Polêmica

Ex-diretora do Pronto Socorro nega envolvimento em irregularidades

Odineia Farias da Rosa diz-se chocada com demissão, critica postura da Prefeitura e afirma que não tinha ingerência sobre contratos de terceirizadas

Foto: Jô Folha - DP - Odineia diz ter ficado "chocada" com a demissão

Por Heitor Araujo
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A diretora-geral afastada do Pronto Socorro de Pelotas (PS), Odineia Farias da Rosa, diz ter ficado "chocada" com a demissão, após a Prefeitura abrir sindicância para apurar suspeitas de desvios na instituição em relação a contratos de empresas terceirizadas. Ao Diário Popular, a enfermeira e gestora hospitalar afirma não ter conhecimento prévio de qualquer denúncia de irregularidades no PS e que os documentos e notas de pagamentos às terceirizadas não passavam por ela.

Odineia assumiu a diretoria-geral do PS em 2021, segundo ela por indicação da prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) e da secretária de Saúde, Roberta Paganini, após atuar no Comitê de Saúde do Município em 2019 e ter cargo de gestão na UPA do Areal a partir de 2020.

Ela afirma que foi acordado na admissão que haveria uma separação de funções entre a direção-geral e o que chamou de direção administrativa e financeira do PS, cargo que seria desempenhado pelo gerente administrativo, Misael da Cunha, também afastado pela gestão no último dia 23.

"Quando fui nomeada, foi passado pela gestão municipal que o cargo que antigamente era de gerência financeira passaria a ser uma direção financeira e administrativa, para que se tivesse mais autonomia administrativa e financeira", diz Odineia.

Segundo ela, à direção-geral eram atribuídas funções do dia a dia do PS, "cuidar dos grandes problemas: assistenciais, técnicos, atendimentos, farmácia, serviço social. Todos os que trabalhavam conosco sabiam dessa divisão, inclusive a administração municipal", relata.

Os contratos de terceirizados, por outro lado, seriam assinados e geridos pela direção administrativa e financeira. "Se houve irregularidade, eu não tinha ciência. Se eu soubesse, com certeza eu teria levado à gestão. A direção administrativa e financeira que cuidava da parte de orçamentos, pagamentos, notas, essa parte administrativa", assegura Odineia.

Ela afirma que essa separação de função entre diretores partiu de uma estratégia da própria gestão municipal ao Pronto Socorro, e que, por ser de conhecimento da Secretaria de Saúde e da Prefeitura, ela ficou surpresa com o desligamento da direção-geral da instituição.

"Fiquei chocada pela forma como as coisas foram conduzidas. Mesmo sabendo dessa divisão de responsabilidades, eu não fui chamada para conversar, as coisas foram entendidas e acatadas sumariamente. Fui colocada em meio a um escândalo onde sou inocente e não tenho nenhuma culpa do que aconteceu", disse.

Odineia garante nunca ter havido comentários ou desconfianças sobre irregularidades na gestão de contratos no PS e que só teve conhecimento sobre a possível apuração a desvios quando foi demitida pela secretária de Saúde. "Foi uma conversa curta e objetiva. Fiquei muito chocada com a condução. Tentei marcar horário com a prefeita e não consegui", diz.

Segundo Odineia, mensalmente era enviada a prestação de contas da instituição à Prefeitura, cuja análise partiria de um setor dentro da Secretaria de Saúde. "Qualquer irregularidade, se houve, poderia ser apontada pelo setor que confere as prestações de conta e isso nunca aconteceu", completa Odineia.

A enfermeira afirma ter a consciência tranquila em relação à condução que teve na gestão do PS. No entanto, diz que sofrerá sérios prejuízos "financeiros, profissionais e emocionais" com o caso. "A maneira que conduziram foi de afastar todos, como se todos tivessem coisas a esconder. Foi péssima a forma como fui exposta. Meus pais têm mais de 70 anos, meu pai quase infartou quando viu a notícia. Estou sofrendo muito com tudo isso", relata.

Odineia afirma não ter sido procurada pelas autoridades para esclarecer o caso e que não teve mais contato com Misael da Cunha. Ela disse que a relação de trabalho entre os dois era de confiança e que nunca teve motivos para desconfiar de qualquer irregularidade.

"Nossa relação era muito boa, quando tu trabalhas com uma pessoa durante oito horas seguidas, todos os dias, tu tens essa relação de proximidade profissional, não posso dizer de amizade, mas próxima. Existia uma relação de confiança", assegura.

A gestora aponta que a administração à frente do PS rendeu melhorias na instituição, na implementação de protocolos, modificações de fluxos, projetos de humanização para os pacientes e a qualificação técnica dos profissionais. "Montamos UTI com intensivista, o que não se tinha, um acolhimento com classificação de riscos com protocolos, ampliamos o quadro de assistência no geral", relata.

"Isso que aconteceu agora desfaz todo o trabalho feito. A condução dessa situação foi muito ruim, não fui ouvida em nenhum momento. Eu não fui omissa. O que aconteceu foi uma divisão de responsabilidades lá dentro. O setor financeiro e administrativo tinha autonomia para fazer suas assinaturas", acrescenta.

A reportagem tentou contato com Misael da Cunha. Ele respondeu que qualquer manifestação partiria da sua advogada, que não quis se pronunciar à reportagem porque não teria tido acesso a nenhuma das possíveis denúncias.

Por meio de nota, o procurador-geral do Município, Eduardo Trindade, afirmou que a prestação de contas realizada pela secretaria de Saúde está entre os objetivos analisados pela sindicância instaurada pelo Executivo.

A Prefeitura evitou falar em tamanho de possíveis desvios no PS e disse que "ainda não é possível fazer qualquer afirmação sobre a participação ou não dessas pessoas [afastadas do PS], em razão da necessidade de apuração dentro do processo de sindicância que está em andamento na PGM. A fim de não causar transtorno nas investigações, não serão divulgados dados alusivos à qual(is) contrato(s) diz respeito a investigação".

CPI

O requerimento para a CPI do Pronto Socorro na Câmara de autoria do vereador Rafael Amaral (PP) recebeu 15 assinaturas entre quinta e sexta-feira, de todos os vereadores da base governista na Casa. É o segundo documento protocolado pelos parlamentares - o primeiro, dos partidos de oposição, recolheu sete assinaturas. Cristina Oliveira (PDT) e Cauê Fuhro Souto (UB) foram os únicos a assinar os dois requerimentos.

O presidente da Câmara, vereador Anderson Garcia (Podemos), disse que na próxima terça-feira os dois documentos serão encaminhados ao departamento jurídico do Legislativo.

Em relação à CPI, a Prefeitura manifestou-se também por nota, assinada pelo secretário de Governo, Fábio Machado, dizendo que "respeita o princípio da independência entre os poderes, todavia entende que as investigações já estão ocorrendo no âmbito administrativo, bem como nas esferas de controle".

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