Saúde
Usuários dos Caps sofrem com a falta de medicação
Atualmente, os tratamentos são prejudicados pela falta de cinco remédios; problema vem desde 2018
Carlos Queiroz -
Pelo menos cinco medicações, dirigidas a usuários de Saúde Mental, estão em falta nos estoques da Farmácia Municipal de Pelotas. E as queixas não se restringem à ausência de Amitriptilina, Clorpromazina, Fenobarbital, Haloperidol e Carbonato de Lítio. O problema é recorrente. Arrasta-se desde o ano passado, garante a Associação dos Usuários de Saúde Mental, e a cada momento é uma nova substância - como Diazepam e Flufenazina - que compromete tratamentos e coloca pacientes sob risco. A entidade que, periodicamente, leva as demandas ao Conselho Municipal de Saúde já cogita a hipótese de procurar o Ministério Público (MP) com a denúncia.
“Recebemos relatos todas as semanas, durante as reuniões. O que nos preocupa é que desesperadas, sem a medicação, algumas pessoas acabem procurando internações psiquiátricas, que poderiam ser evitadas”, afirma um dos diretores da Associação, Ivon Lopes.
Quem atua nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) também tem precisado manejar com interrupções nos tratamentos e alinhar estratégias para monitorar os usuários de perto, já que em muitos casos os sintomas se acentuam, sem os medicamentos de uso controlado. Garimpar possíveis estoques em farmácias distritais, ir em busca de versões injetáveis e associar-se aos profissionais do programa Estratégia Saúde da Família (ESF), que podem intensificar as visitas domiciliares diante de algum alerta. É hora de, efetivamente, o trabalho em rede fazer a diferença.
Medicação, como um dos instrumentos de cuidado e reabilitação
Na tarde de ontem, o Diário Popular esteve no Caps Porto; um dos oito existentes em Pelotas. Ao interromperem a oficina de Música, não demorou para surgirem depoimentos sobre a dificuldade em acessar remédios, a busca de direitos na Justiça e os preços elevados. Não raro, adquiri-los torna-se inviável ao orçamento - asseguram. Ativista do modelo antimanicomial dos Caps desde a década de 1990, Izamir de Farias é enfático: “A medicação é um dos instrumentos de cuidado e reabilitação do nosso usuário.”
E como coordenador do Caps Porto e doutor em Saúde Mental, o arteterapeuta fez questão de citar algumas das várias ferramentas que contribuem no acolhimento e no sucesso do trabalho: Educação Física, Terapia Ocupacional, Artesanato, Grupos terapêuticos e Música. Mas, faz a ressalva: “A medicação é um desses mecanismos de estabilização de sintomas, também importante”. Atacar a causa das faltas recorrentes de medicamentos, portanto, é fundamental.
A posição da prefeitura
O secretário de Saúde, Leandro Thurow, citou dois pontos como justificativa para explicar os atrasos: as compras por licitação e problemas com fornecedores. “Os motivos nem sempre são os mesmos e, às vezes, se sobrepõem”, destaca. Thurow, entretanto, não apresentou prazos ao Diário Popular para resolver a falta dos remédios.
A prefeitura ressaltou, todavia, que o desabastecimento não estaria afetando os serviços de atendimento 24 horas, com leitos de internação, já que a farmácia do Caps Álcool e Drogas (AD) tem suprido a demanda das situações que envolvem internações e acolhimentos noturnos.
Confira os remédios em falta (*)
Amitriptilina 25 mg
Clorpromazina 100 mg
Fenobarbital 100 mg e solução 40 mg/ml
Haloperidol solução 2 mg/ml
Carbonato de Lítio 300 mg
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