questionaram a direção se o local está preparado para lidar com possíveis acidentes. Janaína explica que não se pode prever; a qualquer momento um incêndio, por exemplo, pode acontecer. Eles possuem uma equipe bem qualificada de profissionais, mas não se sabe até quando a estrutura vai aguentar o descaso. O apoio da população é essencial, mas eles também pedem ajuda dos órgãos públicos para que a Bibliotheca Pública "não se acabe e continue respirando".

Inaugurado em 1986, o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG) é ligado ao Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e conta com 3500 obras, divididas em sete coleções. Há dois meses o local está aberto ao público e ainda se está tomando conhecimento e se adaptando, conforme o diretor adjunto Lauer Santos. Um plano museológico deve ser feito em breve, com a criação de um programa de incêndios próprio para museus e reavaliação na rede elétrica. Com o objetivo de abrir mais uma galeria, o MALG conta com vigilância 24h, mas Lauer explica que o prédio é antigo e medidas devem ser constantemente revistas para manter o local. "Museus são caros", disse.

Intervenções pontuais estão sendo feitas, desde maio deste ano, no Museu da Baronesa. As infiltrações estão sendo cessadas e a parte elétrica, revisada. De acordo com o secretário de Cultura, Giorgio Ronna, a tragédia abriu os olhos para redobrar as medidas e traçar um novo plano de proteção ao acervo, para preservar a estrutura. Além disso, foi exposta a fragilidade nacional dos museus e acervos. "É uma tragédia cultural".

UFPel em luto e na luta
A UFPel emitiu uma nota na tarde de segunda-feira, lamentando a perda provocada pelo incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, se solidarizando e apoiando ações que possam contribuir para diminuir a perda e incentivar as discussões acadêmicas, com o objetivo de preservar os bens culturais. "O mundo lamenta o desastre porque parte do patrimônio que ali estava dizia respeito à humanidade".

Uma passeata foi promovida pelo Instituto de Ciências Humanas (ICH) e pelo Laboratório de Antropologia e Arqueologia (Lepaarq). Com os gritos "povo sem cultura é nada" e "povo sem história é nada", os manifestantes partiram do ICH em direção ao MALG; uma parada foi realizada em frente à Secretaria Municipal da Cultura. O objetivo foi, segundo a professora e organizadora Caroline Borges, "exprimir o luto e indignação quanto ao descaso e corte de verbas", além de lutar contra a precarização.

O Museu Nacional do Rio de Janeiro é considerado o quinto maior do mundo e carrega a ideia de nação brasileira. O professor Fábio Cerqueira ressaltou a importância do ato e de passar o recado para a cidade: "É uma pequena noção da imensa perda".

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