Seca

Estiagem volta à região e soluções continuam paliativas

Doze municípios da Zona Sul já decretaram situação de emergência nos últimos dias

Foto: reprodução Pedro Stein - DP - Apesar de estiagem ser recorrente, impactos na região são inéditos

Por Douglas Dutra
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A história se repete. Mais um ano começa em meio ao calor intenso e à falta de chuvas no Rio Grande do Sul. As chuvas, que quando vêm são escassas, não são suficientes garantir a produção nas lavouras e os prejuízos milionários começam a se acumular nos municípios da região sul, em que a agricultura tem um papel fundamental na economia. Em 2023, o cenário, que já era previsível pela persistência do fenômeno La Niña, chegou ainda mais cedo, logo no começo de janeiro, e a situação preocupante já dava as caras em dezembro. O que reforça a falta de agilidade em soluções que reduzam impactos.

Segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, 92 municípios já noticiaram a declaração de Situação de Emergência pela estiagem. Na Zona Sul, 12 dos 22 municípios já emitiram decretos: Arroio do Padre, Arroio Grande, Canguçu, Candiota, Herval, Morro Redondo, Pedras Altas, Pedro Osório, Pinheiro Machado, Piratini, São Lourenço do Sul e São José do Norte.

Na segunda-feira, em reunião da Azonasul, a Emater apontou que as perdas já passam de R$ 541 milhões em nove municípios, e que o prejuízo pode passar de R$ 1 bilhão nas próximas semanas, caso as precipitações continuem raras.

Região tem prejuízos inéditos
Em Herval, primeiro município da região a decretar situação de emergência, ainda em dezembro, as perdas dessa estiagem já chegam a R$ 80 milhões. "Bebedouros e até açudes que nunca tinham secado, hoje estão secos", relata o secretário de Agropecuária e Desenvolvimento Valmir Miliorança. "É o ano mais seco dos últimos 15 anos", explica.

Na avaliação de Miliorança, a demora na liberação de recursos impediu que medidas fossem adotadas para amenizar futuras estiagens. "Talvez o município de Herval é o que mais focou no armazenamento de água, projetos de açudagem. A gente buscou muitos projetos e alguns não foram concluídos. Duas cadeias que teriam que trabalhar um pouquinho mais rápido: a liberação de recursos e sensibilizar os órgãos públicos para a liberação de licenciamentos", aponta, referindo-se a apoios dos governos estadual e federal.

Em Piratini, a situação não é diferente. O agricultor Pedro Stein já lamenta as perdas em sua propriedade, no 2º Distrito do município. "Açudes em lugares que a gente nunca viu secar, secaram", relata. Pelas redes sociais, o agricultor compartilha as cenas da falta de água. "Hoje não tive como segurar a emoção ao ver a vaca vindo tomar os últimos litros de água de um dos reservatórios", escreveu.

Para amenizar os impactos no futuro, Stein sugere a construção de mais poços artesianos nas propriedades para que as pessoas não fiquem sem água. "Já a questão de armazenamento, tem que ter um estudo. Acho que alguns mananciais que eles proíbem de fazer armazenamento de água, tem que fazer", sugere.

Emater acompanha situação
O gerente regional adjunto da Emater em Pelotas, Jair Seidel, explica que entre os fatores que potencializam a seca estão o La Niña e a distribuição irregular das chuvas. "Às vezes há uma concentração torrencial de chuva e depois passa alguns meses sem chover." Segundo ele, o problema começou ainda na primavera, quando as chuvas não foram suficientes para o plantio de lavouras como soja e milho.

Segundo levantamento da Emater na região, em 18 anos, nove tiveram estiagem. Para Seidel, é preciso que o poder público encare a irrigação na região sul como uma prioridade. "Pequenos e microaçudes não resistem à estiagem, acaba a água e não resolve nada. É preciso que açudes maiores, e mesmo barragens, que possam acumular um volume maior de água e suportar uma seca", aponta.

Um dos caminhos indicados por Seidel para projetos de irrigação em propriedades menores é a busca por recursos internacionais. "Existem fontes capazes de financiar esse tipo de projeto, ele é atrativo, inclusive em termos ambientais."

Estado criará novo plano de enfrentamento à estiagem
Na terça-feira, o governo do Estado estabeleceu Estado de Atenção devido à estiagem, prevendo medidas de acompanhamento da situação no Rio Grande do Sul. Já na quarta, em reunião do Fórum Permanente de Combate à Estiagem, o secretário da Casa Civil, Artur Lemos, disse que será criado um plano atualizado de enfrentamento, sem dar prazos.

"Alguns pontos prioritários levados em conta para elaborar o novo plano é o combate à fome e ao desabastecimento de água, assim como a distribuição de cestas básicas e a aquisição, por parte do governo, de produtos da agricultura familiar em cestas básicas, para fomentar a produção das famílias do campo", explicou Lemos.

À reportagem, a Casa Civil apontou ações realizadas após estiagens passadas, como o pagamento de auxílio de R$ 1 mil a famílias de pequenos agricultores, construção de cisternas, ampliação do número de caminhões-pipa, financiamento com juros subsidiados e renegociação de dívidas. Quando perguntada sobre ações permanentes, visando o longo prazo, a resposta é que foram executados 572 microaçudes e 513 poços para reservatório com apoio do governo, e que novos convênios nesse sentido estão sendo firmados.

Já dentro do programa Avançar, o Estado destaca o investimento de R$ 320 milhões entre 2022 e 2023 em ações e projetos para reduzir o impacto da seca.​

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