João Carlos M. Madail

Desdolarização da economia mundial

João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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O dólar americano é, ainda hoje, a moeda mais proeminente entre todos os países, em razão dos Estados Unidos deterem a maior economia do mundo, perpetuando a sua moeda em transações fora dos Estados Unidos e em várias nações que a adotaram como moeda oficial. Em razão de a moeda movimentar a economia mundial até o presente, todos os países fazem transações em dólar. Assim sendo, quando o governo ou empresas brasileiras compram ou vendem algo de outro país, a moeda usada é o dólar e não o real.

Esta prática acontece desde 1944, a partir do Acordo de Bretton-Woods, quando o mundo substituiu o ouro pelo dólar como moeda global, já que o dólar, por sua vez, estava atrelado a todo o ouro que os americanos possuíam. Entretanto, a importância do dólar vem desde a criação dos Estados Unidos, o país com a democracia mais sólida do mundo. A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, elaborou-se um conjunto de regras para o sistema monetário internacional, quando surgiu o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Com o fim da guerra, os Estados Unidos e o dólar emergiram como a principal força político-econômica mundial e o país tentou estabelecer um padrão em que o grama do ouro teria um valor estabelecido em dólares. Este sistema vigorou até os anos 70, quando a moeda enfrentou uma brutal desvalorização. A partir de 1971, deixou de ser rastreada ao ouro e, com os avanços tecnológicos e a velocidade das negociações, o câmbio flutuante com o dólar passou a ocorrer em escala cada vez maior, consolidando a moeda dos Estados Unidos como principal base para as relações econômicas internacionais.

No Brasil, com a desvalorização do real em 1999, a paridade com o dólar deixou de existir. Foi nessa época que o governo brasileiro desindexou o real do dólar, com a adoção do câmbio flutuante. Desde então, o real alterna entre valorização e desvalorização frente à moeda americana. A questão da desdolarização no mundo capitalista começou a ser discutida a partir da fragilidade dos Estados Unidos e seus aliados em manterem a hegemonia num contexto fragmentado e multipolar, onde ninguém consegue dominar o comércio global, o investimento e o fluxo do dinheiro.

Após a pandemia e a guerra da Rússia com a Ucrânia, a transformação da energia em arma, a súbita aceleração da inflação, bem como uma crescente rivalidade entre Estados Unidos e China, os ânimos da geopolítica estão mudando rapidamente, o que está levando a uma divisão da economia global em blocos concorrentes, com cada bloco tentando se aproximar o máximo do resto do mundo e seus respectivos interesses estratégicos e valores compartilhados. Com isso, está aberta a batalha entre um bloco liderado pelos Estados Unidos e outro liderado pela China. Nesse sentido, o dólar ainda não está sendo substituído pelo euro, ou pelo iene, ou mesmo pelo yuan, mas por um lote de moedas menores. De acordo com o FMI, a parcela de reservas detidas em dólares pelos bancos centrais caiu 12 pontos percentuais desde a virada do século, de 71% em 1999 para 59% em 2021.

Aliado ao posicionamento de contrariedade em relação ao imperialismo do FMI e Banco Mundial, os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) criaram o Novo Banco de Desenvolvimento, com o objetivo de fornecer polo oposto de crédito em relação aos tradicionais financiadores. Aproveitando-se da atual crise bancária dos Estados Unidos, que ameaça desestabilizar ainda mais os mercados financeiros internacionais, países parceiros em transações comerciais começam a discutir a criação de uma moeda alternativa, seja no Brics ou na União Europeia da Eurasia que faz parte da Organização de Cooperação de Xangai. O presidente brasileiro saiu na frente, questionando publicamente em recente visita à China, sobre o porquê um país precisa correr atrás de dólar para exportar, quando poderia exportar em sua própria moeda?

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