Guerreiros

Uma profissão de luta e amor

No dia do técnico e do auxiliar de Enfermagem, DP conta a história de profissionais que têm na essência a proximidade com o paciente

Carlos Queiroz -

Nesta sexta-feira (20) é celebrado o dia do técnico e do auxiliar de Enfermagem, uma profissão que em sua essência traduz uma das expressões mais usadas nos últimos dois anos: linha de frente. São eles que passam o dia a dia com os pacientes, aplicam medicações, auxiliam na higienização e, frequentemente, se tornam o ombro amigo de pessoas e famílias que enfrentam momentos de fragilidade.

O técnico e o auxiliar são o contato primário do paciente, explica a coordenadora do curso técnico em Enfermagem do Dimensão, Sidele Trecha. Entre as atividades exercidas, estão a aplicação de medicações e higienização. As atividades são diferentes das do enfermeiro em alguns pontos, conta a profissional. Entre elas, o enfermeiro faz a gerência administrativa do setor e executa procedimentos de maior complexidade, como a passagem de sonda. Conforme Sidele, o perfil do aluno acaba sendo de pessoas que já passaram por uma situação de impacto envolvendo contato com a saúde e, por isso, escolheram seguir carreira na área.

Na prática, o profissional pode atuar de maneira multissetorial, em atendimentos gerais, de urgência, emergência, entre outros pontos. “Precisa de muito preparo”, destaca a coordenadora, ressaltando que a pandemia fez a população notar ainda mais a importância desses profissionais, justamente pelo contato direto. “É ele quem está ali, é a base”.

Um chamado
“Eu sempre digo que fui escolhida pela profissão em vez de ter escolhido ela”, comenta a técnica Núria Carter Castilhos, 37, que atua há oito anos na área. Ela conta que procurava uma especialidade para seguir e, ao ver um anúncio de curso, sentiu o chamado. Só que um detalhe inusitado quase se colocou nesse caminho: o medo de sangue e de agulhas. No entanto, nada disso impediu ela de trabalhar. “Coloca os medos no bolso e encara, porque [o paciente] depende de mim”, explica. Felizmente, com o tempo, o problema diminuiu.

O contato com as pessoas é o que faz a profissão ser apaixonante, segundo ela, que trabalha na Unidade Cardiológica de Terapia Intensiva (UCTI) do hospital Beneficência Portuguesa e, recentemente, se formou também em Enfermagem, embora continue atuando como técnica. Por ser de um setor onde os enfermos ficam sem acompanhantes, ela diz que o contato se torna ainda mais sensível. “Tu acaba te tornando a família do paciente”, analisa, contando que muitos procuram ela posteriormente, inclusive via redes sociais, para ir contando as atualizações e mantendo contato.

Essa relação também foi um dos motivos que fez Maria Teresinha Fouchy ouvir um chamado tardio para a profissão. Com 33 anos de atuação também na Beneficência Portuguesa, a técnica trabalhou na copa do hospital por 11 anos e há 22 fez a mudança de área. “Sempre senti vontade de ajudar mais”, argumenta. Em seus plantões noturnos, diz que a rotina é agitada, estudando cada caso de paciente, aplicando medicações, levando para exames, fazendo o traslado entre setores, ajudando na higiene… E, mesmo com isso tudo, sobra tempo para dialogar. “Eles e a família estão carentes, fragilizados (...) estão precisando de um carinho e a gente dá”. A partir disso, a técnica diz que nota também detalhes do estado de cada indivíduo. “A maior alegria é ver um paciente sair recuperado”, comemora.

Escolha tardia por um sonho de vida
A técnica Sônia Fernandes trabalhava no setor de internação de um hospital e há oito anos se formou na área. Hoje, aos 62, comemora a realização de um sonho que tinha desde jovem, quando sua mãe atuava em um posto de saúde “Eu sou apaixonada, faço porque amo”, celebra. Os dois anos de pandemia fizeram o contato com o paciente se estreitar ainda mais. Em um momento de medo e fragilidade, em situação de isolamento, ela diz que a mão do técnico ao lado era o conforto para muitos. “Eles se sentem acolhidos. Na distância da família, o técnico é quem está ali”.

Alento financeiro em vista
O projeto de lei 2564/2020 foi aprovado pela Câmara dos Deputados no início do mês e define como salário mínimo inicial para os enfermeiros o valor de R$ 4.750,00, a ser pago nacionalmente pelos serviços de saúde públicos e privados. No caso dos técnicos, haverá proporcionalidade: 70% do piso dos enfermeiros para os técnicos de enfermagem (R$ 3.325,00); e 50% para os auxiliares e as parteiras (R$ 2.375,00). O projeto ainda tramita no Senado e precisa de aprovação presidencial.

A valorização é motivo de comemoração para a categoria. Maria Teresinha diz que é preciso ter em mente que a área da saúde é necessária, uma das raras em que não se dá para esperar ou diminuir e que, por isso, o trabalho precisa ser reconhecido. Sônia, por sua vez, diz que a valorização financeira pode trazer qualidade de vida para o profissional, já que muitos de seus colegas acabam trabalhando em múltiplas instituições para incrementar os ganhos, que ficam em torno de R$ 1,5 mil, mas que acabam, por vezes, sendo aumentados por plantões de final de semana e adicional de insalubridade.

Para a coordenadora do curso Dimensão, a valorização é uma vitória para quem trabalha, principalmente, com amor ao próximo, em uma atividade que requer extremo preparo técnico e emocional. “É uma profissão admirável”, encerra.

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