Editorial
Debate anacrônico
Causa espanto deparar-se com notícias que vêm de Brasília e encontrar um debate que volta mais de uma década após ter sido resolvido. Além da perda de tempo, precioso no Parlamento de um País que pode escolher qual dedo a próxima crise a ser enfrentada, e de recursos desprendidos em um tema que é claramente inconstitucional, as discussões sobre proibir casamento homoafetivo parecem ser única e exclusivamente baseadas em preconceitos que há muito já deveriam ser superados - ou ao menos tolerados, por quem não tem essa capacidade de compreensão.
A impressão que passa para o povo é que alguns parlamentares, em sua maioria do "baixo clero", se dedicam a debates ultrapassados como esse apenas para aparecer por alguns minutinhos, e ganhar alguns votinhos no caminho. No entanto, espanta ainda mais a afronta à Constituição, já que em 2011 o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu, por unanimidade, sobre o tema. Mesmo com a aberração que o Legislativo propõe aprovada, o que certamente não vai acontecer, há pouca, para não dizer nenhuma, possibilidade de isso ir em frente. Ou seja, perda de tempo em troca de espaço midiático para alguns deputados.
Outro espanto é a percepção de que alguns parlamentares parecem trabalhar em busca do retrocesso de direitos ao povo, e não ao contrário, como deveria ser. Um casamento, seja entre quem for, só diz respeito às duas partes envolvidas, seja qual for o fator biológico dentro dessa equação. Outra bizarrice apontada dentro do parecer do deputado Pastor Eurico (PL-CE) é retirar o direito de se reconhecer enquanto família para relações entre pessoas do mesmo sexo. Causa estranheza o parlamento querer opinar sobre sentimentos - e a relação entre família tem muito disso, afinal, há pessoas com vínculos sanguíneos que não têm qualquer afinidade e outras, cuja relação floresceu do amor, do convívio ou do respeito, que se enxergam como família.
Em um País que pretende estabelecer liberdades, é inaceitável que políticos sigam andando na contramão do que já é estabelecido e, principalmente, não atrapalha a vida de ninguém. Há que se cobrar que tenhamos nas casas representativas debates que tragam resultados reais ao povo, não ganhos midiáticos e eleitoreiros aos seus representantes.
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