Tragédia

Menino morre eletrocutado por fio desencapado

Segundo relatos, Nicolas foi a terceira criança a encostar no local eletrificado

Foto: Carlos Queiroz - DP - Menino recebeu descarga elétrica ao encostar em barra de ferro

Por Anete Poll
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A morte do menino Nicolas Iran da Costa Rocha, de oito anos, eletrocutado, causou grande comoção em Pelotas. Vítima de uma descarga elétrica após se encostar em uma tela da quadra de esportes do condomínio onde morava, na avenida Domingos de Almeida, na noite de terça-feira (17), a criança foi a terceira a receber um choque no local, mas a única a não resistir à intensidade.

“Há uma barra de ferro, usada por um dos moradores do condomínio para manobras de skate. O meu filho estava jogando futebol e foi sentar na barra para descansar. Ele foi o primeiro a receber a descarga elétrica. Assim que isso aconteceu ele saiu gritando que tinha levado um choque. Em seguida, outra menina também acabou tomando um choque ao sentar na barra. O terceiro a receber a descarga elétrica foi o Nicolas. Um adolescente que também estava na quadra, correu até ele e o puxou, também recebendo uma descarga elétrica”, conta Wagner Hernande de Oliveira, pai de João, também de oito anos, que estava na quadra.

Conforme Oliveira, assim que Nicolas recebeu a descarga mais forte outras crianças saíram correndo até a portaria para avisar e entraram no salão de festas onde ocorria uma reunião dos condôminos com a síndica. “As crianças entraram no salão gritando que o Nicolas estava caído ao chão. Uma das mulheres presentes, que é enfermeira, saiu correndo para socorrer e iniciou os primeiros socorros”, conta. O morador diz ter chegado ao condomínio minutos depois. “A mãe do meu filho ligou, dizendo que o João e o Nicolas tinham recebido um choque. Chegando lá, conversei com o pessoal e fiquei sabendo que o marido da síndica, que assumiu há pouco tempo, pediu para que o zelador mexesse no refletor da quadra. Ele tirou os fios que ficaram desencapados. Parece que não tinha fita isolante e por isso apenas enrolou os fios.”

Enquanto isso, a quadra foi liberada e as crianças entraram para brincar como fazem todos os dias. “Ninguém sabe dizer o que aconteceu, se o fio caiu com o vento, se a bola bateu e soltou. Acredito que o Nicolas recebeu a descarga maior por sentar na barra de ferro e encostar as costas suadas na tela”, lamenta Oliveira.

Um menino carinhoso
Abalado diante da morte do menino, Oliveira também se diz aliviado por João estar vivo. “O João e o Nicolas cresceram juntos. Um menino dócil, carinhoso, amigo. Perdeu a vida por um ato de irresponsabilidade. Foi um descaso que levou a vida de uma criança. Poderia ter sido uma tragédia bem maior. Eu poderia ter enterrado meu filho também e outras famílias poderiam ter enterrado seus filhos. Não podemos deixar esse descaso impune. Que o Nicolas não se torne apenas assunto de mais uma morte”, diz.

O morador reclama que a quadra do condomínio tem estrutura precária, defasada, com telas de arame soltos. “Sempre se falou sobre os perigos dessa quadra e nunca se tomou uma única atitude. Agora morreu uma criança.” Ele avalia como descaso o fato de não se ter providenciado uma fita isolante capaz de garantir a segurança dos menores ao usar o espaço de recreação. Oliveira afirma que, na mesma noite, entrou em contato com a CEEE Grupo Equatorial, que imediatamente deslocou uma equipe até o local, mesmo que não fosse de responsabilidade do grupo, pois o ocorrido foi e área interna de um condomínio privado.

Na quinta, os pais de Nicolas permaneciam em choque, assim como toda família. E os vizinhos do condomínio, revoltados. “Era um menino que todas as crianças gostavam de brincar com ele. Era uma criança que tinha uma vida inteira pela frente e que não merecia nada disso”, resume Oliveira.

A família
Familiar de Nicolas, Paulo Cezar Rocha disse que por enquanto nada será feito. “Estamos indo devagar, mesmo porque os pais estão arrasados e sem condições psicológicas para nada. Iremos mais tarde até a polícia, até mesmo para ver como está a situação”, diz o primo do menino. “A cancha é toda errada. Todos sabem disso há mais de dez anos. A tela ainda é de arame. Os refletores ficam pendurados na tela, o disjuntor está ao alcance de qualquer criança. Quem fez o serviço elétrico é um jardineiro, que nem teve noção de isolar. Quem o mandou executar o serviço é pior ainda.”

A síndica
A síndica do condomínio, Mariani da Silva Einhardt, não quis conversar com a reportagem. Disse apenas que tudo já havia sido esclarecido. Conforme apurou o DP, em relato à polícia ela informou que estava em uma assembleia de condomínio quando crianças entraram correndo, gritando que Nicolas estava caído ao chão e que, ao chegar na quadra, o menino estava no chão e ainda respirava. Disse ainda que uma moradora realizou massagem cardíaca e havia parado porque ele reagiu.

Sobre a situação, ressaltou aos policiais que pediu ao zelador que fizesse levantamento de tudo na quadra, pois os moradores estavam reclamando que refletores não estavam funcionando, tendo sido retirado um para manutenção. Segundo ela, o zelador foi contratado pelo antigo administrador por um salário superior, pois teria conhecimento em elétrica e hidráulica.​

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