Opinião
Enem e o programa De Olho no Material Escolar
Por Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro Agrônomo, Professor Titular da UFPEL, aposentado
Repercutiu negativamente o ataque ao agronegócio perpetrado na recente prova do Enem, aclarando a impregnação ideológica em curso no ensino brasileiro.
A questão 89 explicita: "No Cerrado o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio... a fatores negativos como a mecanização pesada, a pragatização dos seres humanos, a violência simbólica, as chuvas de veneno e a violência contra as pessoas". A resposta considerada correta foi: "Os elementos descritos no texto demonstram que há um cerco aos camponeses". Ora, o agronegócio não promove os problemas citados no texto e a ocupação do Cerrado, criando uma nova e próspera fronteira agrícola, ocorreu em vazios populacionais onde quase nada era produzido. Fruto do desenvolvimento havido, os municípios aí localizados, como Sorriso e Sinop no Mato Grosso ou Balsas no Maranhão, cresceram econômica e socialmente de forma exponencial, tornando-se líderes mundiais em produtividade agrícola, alcançando um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) superior à média dos estados onde se localizam. É o caso, por exemplo, de Luis Eduardo Magalhães que, segundo o IBGE, tem hoje um IDH de 0,716 quando na Bahia o IDH é de 0,660.
Noutra questão o texto diz: "O avanço da monocultura, como a soja, voltada basicamente para o mercado internacional, conflita cada vez mais com a sobrevivência da agricultura familiar". Outra inverdade. Os dois sistemas de exploração agrícola, familiar ou extensivo, não competem um com o outro. Há espaço para todos, como bem demonstram as áreas hoje ocupadas por assentados da reforma agrária, que somadas perfazem 88 milhões de hectares, superando em extensão os 77 milhões de hectares cobertos por todas as lavouras do agronegócio. E tudo isso ocupando apenas 7% do território nacional. Quanto à "soja, voltada basicamente para o mercado internacional", a verdade é que apenas metade dos grãos de soja aqui colhidos são exportados. O restante é processado internamente, extraindo o óleo usado nas cozinhas brasileiras e o biodiesel que abastece as frotas de caminhões e máquinas em funcionamento no País. O farelo, resultante de elevado valor proteico, serve de base na alimentação animal, na criação de aves, suínos, bovinos, peixes, cavalos, pets e outros. Quando você come um peito de frango, um pernil de porco, uma picanha, um ovo frito, um filé de tilápia, queijo, iogurte, ou toma um copo de leite, agradeça ao produtor de soja. Afora isso, da soja é extraída uma infinidade de outros produtos, como a lecitina que entra na composição dos alimentos industrializados (salsicha, mortadela, maionese, margarina, sorvetes, achocolatados, barras de cereais, leite, sucos e muitos outros), na fabricação de cosméticos (pomadas e cremes), de tintas, de produtos de higiene e centenas de outros.
Nos países comunistas é prática usual incutir o pensamento marxista na juventude, já em idade escolar. No Brasil, igual processo está em curso. Estudo da FEA-USP que analisou nove mil páginas de 94 livros de editoras que fornecem material didático ao MEC, revelou que 88% das menções ao agronegócio eram ideológicas, destituídas de embasamento científico. Como reação a isso foi instituído o programa De Olho no Material Escolar (deolhonomaterialescolar.com.br), uma organização da sociedade civil que busca contribuir com uma educação sobre o agro baseada em conteúdo científico, livre da doutrinação ideológica.
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