Entrevista

Vice-presidente da Ebserh: “Voltamos a uma situação de estabilidade na capacidade de procedimentos cirúrgicos”

Daniel Beltrammi comenta crise da falta de anestesistas em Pelotas e perspectivas para o futuro dos hospitais universitários na região

Divulgação - DP - Integrante do novo comando indicado pelo governo Lula, Beltrammi diz que há disposição da Ebserh em avançar com novo HE, mas que obra também depende de recursos de emendas

Após estar à frente da Fundação Paraibana de Gestão em Saúde (PB Saúde), o médico sanitarista e especialista em Administração Hospitalar, Daniel Beltrammi, ocupa, desde fevereiro deste ano, o cargo de vice-presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O gestor faz parte da equipe diretiva indicada pelo governo federal, liderada por Arthur Chioro, para comandar a empresa pública que administra 41 hospitais universitários brasileiros, entre eles o Hospital Escola da UFPel (HE/UFPel) e o Hospital Universitário da Furg (HU/Furg).

Nesta entrevista exclusiva ao Diário Popular, Beltrammi aborda os recentes problemas enfrentados em Pelotas devido à falta de anestesistas, comenta as prioridades para a Zona Sul e atualiza, ainda, como está o processo de captação de recursos para a obra do novo HE/UFPel.

A falta de anestesistas impactou diretamente as cirurgias realizadas no HE/UFPel. Como está o fluxo de procedimentos atualmente em relação ao ano passado, quando o problema passou a ser enfrentado?
Se fizermos uma análise, olhando o primeiro quadrimestre de 2022 e o primeiro quadrimestre de 2023, até abril, vemos que já estamos em uma fase de recuperação. Temos certeza que vamos alcançar e superar no mês de maio [o primeiro quadrimestre de 2022]. No centro da crise, em fevereiro de 2023, foram realizadas 66 cirurgias. Só o volume do mês de abril já representa mais que a duplicação do número, com 139 procedimentos. Com essa comparação, entre fevereiro e abril, a nossa aposta é que os meses de maio e junho serão de alavanca. Deste total, 74 foram cirurgias oncológicas e 75 foram de urgência. Hoje, temos boas notícias para Pelotas. Estamos conseguindo garantir escalas com dois médicos anestesistas, o que está nos permitindo fazer metade da produção cirúrgica em cirurgias oncológicas e também ter um anestesista no período da noite para responder às emergências que o sistema municipal de saúde venha a necessitar.

A falta de anestesistas acarretou no aumento da fila de espera por procedimentos. Qual o número de pacientes na fila atualmente?
Temos diferentes tipos de cirurgia em fila. Como todos já sabem, as cirurgias oncológicas têm prioridade em função das repercussões que a doença é capaz de gerar na medida que o tempo passa. Nos ambulatórios vinculados ao HE, temos um conjunto de cirurgias que estão em lista. São 1.164 e, destas, 1.007 são cirurgias programáveis. No que diz respeito ao HE, vamos trabalhar para aumentar nossa capacidade de atendimento. Mas é muito importante lembrar que não existe fila de espera dentro de um serviço de saúde. A fila não é do serviço, ela é do sistema. Por isso que pedimos encarecidamente o apoio da Secretaria [de Saúde] de Pelotas e da prefeita para que a fila possa ser gerenciada por quem é de direito. A tarefa da regulação é levar a demanda para o serviço que possa executar primeiro, por isso é tão importante ter regulação e por isso que nossa mesa de trabalho aqui em Brasília, com Pelotas, foi tão produtiva.

Desde o ano passado foram diversas tentativas, muitas delas frustradas, de garantir a contratação de anestesistas na região. Como está o quadro no HE/UFPel e no HU/Furg?
Em Pelotas, com os novos movimentos feitos pela Ebserh, estamos tendo uma chegada constante de profissionais para as escalas. O que é mais importante dizer é que estamos conseguindo fazer uma sustentação diária da escala, com dois profissionais nos turnos matutino e vespertino e com um profissional no turno da noite. Na Furg, o quadro da Ebserh tem 11 anestesiologistas que, de maneira estável, têm conseguido manter as escalas necessárias para o serviço. Eu diria que o diagnóstico do momento é que voltamos a uma situação de estabilidade e capacidade de produção de procedimentos cirúrgicos semelhante ao que se podia observar antes de outubro de 2022, quando começamos a administrar os desafios de que estamos falando.

No fim de março, representantes pelotenses e do Simers estiveram em Brasília discutindo a situação do HE/UFPel com a Ebserh. De lá para cá, quais medidas foram tomadas para que se chegasse ao cenário atual?
A medida mais importante se deu no complemento de esforço anestésico ao quadro da Ebserh. Esse complemento se deu através da prestação de serviço, com a realização de um contrato que programa o volume de cirurgias, enquanto a empresa prestadora de serviços faz o provimento complementar. Combinamos esse esforço com a força de trabalho de médicos anestesistas do HE, que fazem um trabalho valoroso que nós precisamos reconhecer. Vamos seguir com esse mesmo esforço democrático e de diálogo, com mesas de construção conjunta de soluções, com o Executivo e Legislativo pelotense, com as bancadas do Estado e com a representação médica para que a gente possa aproveitar, inclusive, as dificuldades que enfrentamos para que as soluções construídas sejam preparatórias para o futuro do novo HE.

A comunidade pelotense espera pelas obras do novo Hospital Escola, que tem custo estimado em mais de R$ 200 milhões. Como se encontra a busca por recursos para os blocos 1 e 2?
Tivemos uma mesa de conversa em Brasília que não reuniu apenas a inteligência educacional e sanitária, mas também os poderes Executivo e Legislativo municipal, o Legislativo estadual e também parte da bancada federal do Estado. Vamos trabalhar para que emendas de bancada e individuais de 2024 possam estar direcionadas para esse esforço. Não é fácil reunir um recurso desta monta, mas estamos bastante otimistas de que teremos condição de fazer o movimento para ter o novo hospital o mais rápido possível. Ficou muito clara a disponibilidade de parlamentares, do Município, do Estado e da União de fazer o seu papel e colocar em primeiro plano o maior interesse de Pelotas. Do lado de cá, há um compromisso absolutamente inalienável de colocar nossa experiência e capacidade de execução e gestão de serviços hospitalares a serviço dessa causa.

Qual é a prioridade que a Ebserh vê, hoje, na região de Pelotas e Rio Grande?
Integração, integração e integração. Nossa gestão tem o papel de colocar a Ebserh integrada ao SUS. Nós somos responsáveis por três grandes hospitais no Rio Grande do Sul e temos oportunidade de estabelecer parcerias, não só com gestores municipais e com a gestão de saúde estadual, mas também com outros equipamentos federais relevantíssimos, como o Grupo Hospitalar Conceição e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que cumprem atividades de atenção à saúde e de ensino, pesquisa e inovação semelhantes às nossas. Então, é integração e sinergia para fazer o uso mais eficiente possível do recurso do contribuinte, tendo uma agenda de desenvolvimento que não seja só regional, mas que atenda ao interesse do Rio Grande do Sul e do País.

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