Saúde

Zona rural sofre sem médicos na UBSs

Situação é delicada nas regiões de Santa Silvana, Corrientes, Cerrito Alegre e Maciel

Paulo Rossi -

Em pelo menos quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Zona Rural não há atendimento médico. Na porta de entrada da UBS Corrientes, um bilhete escrito à mão avisa a quem chega ao local: "estamos sem médico". No portão de acesso à UBS Santa Silvana não há avisos e um cadeado tranca o acesso ao prédio, em reforma inacabada. No Cerrito Alegre, o único médico que atendia a localidade irá se aposentar após as férias, iniciadas na última semana, e a UBS Maciel era atendida pela mesma profissional da Corrientes, em dias alternados.

Há cerca de dez dias um relatório realizado pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS) apontava para a falta de 19 profissionais nas unidades urbanas. Locais que contavam com três médicos no ano passado, como o Sítio Floresta, cita o presidente Luiz Guilherme Belletti, hoje possuem um profissional no quadro. Ele ainda citou unidades no Simões Lopes e Laranjal, que enfrentam dificuldades no atendimento. "Além de médicos, muitas equipes estão sem enfermeiro, sem técnico, o que pode fazer Pelotas perder recursos da Estratégia da Saúde da Família (ESF)", informa Belletti.

A dificuldade de encontrar profissionais dispostos a atuarem na rede pública aumentou com o fim do programa Mais Médicos. Em 2018, Pelotas possuía 12 cubanos do programa atuando na colônia e na área urbana. Em todos os locais visitados pela reportagem que contavam com os médicos estrangeiros, é consenso que foi um erro interromper o Mais Médicos. O argumento que teriam brasileiros para substituir não se sustenta, a exemplo do que ocorre na Zona Rural de Pelotas.

Fechado há cinco meses
A dificuldade em locais como Santa Silvana foi retratada pelo Diário Popular no mês de abril. Na localidade, o posto está fechado desde fevereiro, recordam os moradores do entorno. Na época, a então secretária Ana Costa anunciou que o posto passaria por uma reforma, iniciada em maio e interrompida na última semana, sem conclusão. Lothar Peter, integrante de um conselho local da unidade, precisou ir ao Centro fazer a vacina da gripe a um custo superior a R$ 60,00. "Poderia ter feito aqui, no lado de casa. E quem não pode pagar? Tem muita gente pobre na colônia que não tem condições de pagar", lamenta.

Mostrando a recente pintura que o prédio recebeu, Lothar lembra que faltariam poucos detalhes para finalizar a obra. "O antigo médico já disse que tem interesse em voltar. Enquanto os outros têm o prédio e não têm médico, nós temos um médico mas não temos o prédio", comenta. Toda a comunidade aguarda a reabertura do posto. A moradora Sandra Ücker diz que estão totalmente desassistidos. "Na Colônia Osório são poucas fichas, que mal atendem os moradores de lá e o médico não atende todos os dias. Aqui não teve campanha de vacinação contra a gripe".

Duas unidades e uma profissional
Uma única profissional era responsável por duas unidades, a da Maciel e a da Corrientes. Com a saída para outro município, os dois postos ficaram desassistidos. Na Corrientes não há atendimento desde o final de junho. Em um prédio adaptado e considerado insalubre pelos funcionários, vacinas e exames continuam sendo realizados por uma enfermeira, uma técnica em enfermagem e três agentes de saúde. Em casos de emergência, a unidade conta com o apoio da Ecosul, que transporta os pacientes até o centro. "Ainda bem que eles nunca se negam", comenta uma servidora, que prefere não ser identificada. Ao mesmo tempo que ajuda, o custo de passar nas cancelas do pedágio fazem os moradores buscarem atendimento em Turuçu, sobrecarregando outro município.

O mesmo acontece na Maciel, próxima ao município de Morro Redondo. "A gente manda pro hospital da cidade que, após as 19h, é pronto atendimento SUS", conta uma funcionária da unidade. O posto mais próximo fica no Grupelli, a uma distância de dez quilômetros. Uma das preocupações da equipe são as pessoas que necessitam de medicamento controlado e, sem médicos, não é possível renovar as receitas.

Sem orientações
Desde o dia 28 de junho Cerrito Alegre também está sem médico. O profissional que atuava na unidade entrou em férias antes de se aposentar. Até o momento, não há orientações repassadas pela Secretaria Municipal da Saúde aos funcionários para informarem quem chega buscando atendimento no posto. Por conta própria, a solução encontrada é se dirigir a Arroio do Padre, município vizinho, ou se deslocar até o centro da cidade. Márcia Beatriz Siqueira acompanhava a filha Suelen Farias na manhã da última quarta-feira para retirar os pontos da cesárea, trabalho feito por uma enfermeira. No entanto, a avó questiona: "E quem não tem como se deslocar até estes lugares, faz como?".

O que diz a Secretaria Municipal de Saúde
O secretário interino de Saúde, Leandro Thurow, defende que a unidade na Santa Silvana continua em reformas. "Neste momento estamos fazendo os empenhos da adequação visual. Assim que recebermos a equipe retorna para instalar", informa. Ainda não há previsão de reabertura da unidade. Conforme Thurow, Pelotas chegou a contar com 43 profissionais no Mais Médicos, número que se reduziu a 33 atuais. No momento, a prefeitura está com processo seletivo simplificado aberto para contratar profissionais. Sobre possíveis perdas de recursos por não ter equipes completas de Estratégia da Saúde da Família, Leandro confirma. "O Ministério da Saúde, entendendo a dificuldade dos municípios com a redução do Mais Médicos, deu um prazo de seis meses para se reorganizar sem perda de recursos". Sobre o Cerrito Alegre, o secretário confirma que o profissional está em férias e não nega a informação sobre a aposentadoria do médico.

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