Nery Porto Fabres

Rio Grande deu um salto para o futuro

Nery Porto Fabres
Professor
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A bela cidade do Rio Grande que surgia em 1737 vivia momentos de grandeza religiosa, a fé condizia com o andar do desenvolvimento, a natureza fornecia caminhos, material para os prédios imponentes, móveis de madeiras nobres, entregava ao povo uma estrutura marítima e uma laguna espetacularmente imensa. Rio Grande não apenas era a civilização mais nova que surgia no Estado gaúcho, mas apontava com o dedo em direção à saída de toda a economia do novo Estado que surgia.

As águas navegáveis, a fartura de alimentos que surgiam da terra, a organização política e social com base na Igreja eram as responsáveis pela conquista histórica do espaço sulista em mãos dos portugueses. Anos seguintes surgiam palacetes com devoção à vida religiosa. Neles havia as impressionantes salas de estar tomadas por imagens santas que se caracterizavam não apenas por um apelo religioso, mas ainda pela natureza local, pelo aroma silvestre.

O visual belo das poltronas de madeira de lei, extraídas do próprio quintal, vindas dos jatobás, grápias, cedros vermelhos, ipês de plantios organizados para a manutenção da Igreja, enchiam os olhos de tanta formosura. A escadaria com degraus largos, corrimão com curvas simétricas e frisos feitos à mão, também como os encostos dos móveis eram torneados e entalhados com feitios de figuras religiosas. As imagens cristãs dominavam o ambiente que recebia tapetes da Índia com bordados feitos por moradores locais. Em cada canto da sala se encontravam imagens de Nossa Senhora gravada nos tapetes, eles vestiam o chão por sobre o assoalho encerado com a seiva da carnaúba, chamavam a atenção pelo número de fios trançados e de cores vivas.

As carnaúbas se destacavam entre as copas dos ipês amarelos, vindas do Norte e Nordeste do Brasil, decoravam o vasto espaço campesino e lutavam para se adaptar ao clima de frio severo do inverno sulista. Costeando a Lagoa dos Patos, próximo ao centro urbano do Rio Grande, se produzia a goma impermeabilizante de excelente qualidade, com fragrância agradável destas palmeiras exuberantes. Esta cera era exclusivamente brasileira. A comunidade cristã tinha afinidade com o costume de cultivar árvores, se aprimorou na extração mineral, adaptou-se ao ofício de bordadeiras, tecelãs, costureiras que, juntas, produziam a decoração de todos os ambientes religiosos.

Existiam pintores, artesãos, marceneiros e ferreiros que se encarregavam de esculpir, desenhar, tornear santos, anjos e divindades celestiais. Num tempo em que a economia da região era dividida com a Igreja. Os freis decidiam o que era melhor para o povo.

No Sul do vasto Brasil, naquele período, se estabelecia um novo governo que mais tarde entregou o poder às famílias dos criadores dos maiores partidos políticos. Aqui em Rio Grande, com discursos inflamados, surgiam as indústrias pesqueiras, fábrica têxtil e companhias de navegações que alavancavam os empreendimentos de melhorias portuárias. A bela cidade costeira ganhava estrutura para receber grandes embarcações.

O motor a vapor modificou a sociedade, alterou costumes, desencadeou o progresso e a devoção religiosa ganhou os trilhos por terra, como o motor náutico permitiu celeridade de seus movimentos por rios e lagoas se estendendo mar adentro. Lindas naus cruzavam a Lagoa dos Patos, maior laguna do mundo, deslizavam para a Lagoa Mirim pelo canal São Gonçalo e adentraram ao rio Jaguarão, Piratini, arroio Pelotas.

A beleza das matas, da fauna, da geografia em geral que incluíam pradarias em que o gado se perdia das vistas redundantemente ecoava nas vozes dos freis e nas canções religiosas. Mais tarde a cantoria se tornou um padrão da música tradicionalista gaúcha, enalteceu a terra sulista, as tradições, o amor entre as famílias preservado até hoje.

(Trecho extraído da obra A história do Rio Grande sob um olhar descontraído, de Nery Porto Fabres)

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