Tratamento

Torcicolo congênito e assimetria craniana

Entenda essa condição que muitas vezes assusta os pais de recém nascidos pela aparência que causa nas cabeças dos bebês

- Apesar de nem sempre poder ser evitado, o tratamento quando iniciado logo após o diagnóstico, traz ótimos resultados

Caracterizado por contratura unilateral de um músculo do pescoço fazendo com que o bebê fique com a cabeça inclinada para o lado do músculo que foi afetado, por ter dificuldade de virar o seu pescoço para o lado oposto. Assim ocorre o quadro de torcicolo congênito (TC), que é quando existe o acometimento do músculo esternocleidomastóideo, que faz com que o bebê permaneça inclinado para um lado e rodado a sua cabeça e pescoço, para o lado oposto. O fisioterapeuta pediátrico Thiago Henrique Morales explica que muitas vezes tal desordem pode ser sentida ao toque ou percebido ao observar os movimentos do bebê ou limitações deles. Sendo na maioria das vezes a primeira avaliação, a observação dos familiares, que percebem que algo não está normal. “Sempre pergunto na primeira consulta, quando o atendimento vem por indicação do pediatra, se eles observaram algo antes do médico, pois é muito importante cuidar a posição que esse bebê fica no seu dia a dia. Se quando ele fica deitado, ele fica sempre na mesma posição, olhando para um único lado, se a rotação de cervical dele ocorre naturalmente ou não, isso é fundamental”.
O fisioterapeuta salienta ainda que é importante entender que até aproximadamente os dois anos de idade as crianças são naturalmente simétricas em suas atividades e aquisições. Portanto, quando os pais notam alguma preferência, é essencial buscar o diagnóstico e iniciar, com a orientação do fisioterapeuta, para desta forma desenvolver atividades e estratégias adequadas. “Quanto antes for dado início ao tratamento, mais efetivo será o resultado do tratamento”.
Morales alerta que negligenciar a presença do torcicolo ou esperar que ele se resolva de forma espontânea pode trazer efeitos sobre o desenvolvimento motor e até, futuramente escolar. Além de impactar no formato da cabeça do bebê, que poderá ter uma maior chance de se desenvolver de forma simétrica em casos em que o tratamento é iniciado precocemente. “Mudar o ambiente, para que esse bebê não fique olhando sempre para o mesmo lugar e tenha estímulos para fazer a rotação com a cabeça, algumas orientações de como segurar o bebê no colo, para ele inverter a inclinação da cervical, estímulos de movimento global do corpo, estímulos visuais, tudo está relacionado ao tratamento, o engajamento dos pais e uma orientação correta resulta no sucesso do tratamento”, explica o fisioterapeuta.
Através de testes de rotação cervical, onde o queixo do bebê deve ficar na linha do ombro de forma igual para os dois lados e uma testagem de estímulos, é uma das formas possíveis de que seja identificada a preferência por manter a rotação da cabeça para somente um dos lados. Caso isso ocorra é recomendado iniciar a fisioterapia a fim de evitar futuras complicações, como no caso das assimetrias craniana, nome clínico para uma condição conhecida popularmente por “cabeça torta” ou “cabeça amassada”. “Faço o uso de dois parâmetros, o de inclinação e de rotação. Aonde eu chamo o bebê com um brinquedo sonoro e ele deve realizar a rotação do pescoço para os dois lados e a inclinação passiva, que é quando ele consegue realizar o movimento de inclinar a cabeça para encostá-la no próprio ombro, e durante eu avalio a tensão no local. E para medir a assimetria do crânio, usamos o craniômetro, e assim avaliar se está normal leve, média, moderada, severa ou muito severa; levando sempre em consideração a idade desse bebê”, explica.
É diagnosticado que um bebê ou uma criança tem uma assimetria craniana posicional quando o formato da sua cabecinha está de alguma forma anormal, podendo estar mais achatado, amassado, alongado ou torto, mas não há qualquer anormalidade na fusão das suturas cranianas. Segundo Morales, o torcicolo congênito também é uma das principais causas para a plagiocefalia posicional. Essa patologia ortopédica pode ocorrer ainda na gestação, ou no parto, fazendo com que o pescoço do bebê já nasça virado, limitando assim a sua mobilidade e consequentemente, que tenha predileção em virar a cabeça para apenas um lado, e assim desenvolvendo a assimetria craniana. “Ao iniciar o tratamento, ainda na avaliação é muito pertinente levar em consideração a idade do bebê, os sintomas apresentados, a história gestacional, como foi esse parto, se foi necessário o uso de instrumentos, o histórico familiar, para começar a entender e mostra o contexto do quadro que se tem, da história daquele bebê”, explica.
O fisioterapeuta explica que a assimetria craniana, se não tratada, pode gerar prejuízos relacionados à torção da estrutura crânio-facial, como o deslocamento da articulação temporomandibular (ATM), podendo ocasionar uma diferença de posição da arcada dentária inferior afetando a mordida e provocando dor na ATM. “Se não for tratado e se não for de forma precoce, pode ter como consequências atraso do desenvolvimento motor, assimetria de face comprometendo os olhos, as orelhas, problemas de oclusão, da dentição, problemas relacionados a mandíbula, nos ossos da face como um todo”.
Gabriele Lisboa Machado, mãe do Davi, de apenas três meses, percebeu quando ele estava com apenas dois, que ele costumava ficar muito mais tempo deitado para um dos lados, e também mexer a cabeça de forma mais espontânea para o mesmo lado. Após a consulta de rotina com o pediatra, se confirmou a indicação de iniciar o tratamento com fisioterapia, para reverter um caso de TC. “Eu notava que ele tinha uma preferência para olhar mais para o lado esquerdo que o direito, achava que isso poderia ser um sinal que ele seria canhoto, mas na consulta a pediatra notou que ele estava com diferença na simetria da cabeça em relação ao outro lado. Foi quando buscamos a avaliação com um fisioterapeuta e foi constatado que ele já estava em um nível médio. Iniciamos então os exercícios e os cuidados necessários para possibilitar que ele realizasse os movimentos para os dois lados e diminuir essa assimetria”, explica. Hoje em dia a família segue com estímulos em casa, além das sessões de fisioterapia, que acontecem de 15 em 15 dias, o que possibilitou que o bebê realize mais movimentos. “Hoje em dia ele inclusive dorme para o lado direito, o que antes nunca era possível, percebemos ele mais à vontade para movimentar a cabecinha, a melhora é muito significativa”.
Tipos de assimetrias cranianas posicionais mais frequentes

Plagiocefalia Posicional
É quando ocorre o achatamento de um dos lados da parte de trás da cabeça do bebê, ficando com torta ou amassada. Às vezes é possível notar um olho ou orelha mais alto, ou mais para frente do que o outro, podendo estar desalinhados.

Braquicefalia simétrica posicional
Geralmente se apresentam como achatamento completo na parte de trás da cabeça. Pode haver um aumento da testa do bebê e quando observado de frente, as laterais da cabeça podem aparecer de forma mais proeminente.
Em alguns casos, a altura da cabeça do bebê pode parecer mais alta que o normal.
Braquicefalia assimétrica posicional
É uma mistura das características da braquicefalia com a plagiocefalia. A braquicefalia assimétrica geralmente aparece como achatamento na parte de trás da cabeça, porém além de mais achatada na parte posterior a cabeça também se apresenta com um formato menos arredondado, tanto a impressão de que a cabeça está torta.

Escafocefalia posicional
Se apresenta tipicamente como uma forma longa e estreita da cabeça. Frequentemente visto em bebês prematuros que passam longo tempo em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Falta de conhecimento pode impactar no conforto e busca precoce pelo tratamento
Para a família da Cecília de 11 meses, que iniciou o processo de reverter o torcicolo e assimetria, ainda aos quatro meses, impactou diretamente no desenvolvimento motor. Taiane Andrade Delias de Azevedo, mãe da Cecília, explica que no início foi muito difícil e a família achava que não seria possível reverter e reparar inclusive a posição que ela dormia em virtude do desconforto do pescoço. “Foi um processo bastante demorado, no início foi muito difícil, como ela tinha resistência em ficar sempre na mesma posição, trocar ela de lado era uma luta. Mas hoje em dia percebemos que a melhora é bem significativa, e que é um trabalho que deve ser realizado em conjunto, família com o fisioterapeuta.”
A mãe explica que o torcicolo foi percebido pela pediatra, em uma das consultas de rotina. Algumas marcas vermelhas no pescoço e nas costas indicavam que Cecília permanecia bastante tempo na mesma posição.
“Se formou uma assimetria na cabecinha que, quando foi percebida, já estava bem considerável e quando chegamos no atendimento com fisioterapeuta, ele já diagnosticou o torcicolo congênito e foi principalmente pelo motivo dela dormir com a barriga para cima, e eu achava que isso não tinha problema que era o recomendado. Ai nas sonecas começamos a deitar ela de lado, mas ela não conseguia ela sempre retornava, inclusive quando era durante brincadeiras, foi um processo bem demorado”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), recomenda que a posição ideal para o bebê dormir, é de barriga para cima, a fim de evitar a morte súbita, que pode ocorrer em bebês recém nascidos, porém o fisioterapeuta alerta que para que não ocorra casos de TC e assimetrias é fundamental ir movimentando o pescoço dos bebês ao longo do dia, sempre com muito cuidado. “Não está errado o bebê dormir de barriga para cima, mas é preciso estar atento quanto tempo do dia o bebê fica nesta mesma posição”, comenta.
No caso de Cecília, esse quadro de assimetria impactou em seu desenvolvimento, que através do tratamento fisioterápico pode ser recuperado a tempo. “Ela teve um leve atraso motor, ela demorou para engatinhar e fazer alguns movimentos. Hoje em dia ela consegue fazer amplos movimentos”, relata Daiane.
Fatores de risco para assimetrias cranianas posicionais

Pré-natais
Sexo masculino, primeiro filho, posição anormal do feto no útero.

Perinatais
Prematuridade, parto com uso de fórceps, bebê com peso alto ao nascer.

Pós-natais
Posição supina (barriga para cima), torcicolo congênito, atraso do desenvolvimento psicomotor, posição preferencial para um lado, hipotonia, trabalho de parto e hospitalização prolongada.
Para fortalecer a musculatura extensora do pescoço, a cintura escapular e os ombros, fatores de risco para assimetrias cranianas posicionais, é muito importante que o bebê tenha períodos de bruços, quando estiver acordado e sob supervisão.

Tratamento
Através de técnicas de terapia manual e buscando restabelecer a área afetada, minimizando o desconforto, o tratamento deve iniciar o mais precoce possível, sendo os melhores resultados quando o tratamento é iniciado com menos de seis meses de vida, quando os resultados tendem a ser mais positivos e sem consequências desse desalinhamento em seu desenvolvimento neuropsicomotor. “A ideia é tirar a tensão dessa musculatura e reorganizar o bebê de uma forma global, focando no desenvolvimento dele, que terá um impacto no sono, no humor. Isso tudo terá relação com a amamentação também, pois esse bebê não terá mais um desconforto no pescoço”.
O tratamento proposto irá depender de alguns fatores como a idade do bebê, a gravidade da assimetria e a resposta às intervenções realizadas. Desta forma, poderão ser realizadas desde fisioterapia até a colocação de órteses cranianas, um capacete usado para correção, mas que não é indicado para todos os casos. “A recomendação do capacete é para os bebês acima de seis meses, com uma assimetria severa, ou muito severa”, explica Morales.
O fisioterapeuta explica que mesmo após a reversão total do quadro, e alta do tratamento, é necessário seguir um acompanhamento periódico, com atenção ao desenvolvimento motor e etapas do crescimento deste bebê. “Mesmo após o final do tratamento, eu procuro fazer um acompanhamento, observar os bebês, até eles completarem um ano de vida, porque conforme ele vai adquirindo novas posturas, como a ficar sentado, ajoelhado, a caminhar, ele vai vencendo mais a gravidade, e com isso pode ocorrer alguma adaptação postural ou insuficiência muscular, que acaba fazendo com que ele volte a inclinar a cabeça e ficar com algum déficit postural”.

Prevenção
O fisioterapeuta recomenda aos pais e cuidadores que logo nos primeiros dias de vida do bebê incluam na rotina alguns cuidados que podem evitar o desenvolvimento do torcicolo congênito, como por exemplo fazer tummy time, alternar a amamentação e estímulos visuais.

Tummy time
É uma técnica que traz diversos benefícios para o desenvolvimento motor do bebê e o principal deles é o movimento do pescoço que vai fortalecendo aos poucos a musculatura da região, uma vez que ele fica na posição deitado de bruços. Deve ser realizado alguns minutos por dia, conforme a idade e a recomendação do fisioterapeuta. “É importante que durante o período que o bebê estiver nessa posição, seja um momento pensado com carinho, criando um ambiente lúdico, com afeto, que se interaja com esse bebê, fazendo deste um momento prazeroso, pois o exercício é importante para o tratamento, mas também para prevenção”, salienta Morales

Amamentação em mamas alternadas
O fisioterapeuta salienta sobre a importância de alternar as mamas durante a amamentação, garantindo assim que o bebê não desenvolva uma postura viciosa de um só lado do pescoço por ser aumentado sempre em uma mesma posição. “São sinais de alerta quando o bebê prefere por uma só mama, ficando preso sempre a uma mesma posição para conseguir realizar a pega”.

Estímulos visuais no berço
Outro ponto importante também na prevenção, quanto no tratamento, é mudar o posicionamento dos móveis ou dos estímulos visuais que ficam no quarto do bebê. Se, por exemplo, só existir estímulo visual de um dos lados do berço ou onde o bebê costuma ficar mais tempo, ele terá a tendência a ficar com a cabeça inclinada muito mais tempo ou só para este lado enquanto estiver deitado. Sendo assim o fisioterapeuta, orienta os pais a trocar os pontos de atenção de lugar e se necessário mudar inclusive o berço de lugar para que o bebê não desenvolva uma postura errada o que pode resultar em um torcicolo congênito.

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