Editorial

Oportunidades e oportunismos

Há quem enxergue a tragédia coletiva como vivemos como oportunidade para algo. E tantos outros, oportunistas que são, sequer escondem isso. A crise atual acaba sendo também moral em alguns pontos, em que cidadãos tentam "pontuar" em algum score, digital ou eleitoral, através da tragédia. Com um telefone na mão, todo mundo ganhou a capacidade de gerar conteúdo. O problema, infelizmente, é que muitos aproveitam essa oportunidade para apenas promover a própria imagem, como semideuses do digital.

Como carapuças servem, há quem vá ler este Editorial e levar a crítica para si. Não é, de verdade, algo direcionado a uma ou outra figura, mas sim a um comportamento coletivo que vem sendo amplificado pela tragédia. Não dá, também, para confundir como uma crítica à solidariedade exposta, já que essa acaba impulsionando outros gestos através da inspiração. O problema, em seu cerne, é quando o indivíduo quer aparecer mais do que o gesto.

A oportunidade que se apresenta agora é de uma reconstrução das cidades com base em estratégias sustentáveis, em que comunidades inteiras não sejam assoladas pela violência de uma natureza que em muitos casos apenas volta a ocupar seu espaço natural. Criar mecanismos de convivência entre uma sociedade que depende muito do concreto e do asfalto de uma maneira que não viole espaços naturais que servem para absorver a água da chuva ou dos corpos hídricos e prevenir outras catástrofes como deslizamentos, estiagens e enchentes. Não só a urbanização, mas também o agronegócio precisam criar caminhos para conviver com esses espaços.

Para os oportunistas, que inclusive ocupam ou pleiteiam cargos públicos, a enchente será uma questão espremida ao máximo, não com busca de solução ou um caminho para quem sofre, mas como maneira de manter-se em evidência. Para o cidadão, há que manter-se atento a essas figuras. Se há quem se beneficie de uma tragédia, que bem essas figuras podem trazer à comunidade ocupando postos de poder e de tomada de decisão? Se o ego e a vaidade são superiores ao espírito solidário diante de um dos maiores desafios coletivos da história recente, como será em outros momentos?

Reflexões são necessárias para todos os entes da sociedade. Urgente.


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