Por Evoti Leal
Barbeiro e escritor

"Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo" (Extraído de "14 ideias de Pequeno príncipe").

Precisamos entender estas duas coisas: 1) Cada um é um, ou seja, cada um é único no mundo. 2) Mas ninguém é único por ser o melhor no que faz, o melhor amigo, o maior exemplo de algo que todos admiram!

No primeiro caso, cada um tem a sua digital única, os seus passos únicos, sua personalidade e sua história de vida únicas.

Veja este exemplo:

Se colocarmos, juntos, em um grande salão de eventos, cem cabeleireiros, com cem modelos, os mais parecidos uns com os outros, quanto seja possível, pedindo a esses profissionais para que façam o mesmo tipo de corte, tecnicamente pré definido, veremos, durante e ao final do trabalho de todos eles, que nenhum deles iniciou, conduziu e/ou finalizou o seu corte exatamente do mesmo modo que o fez qualquer um, apenas um, dos outros 99.

E se esse evento for realizado a título de concurso, valendo medalhas de ouro, prata e bronze, não tenho a menor dúvida de que será bastante difícil a decisão do júri. Digamos que esse júri seja composto por dez grandes profissionais de fama internacional. Ainda assim será difícil chegarem às conclusões de quais dentre os cem concorrentes irão levar as três medalhas meritórias. Mas haverá pequenos detalhes que incidirão nessas decisões, pois ninguém é igual a ninguém e cada um trabalhou de um jeito diferente dos demais. Os próprios jurados pensarão diferentemente acerca da apresentação de cada candidato.
O que quero dizer é que se tivéssemos uma de nossas mãos com cem dedos, todos eles seriam diferentes uns dos outros, sem chance alguma de um só par deles ser formado por dedos absolutamente iguais.

Agora vamos para o segundo caso:

Quando alguém faz algo que outros também fazem, mas o faz de um modo completamente diferenciado, exclusivo, logo estará recebendo aplausos de pé, ouvindo declarações do tipo: "você não existe", "você é o melhor", "você é único no mundo", entre outras do gênero!

É então que ele diz, em tom de brincadeira, mas levando muito a sério, a menos que deseje enganar-se a si mesmo, ou já se tenha rendido ao sentimento escravizante da vaidade e do orgulho tóxico: - "Vocês falam isto porque não moram comigo;

passem um mês lá em casa e terão uma nova impressão a meu respeito. E não é porque trate mal aos meus familiares. Mas porque vocês só me conhecem por fora; porque estão vendo somente a embalagem..."

Um dia, um escritor famoso ouviu de um fã esta frase: - "Você não existe".

Ele olhou para o fã e disse-lhe: - "Penso, logo, existo sim"!

E arrematou em seguida: - "E também erro, logo, sou de verdade"!

Certa vez, a cantora e apresentadora de um programa feito para crianças, ao sair de um banheiro, em um aeroporto, disse que escutou uma menininha, espantada: - "Você viu, mãe? Ela também faz xixi e cocô!"

A "baixinha" só conhecia a Xuxa pela tela da TV, onde as pessoas não parecem tão reais.

É neste sentido que falo: todos, independente das posições que ocupem na sociedade, têm suas necessidades, seus pontos fracos, seus equívocos, sua normalidade, sua humanidade.

A ninguém, pois, devemos endeusar, idolatrar, ou colocar sobre um pedestal.

Todas as estrelas brilham. As diferenças de brilho entre elas só existem por causa das distâncias em que se encontram em relação aos observadores terrenos.

Assim são as pessoas em relação umas às outras.